O dramaturgo e ator soteropolitano, André Luis Silva, que atualmente vive em Montreal, no Canadá, lança no próximo dia 06 de janeiro na cidade canadense a obra bilíngue “All About Lambs, Razors and Dandelions”, versão inglês da peça teatral Sobre Cordeiros, Navalhas e Dentes-de-Leão, ainda inédita em terras baianas. A dramaturgia – que, em 2017, foi finalista do Concurso Nacional Seleção Brasil em Cena, promovido pelo CCBB – será lançada pela Be Bold Books, editora independente, com versão em inglês assinada por Lucas Morassi (que também assina a identidade visual do livro) e conta com revisão do jornalista canadense Robert Janelle.
A trama. Uma casa. Afastada. Uma família, que se reúne para um jantar de aniversário da mãe supostamente falecida. Os irmãos Bárbara e Jorge, que moram na mesma residência com Lúcia, filha de Bárbara. Um convidado, Carlos, o enfermeiro. À medida que a noite avança, doses cavalares de cinismo, bom-humor e crueldade nos conduzem a duas reflexões críticas: como lidamos com a ausência dos que amamos e como enfrentamos a perspectiva de sermos, nós mesmos, ausência de alguém um dia.
“All About Lambs, Razors and Dandelions” fala sobre vida, morte, renascimento, despedidas, luto, ressentimento e, principalmente, traz uma família desestruturada a partir das ausências, o convívio tóxico e as dependências emocionais deste núcleo social. Os sonhos compulsórios dos pais aos filhos. A anulação dos desejos para alimentar uma estrutura familiar falida. Um outro debate suscitado na obra é o desconhecimento e a incapacidade da sociedade de se relacionar com as doenças psicossomáticas.
“A arte imita a vida ou a vida que imita a arte?”.
Um tanto clichê essa frase quase que aristotélica. Entretanto, em “All About Lambs, Razors and Dandelions”, a obra não imita a vida. A utiliza como inspiração. “O impulso para a obra é uma situação familiar. Meu avô materno desenvolveu esquizofrenia e o convívio familiar acabou se transformando em um pesadelo. Além de já existir um divórcio tumultuado entre avó e avô. Todos da família sempre tinham uma história bizarra sobre ele. Sempre no passado. Até que um dia, ele deu uma topada na rua e como era diabético, precisou amputar metade do pé. Mais ou menos, dois anos depois ele veio a falecer”, recorda o dramaturgo.
Lançamento
André Luis Silva já vive em Montreal, com o marido também brasileiro, desde 2022, mas foi em 2017 que se conheceram também na cidade canadense. “Na verdade, minha relação com o país se inicia desde que minha irmã a escolheu para morar em 2014. Foi assim que a conheci. Foi onde encontrei meu marido, o Lucas. Entre idas e vindas ao país, voltamos para morar no começo de 2022 e me apaixonei ainda mais pelos espaços, pelas pessoas, pela vida que se vive aqui. Desta forma, acho que não existe um lugar no mundo, fora do Brasil, que seja melhor do que esse para o lançamento da obra”, fala o autor.
De acordo com Silva, o objetivo de lançar a obra bilíngue, além de promover, logicamente, o trabalho do autor em terras estrangeiras, é fomentar parcerias e estreitar relações culturais entre autores brasileiros e seus pares pelo mundo afora. “Essas publicações se inserem em um contexto de internacionalização da cultura, de um intercâmbio rico que não privilegia apenas a encenação de peças estrangeiras no Brasil, mas que contribui para a difusão da arte nacional. Ou, para sermos mais específicos, nordestina. Gostaria muito que, de alguma forma, esse lançamento pudesse abrir portas para meus conterrâneos, escritores como eu que ainda não tiveram essa oportunidade”, pontua o dramaturgo, ao acrescentar que a ideia de lançar a obra bilíngue parte do interesse de amigos canadenses de ler a obra, mas que não conseguiam lê-la em português.
André Luis Silva pede licença para falar sobre sua relação sobre Harildo Déda, um dos principais nomes do teatro baiano, que morreu aos 83 anos, em Salvador, em setembro de 2023. “A influência dele nos meus textos é absoluta. Enquanto estávamos montando a peça “Escavadores”, em 2015, também de minha autoria, que integrou a programação do Festival Internacional de Artes Cênicas – FIAC e foi indicada ao Prêmio Braskem, ele me sugeriu que fizesse uma versão em inglês da peça para trazer comigo na bagagem quando viesse visitar minha irmã (em 2016). Infelizmente, não tive condições de fazer na época. A ideia permaneceu latente. Eis que, em 2023, trocando uma ideia com ele pelo telefone, ele insistiu nas versões em inglês.”, recorda.
Inclusive, André conta que os primeiros escritos da obra, a ser lançada bilíngue, foram apresentados ao mentor, e que “ele riu um bocado, pediu pra mexer em algumas coisas. Assim nasceu a segunda versão, a que foi finalista no concurso do CCBB. Não tenho como falar sobre a minha vida no teatro sem falar sobre ele. Ele foi um grande mentor, um grande pai, um grande amigo, confidente. Deco, era assim que me chamava. E eu, carinhosamente, Harry”, relembra.
Seja ousado Livros
A versão bilíngue será lançada aqui no dia 06 e ficará disponível para aquisição no Brasil no segundo semestre de 2024. Por enquanto, no primeiro semestre, sua distribuição estará restrita à América do Norte, Europa e Ásia. Vale lembrar que a editora já lançou o volume intitulado “Sobre Cordeiros, Navalhas e Dentes-de-leão e Outras Peças” , que reúne algumas das peças de André Luis S. Silva.
