The Conversation
Por – Steve Taylor – Senior Lecturer in Psychology, Leeds Beckett University
Muitos de nós já testemunhamos comportamentos incomuns e até antissociais em um aeroporto ou durante um voo. Eles podem variar de atos inofensivos, como dormir no chão ou fazer ioga em frente a telas de informações, a incidentes sérios, como discussões em meio a bêbados. Ou, ainda – e pior -, tentativas de abrir as portas do avião em pleno voo.
Situações extremas no ar pioraram nos últimos anos, em muitos casos forçando o desvio de aviões. Para resolver isso, muitas vozes sugerem reduzir – ou mesmo proibir – a venda de bebida alcoólica em aeroportos e nas aeronaves comerciais. A RyanAir (irlandesa) já solicitou que o número dessas bebidas permitidas para consumo nos bares dos aeroportos seja limitado a duas por pessoa para evitar incidentes causados por embriaguez.
Mas será que a culpa é do álcool? Ou há algo nos aeroportos que nos faz ter um comportamento diferente? Vamos dar uma olhada no que diz a psicologia.
Expectativas, estresse e ansiedade
Muitos turistas prestes a viajar sentem que sua aventura começa no aeroporto, o que os faz chegar lá com um estado de espírito diferente do habitual, ansiosos para começar dias de hedonismo e relaxamento. No outro extremo, algumas pessoas sentem ansiedade ao voar, o que pode levá-las a agir de forma agressiva.
O barulho e a multidão também não ajudam. Como revelam estudos recentes em psicologia ambiental, os seres humanos são muito sensíveis ao ambiente imediato e podem facilmente se sentir sobrecarregados por fatores estressantes, como multidões e ruídos excessivos.
Estresse e ansiedade causam irritabilidade, tanto temporária quanto permanentemente, o que nos torna mais propensos a ficar com raiva e a ter explosões de fúria.
Na terra de ninguém
Na minha opinião, também deveríamos considerar o aeroporto a partir de uma perspectiva psicogeográfica, ou seja, levando em conta o efeito dos lugares nas emoções e no comportamento das pessoas, principalmente em ambientes urbanos.
Nas culturas celtas, fala-se de “lugares estreitos” para se referir a florestas ou bosques sagrados onde a linha divisória entre o mundo material e o espiritual é muito, muito tênue. Nos lugares mais “estreitos”, estamos entre dois reinos – nem completamente em um, nem completamente no outro.
No mundo tecnológico moderno, os aeroportos também podem ser vistos assim, como zonas onde os limites se confundem. Entre outras coisas, porque as fronteiras nacionais literalmente se dissolvem. Depois de passarmos pela segurança, entramos em uma terra de ninguém entre países. O conceito de lugar, portanto, torna-se indistinto.
Da mesma forma, a ideia de tempo é diluída. Quando embarcamos em um avião, nos encontramos em um espaço limítrofe entre dois fusos horários, prestes a saltar para a frente no calendário ou até mesmo retornar ao passado. Alguns voos nos Estados Unidos, como os de Atlanta para o Alabama, pousam antes do horário de partida do lugar de origem. Perder o controle sobre o tempo pode se tornar outra fonte de ansiedade.
Devido à imprecisão do tempo e do espaço, os aeroportos podem criar uma sensação de desorientação. Afinal, sabemos quem somos em relação às nossas rotinas diárias e aos nossos ambientes familiares. E também nos definimos em termos de nacionalidade. Sem esses marcadores, podemos nos sentir à deriva, e essa desorientação temporal pode ter efeitos prejudiciais.
Olhando para o futuro
Em outro sentido, os aeroportos são uma zona onde o momento presente não é bem-vindo. A atenção de todos se volta para o futuro, para seus voos e para as aventuras que os aguardam quando chegarem ao destino. Esse foco intenso no futuro muitas vezes leva à frustração, especialmente se os voos atrasarem.
Os limites pessoais também se tornam fluidos. Além do comportamento antissocial, os aeroportos podem abrigar ‘surtos’ de sociabilidade, em que estranhos compartilham seus planos de viagem e férias, falando com uma intimidade incomum. Na terra de ninguém, as inibições sociais normais não se aplicam. E o álcool pode lubrificar ainda mais essa coesão.
Efeitos libertadores
O lado positivo é que tudo isso pode ter um efeito libertador para alguns de nós. Como ressalto no meu livro Time Expansion Experiences (Experiências de expansão do tempo), normalmente vemos o passar das horas como um inimigo que rouba momentos de nossas vidas e nos oprime com prazos. Então, às vezes, sair dessa situação é uma experiência equivalente a sair de uma prisão.
O mesmo se aplica à identidade. Um senso de identidade é importante para nossa saúde psicológica, mas pode ser limitante. Como atores forçados a interpretar o mesmo personagem em uma novela semana após semana, gostamos da segurança de nossos papéis, mas ansiamos por testar e desafiar a nós mesmos. Então, escapar de nossas rotinas e ambientes habituais é estimulante. O ideal é que a liberdade que começa no aeroporto continue durante nossas aventuras no destino.
Contudo, é melhor que seja uma liberdade sóbria. De acordo com as teorias do psicanalista Sigmund Freud, o que acontece conosco nos aeroportos pode ser interpretado como uma mudança do nosso ego civilizado para a parte primitiva e instintiva da psique, que Freud chamou de id, onde nossos desejos e impulsos estão localizados, e que exige gratificação instantânea.
Fora das restrições normais, alguns turistas deixam que o ego se expresse assim que passam pelo posto de controle de segurança. E, se eles ficarem bêbados, essa identidade egóica provavelmente causará estragos.
Proibir álcool em aeroportos pode parecer exagero. Mas como há tantos fatores que incentivam o comportamento antissocial, é difícil pensar em outra solução. Em uma situação em que as fronteiras são confusas, o que pode levar ao caos, estabelecer um limite legal pode ser a única esperança.