O pontapé inicial foi em 2001, com a abertura das bibliotecas em Soure e Alter do Chão (PA);
No ano seguinte, no Dia Internacional da Mulher, trio de educadoras iniciou uma expedição pelos nove estados da Amazônia para dar forma a uma das instituições mais premiadas do Brasil pelo incentivo à educação
Belezas são coisas acesas por dentro. Há 22 anos, a Associação Vaga Lume faz da leitura um instrumento para empoderar corações de crianças na Amazônia, território continental na qual a ONG atua. Essa trajetória começou em uma data simbólica: 8 de março de 2002, Dia Internacional da Mulher, movida pelo sonho de três jovens amigas, que juntas iniciaram uma expedição pelo Norte do país. De lá para cá, mais de 80 bibliotecas comunitárias foram semeadas em comunidades ribeirinhas, beiradeiras, rurais, quilombolas e indígenas em 22 municípios, em um trabalho coletivo que faz da instituição uma das mais premiadas do Brasil. E há tanto pela frente.
Em 2024, mais de 14 mil livros serão distribuídos para os espaços de leitura implantados e apoiados pelo projeto, que trabalha para o fortalecimento da cidadania por meio do incentivo à leitura na Amazônia Legal, que possui apenas 13% das bibliotecas públicas brasileiras. Gigante, a região cobre 58,9% do Brasil e é o lar de 28,1 milhões de brasileiros. Dentro desse território, fundamental para a vida, está a maior floresta tropical do mundo e, também, a maior provedora de água doce do planeta. Ao mesmo tempo, concentra grandes desafios. Os dez municípios com os piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) estão na região Norte e 20% de sua população é analfabeta funcional.
“A Amazônia é uma região com desafios gigantes, alvo de muitas tensões sociais e ambientais, e que atrai grupos que a veem como campo de exploração, e não propõem soluções. Nessa mesma região, há pessoas com potencial de transformação, de absorver as oportunidades, de criar e reinventar as coisas. É um paradoxo? É, mas eu continuo apostando. Acredito que as pessoas da região são as únicas que vão conseguir realmente equacionar essa solução para todos nós”, diz Sylvia Guimarães, cofundadora e presidente da Vaga Lume.
Em mais de duas décadas de trabalho, a ONG já distribuiu 163 mil livros, implantou 95 bibliotecas e formou mais de 5 mil mediadores de leitura, voluntários que leem para as comunidades – trabalho esse que já impactou a vida de 109 mil crianças e jovens. O seu propósito é incentivar, por meio da leitura, a formação de pessoas mais engajadas na transformação de suas realidades.
Para este ano, além de milhares de livros distribuídos, uma série de outras iniciativas está prevista, como a abertura de quatro bibliotecas; a doação de mais de 20 estantes, mobílias e esteiras para os espaços de leitura; a realização de cursos de formação presenciais para novas bibliotecas comunitárias e oficinas de produção de livros artesanais; e a promoção de intercâmbios com outo escolas e organizações sociais de São Paulo e oito comunidades com bibliotecas da Vaga Lume. O trabalho coletivo irá impactar cerca de 14 mil crianças e adolescentes.
Sonhadoras
Mulheres movidas a sonhos. Onde eles as podem levar? No desejo de conhecer o Brasil para além das cidades, as amigas Sylvia Guimarães, Laís Fleury e Maria Teresa “Fofa” Meinberg, saíram de São Paulo rumo à maior região do Brasil, a Amazônia. Jovens educadoras, elas tinham o propósito de aprender e compartilhar, e foi aí que tiveram a ideia de levar livros e formar mediadores de leitura pelos lugares onde passassem.
Então, em 2001, partiram para implementar um projeto piloto em municípios do Pará. A ação foi tão bem aceita pelas comunidades que, em 2002, elas fizeram uma viagem de nove meses por todos os estados da Amazônia Legal brasileira, levando livros e formações por 53 comunidades rurais.
Quando voltaram para São Paulo, onde ficava a pequena sala que haviam alugado para ser o escritório do projeto, elas encontraram muitas cartas pedindo para que voltassem, pois havia muitas outras comunidades querendo bibliotecas e pessoas querendo formações. Assim nasceu a Vaga Lume.
“A ONG começou como um sonho, como uma aposta na promoção da leitura como essa estratégia de transformação social. A educação é um investimento de longo prazo. É muito gratificante ver que a gente plantou sementes, as comunidades cuidaram, regaram e hoje a gente tem árvores que dão frutos, que são os mediadores de leitura, que antes eram crianças das bibliotecas, cresceram com esses espaços de leitura e hoje estão à frente dos trabalhos das bibliotecas e também ocupando outros espaços, indo para o ensino superior e atuando na vida acadêmica”, diz Sylvia Guimarães uma das fundadoras e presidente da Vaga Lume.
Sobre a Vaga Lume
Criada há 22 anos, a Vaga Lume está presente em 22 municípios da Amazônia Legal com 95 bibliotecas comunitárias. Desde 2001 já doou 163 mil livros e formou mais de 5 mil mediadores de leitura, voluntários que leem para as crianças, trabalho esse que já impactou a vida de 109 mil crianças e jovens. O seu propósito é empoderar crianças e jovens de comunidades rurais da Amazônia por meio da leitura e da gestão de bibliotecas comunitárias, promovendo intercâmbios culturais com a leitura, a escrita e a oralidade para ajudar a formar pessoas mais engajadas na transformação de suas realidades.
Em 2023, a Associação Vaga Lume foi eleita pela terceira vez, sendo duas consecutivas, a Melhor ONG de Educação do Brasil pelo Prêmio Melhores ONGs do Instituto Doar. No mesmo ano foi contemplada pelo novo prêmio United Earth Amazônia, na categoria ESG, da sigla em inglês Environmental, Social, and Corporate Governance (Ambiental, Social e Governança) e, também, foi uma das organizações selecionadas em todo o mundo para receber uma doação da filantropa MacKenzie Scott. Em 2022 foi vencedora do Prêmio Jabuti na categoria Fomento à Leitura. Conheça o mini documentário Vaga Lume no YouTube e acesse o site da associação.