Parte 1
Por Marilda Ferreira Guimarães
O mês de janeiro é para muitos um momento de tomada de decisões na definição da escolha profissional e de uma futura carreira. Após o resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), é a porta de entrada no ensino superior para muitos, sendo o primeiro passo para a jornada da formação acadêmica. Os números são impressionantes: Em 2023, segundo dados do Ministério da Educação (MEC), foram mais de duzentas mil vagas nas instituições públicas brasileiras, distribuídas em seis mil e quatrocentos cursos.
Em meio a esse número, o candidato se assemelha a um neutrino, tão pequeno, tão ínfimo no sem fim de possibilidades apresentadas. No passado a opção do curso superior era feita no ato da inscrição do candidato no vestibular, hoje, com o Enem, a escolha é posterior a publicação das notas, em uma maratona que dura mais que desfile de escola de samba – são setenta e duas horas, migrando entre cursos e universidades, entrando e saindo da linha de corte, em dias e noites de agonia. Desde a criação pelo Governo Federal do Sisu, Portaria Normativa nº 2, de 26 de janeiro de 2010, essa tem sido a forma predominante de acesso as instituições públicas de Ensino Superior em detrimento a forma descentralizada. Numa linguagem bem conhecida no Brasil, o Enem “pegou” e tornou-se para muitos jovens e adultos uma janela de oportunidades ímpar.
Mas como pular por essa janela e não cair em um precipício? Porque os números da evasão no Ensino Superior brasileiro são tão expressivos? O que ocorre no intervalo entre o ingresso na universidade e o abandono do curso?
Dentre vários fatores, que vão desde a questão socioeconômica, que dificultam a permanência do estudante no curso, até a falta de identificação com a área escolhida. É sobre a segunda causa que iremos discorrer nesse texto. O conhecimento mais aprofundado acerca da profissão a ser escolhida, carreira e também sobre o mundo do trabalho, pode evitar essa “disruptura acadêmica”. A seguir algumas informações relevantes nesse contexto.
Bacharel, Tecnólogo ou Licenciado
Iniciando, vamos discorrer sobre a estrutura básica dos cursos ofertados pelas Instituições de Ensino Superior brasileiras, que são divididos entre Bacharelado, Tecnologia e Licenciatura. Bacharéis são os graduados em cursos de Bacharelado, cujo nome tem origem eclesiástica, pois no momento da formatura, o graduando recebia uma coroa de louro, com folhas e bagas, passando a ser denominado bacca laureatus, e daí o termo bacharel. A duração média do curso é de quatro anos. Contudo, existem cursos que podem durar de 3 a 6 anos.
Os cursos de tecnologia, são mais recentes, surgiram para suprir demanda de áreas específicas. Começaram a surgir nas décadas de 60/70 e após muitos obstáculos para serem reconhecidos como cursos superiores, foi apresentado em 17 de outubro de 2007, o Projeto de Lei n° 2245/2007 no qual se propôs a regulamentação da profissão de Tecnólogo. Infelizmente, o PL 2245/2007, ainda se encontra em tramitação na Câmara dos Deputados. Posteriormente, será encaminhado ao Senado Federal e, caso aprovado, venha, finalmente, a ser publicado, regulamentando assim a profissão. O MEC distribuiu os cursos de tecnólogo em 13 grandes áreas do conhecimento, denominadas “eixos tecnológicos” – Ambiente e Saúde, Controle e Processos Industriais, Desenvolvimento Educacional e Social, Gestão e Negócios, Informação e Comunicação, Infraestrutura, Militar, Produção Alimentícia, Produção Cultural e Design, Produção Industrial, Recursos Naturais, Segurança e Turismo, Hospitalidade e Lazer. Essa modalidade ocupa uma parcela menor do que o Bacharelado e a Licenciatura, contudo não deixa de ter números expressivos no ensino superior.
Já o termo licenciatura está associado a licença, permissão. Aquele que é licenciado tem a permissão para exercer a profissão de professor. O egresso do curso de licenciatura poderá ministrar aulas no ensino fundamental, médio e profissionalizante, conforme a área do conhecimento. A duração média dos cursos de licenciatura é de 4 anos, podendo variar entre 3 a 5 anos.
Um novo olhar para o bacharelado – O Bacharelado Interdisciplinar – BI
Em 2007, o Governo Federal, no âmbito do Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, por meio da Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – REUNI, com o objetivo de ampliar o acesso e a permanência na educação superior, fomentou que as Instituições de Ensino Superior, passassem a ofertar os Bacharelados Interdisciplinares, BI’s, nas diversas áreas do conhecimento. Na Universidade Federal da Bahia – UFBA, por exemplo, são ofertados quatro cursos de BI, todos eles com carga horária total de 2.400 horas e duração mínima de 3 anos: Artes, Ciências e Tecnologia, Saúde e Humanidades. São cursos de curta duração e com terminalidade, o aluno sai com uma formação podendo ingressar no mundo do trabalho. A princípio a vantagens de cursar um BI é não precisar definir o curso que você vai seguir no momento de ingressar na universidade, ser um curso mais versátil e dinâmico. A desvantagem é a oferta de vagas no mercado de trabalho para profissionais com essa formação que ainda não é compatível com a modalidade.
Do livro: Profissões em Órbita, no prelo.
Por: Marilda Ferreira Guimaraes
Engenheira Civil – CREA n° 29.293-D
Mestre em Engenharia Ambiental Urbana
Professora da Rede Federal de Ensino