Lançamento da obra dramatúrgica ALL ABOUT LAMBS, RAZORS AND DANDELIONS, do autor baiano André Luis Silva (Bilíngue – 124 páginas, Editora Be Bold Books)
06 de janeiro de 2024
Montreal – Canadá (Bah! Café – Brazilian Coffee Shop – 857 Marie-Anne St E, Montreal, Quebec H2J 2Z4)
(A tarde de autógrafos será das 17h às 18h30)
Para mais informações – @beboldbooks
O autor – Das palavras jurídicas a poesia teatral
André Luis Silva
Hoje, aos 35 anos, mas dia 03 de janeiro, ou seja, 3 dias antes do lançamento, serão 36 anos, André Luis Silva dedica-se à escrita de dramaturgias teatrais, mas também é dono da Be Bold Books, ao lado do marido Lucas Morassi, no Canadá, editora pela qual será lançada a obra bilíngue “All About Lambs, Razors and Dandelions”. Antes de se imergir no mundo teatral, chegou a se formar em Direito, mas abandonou a carreira jurídica para se dedicar ao teatro e às artes em 2012, ano em que passou a fazer parte do círculo de alunos de Harildo Déda, aquele que viria ser seu grande mestre e mentor. Nessa época, começou sua trajetória na dramaturgia.
Em 2013, participou da 3a edição do Concurso Nacional Jovens Dramaturgos, promovido pela Escola SESC do Rio de Janeiro, do qual saiu vitorioso ao lado de mais quatro dramaturgos brasileiros. Nesta oportunidade, seu texto “Escavadores” foi publicado e recebeu uma série de leituras dramáticas em escolas públicas da capital carioca. Dois anos depois, o texto ganhou sua primeira montagem com André e Harildo nos papéis de Primeiro e Segundo Escavador, respectivamente, e direção de João Saraiva, lhe rendendo a indicação ao Prêmio Braskem de Teatro na categoria Melhor Texto (2015).
Como dito pelo dramaturgo, a sua trajetória artística está totalmente entrelaçada com o convívio com o ator e diretor Harildo Deda. “Começamos com Eugene O’Neill. Os primeiros cursos e imersões na obra de Shakespeare. Ele me ensinou a carpintaria do texto com Mamet, Tennessee, Vianinha, Guarnieri, Albee (este último, grande inspiração para Sobre Cordeiro, Navalhas e Dentes-de-leão. – o personagem não se chama Jorge por acaso)”, destaca.
Em 2013, assumiu a assistência de direção do espetáculo “Longa Jornada Noite Adentro”, dirigido por Harildo Déda, peça ganhadora em várias categorias do Prêmio Braskem de Teatro, incluindo a de Melhor Espetáculo. No ano seguinte, fez a assistência de direção do espetáculo “A Gaivota” (encenação dirigida por Marcelo Flores e Harildo Déda) e assinou a direção de produção da montagem “Volta ao Lar”, mais uma vez ao lado de Déda (diretor), com o financiamento da Companhia de Teatro da UFBA.
Ainda em 2014, publicou seu primeiro romance, “O Preceptor” (pela Metanoia Editora). Lançamento que o projetou no universo da militância LGBTQIAP+, em especial, através do coletivo nacional “Mães Pela Diversidade” e lhe rendeu participação na série documental da HBO, “Fora do Armário”, dirigida por Tatiana Issa, Guto Barra e Ricardo Bairo, em 2018. em 2015, escreveu a peça “A Marcha do Igbin”, que chegou a ser montada pelo diretor teatral Guilherme Hunder.
Em 2016, assinou a direção de produção do espetáculo “Romeu e Julieta”, também encenado por Harildo Déda. Neste mesmo ano, foi o único finalista nordestino da 7° edição do Concurso Nacional Seleção Brasil em Cena, promovido pelo CCBB, com o texto “Sobre Cordeiros, Navalhas e Dentes-de-leão”, com leituras dramáticas no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília. No mesmo ano, escreveu “Cururupeba”, também dirigida por Guilherme Hunder. Em 2017, participou como ator nos espetáculos “Elefante Branco”, sob a direção de Queila Queiroz, e “Avesso”, uma nova parceira com Hunder.
Os anos subsequentes foram dedicados ao estudo e renderam a elaboração de mais quatro espetáculos: “Verso – Ode ao Amor Distante”; “Dominique”; “Um Homem Não É Uma Laranja – Um Canto Para Oito Suicidas em Dois Atos e Um Réquiem” e “Safeword”. Neste período, sua dramaturgia foi enriquecida pela influência de nomes do teatro Québécois, destacadamente, Michel Tremblay e Michel Marc-Bouchard. Este último, que o autor teve a oportunidade de conhecer e é o mais celebrado entre os brasileiros, em virtude da recente adaptação e montagem do espetáculo “Tom na Fazenda”.
Em 2023, ao lado do marido, o empresário e tradutor Lucas Morassi, fundou a Be Bold Books, editora independente, e lançou o volume intitulado “Sobre Cordeiros, Navalhas e Dentes-de-leão e Outras Peças” , que reúne algumas de suas peças. Em 06 de janeiro de 2024, lança a obra bilíngue “All About Lambs, Razors and Dandelions”. E, em breve, irão lançar a versão bilíngue de “Escavadores”, com o título “Dig Deep Down” sugerido por Harildo Déda.