Por Ildo Simões
Alguém pode me dizer pra que serve marido? Se estiver pensando em dizer que é praquilo, pode tirar o cavalinho da chuva porque praquilo servem também o amante, o amigo, o desconhecido folião no carnaval e outros menos votados. Estou perguntando pra que serve o marido de carteirinha.
Pra começo de conversa, marido é sempre um Ex. Ex-noivo ou namorado, ex-marido, ex-viúvo ex – amante que se cansou da própria condição de amante e se refestela na condição de marido.
Um belo dia chega, sorrateiramente, com a conversa de cerca-lourenço, oferece um saco de pipoca pra sua filha caçula, geralmente quando a mais velha está por perto e acha o gesto de uma nobreza sem fim. Está frita e de recibo passado.
Em outra ocasião, fica plantado, estrategicamente, na fila e oferece o lugar sempre de olho na prenda. Até que um dia se declara. Usando uma linguagem atual, um dia fica.
E fica mais que nas outras situações porque começa a freqüentar a casa e zap, de premeditada surpresa, aparece com um anel de compromisso e, automaticamente, se convida a quase morar em casa, passando longos fins de semana que geralmente começam às quintas e acabam no domingo depois da feijoada e do futebol.
Lá pras tantas com igreja e juiz ou sem a presença de um dos dois ou, às vezes, com a ausência dos dois, aparece casado e vestido na capa de marido. Aí começa a tragédia. Mulher e sogra passam a ser conhecidas por pseudônimos.
A primeira começa como minha santa espousa, minha senhoura até cair a máscara, o comportamento de gentleman, e o meu benzinho vira a federal, a bruaca, a beque central.
A sogra, coitada, tem apelidos de A a Z . Se é gorda, passa a ser chamada de sogrinha e quando, com seus 120 quilos, encara um espelho é que sente a dose de ironia que vinha na suposta mensagem carinhosa.
Marido está sempre aprontando. Tem um sentido de propriedade como se tivesse tratando de um latifúndio: tudo é meu ou minha. Minha esposa, minha companheira e, às vezes, baixa o nível e começa a chamar a sua suposta propriedade de minha mulé, num despropósito sem tamanho.
Fico aqui a pensar que das três pragas da humanidade (piolho, sarna e marido) Deus me poupou da última. Acho que Deus é machista. O que é de bom ficou pros home. Pras mulé, as sobras. Vou ter que encarar São Pedro quando passar desta pra melhor e ser mais uma de suas concubinas….
Maria das Dores, solteira, 40 anos, quilômetros rodados: zero. Aceita propostas pra marido quaisquer que sejam suas intenções…. mesmo que seja pra saber o gosto…daquilo.