Por André Andrade
A música, embora não faça parte necessariamente das clássicas do carnaval soteropolitano, e com uma pequena alteração para o sentido de nosso texto, traz um sentimento que parece invadir as ruas e muitas das mentes baianas nesse período do ano.
Falar de amor é sempre algo muito bonito, mas na realidade o que parece que invade não é bem a busca pelo amor, mas sim algo muito mais ligado ao lado carnal, que se vê aos montes no feriado religioso. Tudo dentro da nossa mistura de sagrado com profano, e que nesta época fica muito mais próxima do segundo.
Quem já foi na nossa tradicional festa de rua com certeza já viu as mais diversas cenas, de famílias curtindo juntas ao som da nossa música, a outras em locais não tão escondidos com as calças abaixadas “conversando” ou com uma pessoa ajoelhada em sua frente com a boca ocupada…
Deixo claro que aqui não se pretende fazer qualquer crítica ao nosso carnaval, justa ou injusta que seja, mas sim levar uma lente de reflexão para o ser humano e talvez fazer o(a) ilustre leitor(a) refletir um pouco.
Esquecendo os solteiros, que caso queiram, merecem efetivamente aproveitar todos os aspectos mais profanos da festa (embora alguns possam eventualmente chocar a eles mesmos quando voltarem à memória), trago nossa vista para os comprometidos em todas as milhares de formas de relacionamentos. Quem nunca ouviu falar ou até viu na rua um conhecido(a) comprometido(a) se engajando nas atividades libidinosas da festa de rua com pessoas que não os seus companheiros?
A cobertura televisiva, obviamente não da principal emissora do país que se esforça ao máximo para ignorar o carnaval baiano, já fez o trabalho de sem intenção mostrar aos surpresos (ou não) parceiros seus companheiros se agarrando com outras ou outros em plena transmissão televisiva. Obviamente que em tempos de redes sociais e celulares com câmeras os “flagras” se intensificam, gerando até descobertas posteriores, como a de que a aquela mulher linda que você ficou (com todas as imagens registradas pelos amigos para a edição posterior do vídeo, obviamente), na realidade é uma mulher trans (sem qualquer tipo de julgamento acerca de ser uma surpresa boa, ruim ou simplesmente irrelevante).
E mais ainda, quem nunca ouviu de um conhecido(a) que apesar de não se engajar diretamente gostaria efetivamente de o estar fazendo, faltando apenas a coragem, mas sem qualquer outro tipo de filtro? Não pretendo ser puritano ou julgar as pessoas, efetivamente relacionamentos são extremamente complexos e as traições muitas vezes perpassam por processos muito menos simples do que podem parecer. Apesar disso, fico com uma pergunta sobre nossa aparente natureza humana: Porque somos tão imediatistas?
Na minha profissão ( sou advogado) acabo lidando com vários casos que envolvem traição e posso dizer com segurança que boa parte das vezes eles envolvem muita culpa e sofrimento dos dois lados e em vários casos um sincero arrependimento, nem que seja pela forma que as coisas se deram.
Nenhum problema quando se tem um arranjo mais aberto (soube recentemente por uma matéria que nossa cidade possui inclusive alguns estabelecimentos especializados para os que tem uma mente mais aberta), ou até quando não se quer mais um relacionamento e se decide terminá-lo para viver novas aventuras.
Confesso, porém, deixando um pouco de lado a visão do lado mais profano da vida, que é triste perceber que o ser humano muitas vezes deixa de lado sentimentos profundos e duradouros, por uma faísca momentânea que via de regra não traz qualquer satisfação real ou que dure alguns minutos a mais para além do ato em si.
Parece que não saímos da fase infantil e apesar de já se ter o que é mais importante e que realmente te satisfaz, se faz birra e vai atrás de um outro brinquedo novo que nem se quer de verdade, deixando para trás algo que pode ser verdadeiramente precioso e importante.
Por isso, convido quem chegou até aqui a refletir, o que é realmente importante pra você? Será que já não encontramos nosso pote de ouro no fim do arco-íris e simplesmente não conseguimos enxergar o tesouro por trás de algumas camadas de sujeira trazidas pelas dificuldades do dia-a-dia?
Por fim, fica o desejo sincero que o leitor(a) não tenha percebido que teve o verdadeiro tesouro em suas mãos depois de o ter perdido…