The Conversation
José Miguel Soriano del Castillo – Catedrático de Nutrición y Bromatología del Departamento de Medicina Preventiva y Salud Pública, Universitat de València
Carla Soler Quiles – Profesora de Tecnologìa de los Alimentos, Universitat de València
David Vie Giner – Técnico Superior de Investigación – Ciencia de los Materiales, Universitat de València
Nadia San Onofre Bernat – Assistant Professor, Faculty of Health Sciences, Universitat Oberta de Catalunya (UOC), UOC – Universitat Oberta de Catalunya
Com uma população mundial que pode chegar a 9,7 bilhões de pessoas até 2050, os sistemas alimentares estão enfrentando uma pressão cada vez maior para oferecer soluções sustentáveis e nutritivas. Nesse contexto, os insetos comestíveis estão ganhando destaque como uma alternativa viável às proteínas animais convencionais.
Embora tenham sido um alimento básico em muitas culturas durante séculos, seu ressurgimento atual reflete a necessidade de alternativas que equilibrem considerações ambientais, nutricionais e econômicas.
Benefícios ambientais e nutricionais
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) destacou os benefícios ambientais e nutricionais dos insetos comestíveis. Diferentemente das fontes tradicionais de proteína animal, eles exigem menos recursos para serem criados, emitem menos gases de efeito estufa e geram menos resíduos. Esse baixo impacto ambiental os posiciona como uma fonte importante para reduzir a pegada ecológica da produção de alimentos.
Além disso, seu alto teor de proteínas, vitaminas e minerais os torna uma opção interessante para o presente e o futuro.
Um setor em expansão
Isso explica por que o setor de insetos comestíveis teve um crescimento acelerado, com um volume de negócios estimado em mais de US$ 9 bilhões até 2029.
Mais de 400 empresas ativas na Europa e nos Estados Unidos estão liderando essa revolução alimentar. Países como a Austrália estão emergindo como protagonistas em sua produção, enquanto o México, onde 549 espécies comestíveis são reconhecidas, desempenha um papel de liderança na América Latina.
Na Europa, a regulamentação desse tipo de alimento avançou significativamente. Atualmente, quatro espécies são aprovadas para consumo humano: mealworm (Tenebrio molitor), migratory locust (Locusta migratoria), house cricket (Acheta domesticus) e dung beetle larvae (Alphitobius diaperinus). Disponíveis nas formas seca, congelada, em pó e em pasta, essas espécies abriram um novo mercado para alimentos sustentáveis.
Mas será que são seguras?
No entanto, esse boom também apresenta desafios. Não apenas a qualidade dos produtos de insetos é essencial para sua aceitação nos mercados globais, mas também a necessidade de controles minuciosos para evitar riscos físicos, químicos ou biológicos. Assim, nos últimos anos, a presença de parasitas, bactérias e vírus foi relatada em alguns desses alimentos.
Um estudo publicado recentemente por nosso grupo detectou a presença de metais pesados como arsênico, cádmio, chumbo, níquel e cobalto em vários produtos alimentícios à base de insetos comercializados online.
Embora a comercialização de insetos comestíveis seja regulamentada na UE, a contaminação pode ocorrer em três estágios diferentes:
- Desde a origem dos insetos. Dependendo de onde e como são criados, os insetos podem absorver metais pesados do ambiente ou do substrato no qual são alimentados.
- Falta de controle nas vendas online. Nem todas as plataformas de vendas verificam se os produtos estão em conformidade com os regulamentos.
- Diferenças nos padrões de controle. Alguns países podem ser mais frouxos nesse aspecto, permitindo que produtos com contaminantes entrem no mercado.
Portanto, os consumidores devem comprar produtos que indiquem conformidade com as regulamentações europeias e buscar certificação de segurança alimentar.
Assim, em nosso estudo, encontramos concentrações elevadas de chumbo e cádmio em larvas de larvas de farinha, provavelmente provenientes da dieta desses insetos ou da exposição ambiental a esses tóxicos. Da mesma forma, os produtos derivados de grilos domésticos apresentaram níveis variáveis de arsênico, alumínio e cádmio, refletindo diferenças na exposição ambiental e no processamento industrial.
Embora alguns elementos, como ferro, zinco e cobre, sejam micronutrientes essenciais, seu acúmulo em excesso pode causar toxicidade. Por exemplo, o cádmio pode causar danos aos rins, enquanto o chumbo é neurotóxico, especialmente em crianças. A presença desses metais geralmente está associada à poluição industrial, substratos contaminados ou controles de qualidade inadequados na produção.
Vimos que os insetos podem bioacumular contaminantes dependendo das condições em que são criados e do alimento que recebem. A garantia de sua segurança envolve não apenas análises finais, mas também regulamentações claras sobre o gerenciamento de substratos e as condições ambientais nas fazendas. Nesse sentido, a adoção da abordagem One Health, que integra a saúde humana, animal e ambiental, é fundamental para minimizar os riscos e garantir a qualidade do produto.
A União Europeia já deu passos importantes nessa direção, regulamentando as espécies permitidas e exigindo altos padrões de segurança. Assim, os produtos alimentícios que contêm insetos comestíveis são obrigados pelo Regulamento (UE) nº 1169/2011 a incluir informações nutricionais em sua rotulagem, assim como qualquer outro alimento embalado. Essas medidas não apenas protegem os consumidores, mas também criam confiança em um setor que está buscando se posicionar como uma solução sustentável e nutritiva.
Para se estabelecer como uma opção segura e sustentável, os insetos comestíveis devem atender aos mesmos padrões de qualidade de qualquer outro alimento que consumimos. Isso inclui controles de qualidade rigorosos nas fazendas de insetos, testes regulares de contaminantes químicos, físicos e microbiológicos e o gerenciamento adequado dos substratos e das condições de criação.
Em conclusão, um inseto comestível seguro e regulamentado é melhor do que centenas voando por aí sem nenhuma garantia.