O anúncio dos vencedores nas categorias prosa, para o livro Caminhando com os mortos de Micheliny Verunschk (Companhia das Letas, Brasil), e poesia, atribuído a Uma colheita de silêncios, de Nuno Júdice (Dom Quixote, Portugal), foi feito na noite desta quinta-feira, dia 5, na Sala Itaú Cultural.
Caminhando com os mortos é o segundo livro do projeto que a autora denomina Tetralogia do mato – o primeiro é O som do rugido da onça, que ficou em terceiro lugar do Prêmio Oceanos em 2022. O romance trata das consequências do fundamentalismo religioso, que envolvem preconceito, violência e misoginia, ao mesmo tempo em que vê no “mato” uma fresta de esperança.
Uma colheita de silêncios, último livro de Nuno Júdice, expressa a melancolia frente à passagem do tempo e a ternura em relação àquilo que é indelével: a memória. O poeta faleceu este ano, após o livro ter sido inscrito no Oceanos e distribuído entre os jurados que tinham a missão de avaliá-lo. Assim, por regulamento, “Uma colheita de silêncios” continuou a concorrer. Júdice é um dos poetas portugueses com maior reconhecimento internacional.
Com direção artística de Romulo Fróes e direção executiva de Ana Cunha e Marise Hansen, a cerimônia foi aberta pelo superintendente do Itaú Cultural, Jader Rosa, e conduzido por Selma Caetano, coordenadora do prêmio e diretora da Oceanos Cultura, e pelo curador no Brasil, Manuel da Costa Pinto,
A festa também homenageou os 10 autores finalistas desta edição que, segundo Costa Pinto, podem ser considerados vencedores, uma vez que foram selecionados entre quase três mil livros concorrentes, passaram por três difíceis etapas classificatórias, vencendo uma árdua batalha até chegar à lista de finalistas.
Três músicos, Romulo Fróes, Luiza Brina e Rodrigo Campos, cantaram canções baseadas nos livros finalistas, compostas por Fróes, especialmente para a noite, a partir de trechos e poemas selecionados de cada livro finalista.
Selma Caetano destacou a relação entre poesia e letra de canção, que tem forte tradição no Brasil. Os artistas puderam comprovar que a poesia, quando entoada e acompanhada de melodia, se corporifica, potencializa o apelo aos sentidos e à sensibilidade, e resgata suas origens, ligadas à música.
A festa contou com representantes de instituições ligadas à leitura, ao livro e à literatura, como o Instituto Camões, a SP Leituras, a Biblioteca Mário de Andrade, a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, a organização social Poiesis, o Museu da Língua Portuguesa, o IMS – Instituto Moreira Salles, a CBL (Câmara Brasileira do Livro), a UBE (União Brasileira de Escritores).
Nomeando as instituições, os mestres de cerimônia mencionaram a necessidade de uma ação coletiva para mudar o quadro que se apresenta atualmente, o do Brasil como um “país de não-leitores”. Selma Caetano observou ainda que o fato de estarem ali, coesos, prestigiando um prêmio literário de língua portuguesa, demonstra que devemos unir a todos numa parceria para realizar uma ação conjunta de incentivo à leitura.
Jurandy Valença, diretor da Biblioteca Mário de Andrade, anunciou o livro vencedor de prosa, e Alexandra Pinho, diretora do Instituto Camões, anunciou o livro vencedor de poesia.
Os grandes homenageados da noite foram os 10 finalistas. Entre eles, estiveram presentes Airton Sousa, Juliana Krapp, Rodrigo Lobo Damasceno, João Silvério Trevisan e Micheliny Verunschk. A escritora portuguesa Hélia Correia, os cabo-verdianos Germano Almeida e José Luiz Tavares, e o moçambicano Álvaro Taruma não puderam comparecer, mas tiveram também seus livros apresentados em forma de canções.
Sobre os vencedores
PROSA: Caminhando com os mortos, de Micheliny Verunschk (Companhia das Letras).
Micheliny Verunschk – 1972, Pernambuco. Escritora e historiadora, venceu o Prêmio São Paulo de Literatura com Nossa Teresa: vida e morte de uma santa suicida (Patuá, 2014), foi duas vezes finalista do Prêmio Rio de Literatura, além de finalista do antigo Prêmio Portugal Telecom, hoje Prêmio Oceanos. Com O som do rugido da onça, ganhou o Prêmio Jabuti de romance literário, em 1922.
POESIA: Uma colheita de silêncios, de Nuno Júdice (Dom Quixote).
Nuno Júdice – 1949 (Mexilhoeira Grande) – 2024 (Lisboa). Ensaísta, poeta, ficcionista e professor universitário português. Licenciou-se em Filologia Românica pela Universidade de Lisboa e obteve o grau de Doutor pela Universidade Nova. Tem dezenas de obras publicadas em poesia, ficção, teatro e ensaio, com os quais angariou reconhecimento internacional. Poeta e ficcionista, a sua estreia literária deu-se com A Noção de Poema (1972). Em 1985 recebeu o Prémio Pen Clube e, em 1990, o Prémio D. Dinis da Casa de Mateus, entre outros. Júdice faleceu em 2024, após ter seu livro Uma colheita de silêncios inscrito no Prêmio Oceanos.
O prêmio
A curadoria do Prêmio Oceanos é de Matilde Santos, de Cabo Verde, João Fenhane, de Moçambique, Isabel Lucas, de Portugal, e Manuel da Costa Pinto, do Brasil, com coordenação geral de Selma Caetano.
A cada ano, o Oceanos vem recebendo mais inscrições, e de maior número de diferentes países. Ano a ano, novos recordes de inscrição são batidos tanto no Brasil, quanto em Portugal e nos países africanos, em especial Moçambique e Cabo-Verde, o que mostra não só a importância crescente do prêmio no calendário cultural internacional, como também o vigor literário da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. O histórico de inscrições do Prêmio de 2015 a 2023 está disponível no site: oceanosmapeamento.com.
O Oceanos é realizado via Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), pelo Ministério da Cultura, e conta com o patrocínio do Banco Itaú, da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas da República Portuguesa, o apoio do Itaú Cultural, da Biblioteca Nacional de Moçambique e do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde; e o apoio institucional da CPLP. O Prêmio Oceanos é administrado pela Associação Oceanos.