Ildo Simões p/Uraci/Regina
Casado na mocidade com nordestina de poucos améns, mudei-me pra Son Palo, mas só me cresceram mesmo os filhos, que embora já tenham me dado netos, continuam me pedindo mesada.
Fiz agora 50 anos de casado e os moleques com a concordância da mãe inventaram uma tal de Bodas.
Nunca sabendo que história era esta, porque conheço bode e cabra, mas bodas nunca ouvi falar.
Alugaram um clube de terceira no subúrbio, contrataram uma banda de música que só tinha mesmo um pistom e uma zabumba, diga-se de passagem, o referido instrumento de sopro parecia um berrante.
Encheram as mesas de cajuzinhos comprados nos camelôs da vizinhança, refresco de morango que nesta época sobra muito na feira e se esbaldaram até as oito horas da noite.
Tinha mais curiosos em torno da cerca do clube do que convidados.
Eu ali sentado, a mulé com um vestido comprado na feira do Brás e eu com um palitó caqui daqueles que que você solta na cadeira e ele continua armado como se estivesse vestido.
Lá pras tantas inventaram de cantar uma música meio desrespeitosa mas dizem aprendida com as modernagem: Parabéns pra você.
Se bem me lembro nunca chamei seu Chiquinho nem dona Maroca de VOCÊ, mas de Senhor e Senhora.
Cantaram a musiquinha meio desafinada, bateram palmas e cada convidado ou penetra ia se despedindo alegando que tinha que pegar o trem pro subúrbio, assumir o emprego de porteiro ou vigilante, faxineira, cozinheira, etc.
Os filhos inda me pediram um trocadinho pra pegar um taxi porque tinham vindo com a renca toda e dois já dormiam.
Oito horas da noite estavam eu e a mulé, com um monte de bugigangas ganhos de presente: meia marrom, bermuda marrom, camisa marrom, calçolão, combinação, camisola de dormir, e pasmem…sozinhos e ainda com alguns restos de contas a pagar.
Duas horas depois consegui chamar um carro de aluguel que paguei com o dinheiro das passagens de ônibus pra voltar e ainda tive que entregar o colar da mulher, comprado com o sacrifício de vinte anos de moedas guardadas num potinho de cabeceira.
Vida de idoso pobre é um cu de mula alinhavado a linha frouxa.