Doris me convidou para colaborar no seu necessário novo site.
Falou dele. Falou de balbúrdia.
A palavra balbúrdia trouxe boas e más lembranças.
Recordou os ataques às universidades cometidos por um ex-ministro da educação.
Rememorou a corajosa resistência da UFBA e seu então reitor, João Carlos Salles.
Somos balbúrdia.
Somos balbúrdia contra a barbárie.
Somos balbúrdia contra o silêncio de cemitérios.
Adorei (re)visitar a balbúrdia.
O seu espaço no site se destina a fugir da zona de conforto.
Assim, Doris me explicou e alegrou.
De qual zona de conforto precisamos com urgência fugir nos dias que vivemos?
Nada se impõe com mais impacto que Gaza.
Ela está onipresente todos os dias.
Ela habita espaços simbólicos, que conformam nossa cotidiana atualidade.
Imagens brutais e inquietantes.
Mortes e mais mortes.
Crianças, mulheres, população civil.
Bombas e mais bombas destroem tudo.
Ambulâncias, hospitais, médicos, jornalistas, gente demasiadamente humana.
Terra arrasada.
Escombros, destroços, ruínas tomam Gaza e suas telas.
Mundo desumano torcido pela grande mídia, nacional e internacional.
Tentativas e mais tentativas de construir alguma zona de conforto.
Absurdos para fazer aceitar o desumano absurdo.
O genocídio escancarado inocentado sob o pretexto de direito de defesa.
Sob o pretexto de resposta legítima ao ato de terror do Hamas.
Assassinatos e mais assassinatos de inocentes.
Adorno escreveu que o dever da educação é não deixar a barbárie se repetir.
Ele escreveu depois dos campos de concentração, que mataram milhões.
Judeus, comunistas, homossexuais, ciganos, deficientes e muitos seres humanos mais.
A barbárie que agora mata palestinos todos os dias.
Pessoas e organizações humanas, que lidam com a mídia e a cultura, têm tal dever.
Não naturalizar a barbárie.
Não justificar qualquer barbárie.
Não acolher a barbárie em qualquer zona de conforto.
Caso ocorra, seremos todos cúmplices da barbárie e do genocídio do povo palestino.
Em 1964, Capinam poetizou o desconforto em seu incisivo poema Inquisitorial.
O que farias se fosses operário ou judeu no Terceiro Reich?
Felizmente, reconquistamos em 2023 a nossa frágil democracia.
Mas a inquisição do poeta continua contundente.
O risco da zona de conforto fabricada pela mídia é enorme.
Todos, como formiguinhas, temos que ajudar a corroer tal zona de conforto.
Ela busca justificar o injustificável: a barbárie.
A escolha balbúrdia ou barbárie é hoje desafio vital.
Seremos capazes de salvar nossa mínima condição de civilidade e de humanidade?