Um ataque de ruralistas provocou a morte de uma indígena da etnia Pataxó Hã-hã-hãe na região Sul da Bahia no último dia 21 de janeiro. O crime ocorreu no município de Potiraguá, no território indígena Caramuru-Catarina Paraguassu. Os povos indígenas dessa região buscam retomar as suas terras ocupadas por fazendeiros.
Essa luta dos povos originários ganhará destaque no Carnaval de Salvador. O cantor e compositor Edu Casanova abre a folia momesca com o “Trio Elétrico Brasil de Índio”, na próxima quinta-feira, dia 8, às 19h, no Circuito Dodô (Barra-Ondina).
O cantor será acompanhado por indígenas pataxós do território Extremo Sul da Bahia. A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, receberá uma homenagem na avenida. “Ter uma mulher indígena à frente de um ministério com tamanha importância é um resgate de 522 anos de luta”, pontua Edu Casanova, que há 10 anos é envolvido com a luta dos povos originários. No Carnaval de 2019, o cantor recebeu no trio elétrico o Cacique Raoni, o maior representante internacional dos indígenas brasileiros.
“Na última década participei ativamente de trabalhos e campanhas junto aos povos indígenas. Neste universo obtive resultados surpreendentes. Aprendi e ensinei, me doei e recebi em dobro. Já gravei um disco com venda revertida para a os indígenas Caiapó, do Parque Xingu. Ano passado, levei o artesanato da tribo Pataxó da Reserva da Jaqueira de Porto Seguro para a minha turnê na China, onde os indígenas participaram de uma grande feira para levantar recursos paro o território”, ressalta.
“Penso que ninguém é feliz sozinho e que a arte, além de diversão, deve ser um instrumento de transformação. Uma arma poderosa para quebrar preconceitos e chegar com mais facilidade ao coração das pessoas”, completa.
Representantes do povo Pataxó estiveram ao lado de Edu Casanova na coletiva de imprensa realizada na última quinta-feira, dia 1, no Hotel Wish da Bahia. O Cacique Aruã frisou a importância desse momento: “Será um espaço de grande visibilidade às lutas dos povos originários”.
Cacique Aruã disse que o Carnaval não é apenas um momento festivo: “Para nós é mais do que um momento de festa, será um momento de marcação identitária e de destaque às nossas lutas em defesa dos nossos direitos e pela demarcação de nossas terras. Será um momento também para denunciarmos a violação de nossos direitos que tem ampliado na Bahia e nos demais Estados brasileiros. Tem ocorridos ataques violentos aos povos indígenas, várias vidas têm sido ceifadas. Vamos aproveitar a presença de milhares de pessoas na avenida para levar o nosso recado. Edu Casanova tem sido nosso porta-voz na Bahia e no Brasil”.
Bloco ‘Me deixe à vontade’
O envolvimento de Edu Casanova com pautas sociais não se resume aos povos indígenas. Este ano, ele vai comandar o trio da Associação Baiana dos Deficientes Físicos (ABADEF) no bloco “Me deixe à vontade”, que festeja 30 anos de existência. O desfile acontecerá no próximo sábado, dia 10, às 15h, no Circuito Osmar (Campo Grande).
“O bloco Me Deixe à Vontade tem uma importância imensa no Carnaval. Durante muito tempo, a pessoa que tinha algum tipo de deficiência física ficava de escanteio, só assistia ao Carnaval, não participava da festa. Mas o Carnaval é para todo mundo. Esse bloco não se resume à diversão, leva um debate importante ao público sobre novos tratamentos, elevar a autoestima das pessoas com deficiência e mostrar à sociedade que essas elas fazem parte sim da folia e a festa tem que garantir a acessibilidade”, defende Edu.
“Sou apaixonado por esse bloco. Puxei o Me Deixe à Vontade por 10 anos. Depois fui cuidar de outros projetos. Em 2024 o bloco completa 30 anos. Foi feito uma enquete entre os foliões do bloco e o meu nome foi escolhido para comandar essa grande festa. Estou muito feliz com isso”, afirma o cantor.
Quem também estava muito feliz com essa parceria era a presidente do bloco e da ABADEF, Silvanete Brandão. Durante a coletiva de imprensa, disse: “É um bloco que contempla todas pessoas com deficiência – auditivos, cegos, deficiência física e intelectual. É um bloco que traz a luta contra o preconceito para a folia. A pessoa com deficiência pode ocupar qualquer lugar que ela queira. O bloco tornou-se uma referência e Edu é parte desse projeto, pois ele tem a inclusão como pauta de luta”.
Convidados
Para acompanha-lo nos dois dias de desfile no Carnaval de Salvador e fazer ecoar pautas sociais importantes na avenida, Edu Casa convidou o DJ Doc B, o rapper Duendy Primeiro e a cantora Qymira, que veio da China conhecer a maior festa de rua do planeta.
O rapper baiano Duendy Primeiro pontuou a felicidade em acompanhar Edu Casa nos dois dias de desfile: “Sou oriundo das favelas de Lauro de Freitas, sou do bairro de Itinga, sou cria do movimento negro. Desde 1998 participo do movimento hip-hop com o coletivo Posse Conscientização e Expressão (PCE). Não tinha um trio melhor para participar, porque Edu tem trabalho real em defesa dos povos indígenas e pela inclusão às pessoas com deficiências. Estou muito feliz e honrado pelo convite, pois dificilmente músicos como eu, negro e das favelas, teriam chances de ocupar espaços como esse”.
A cantora chinesa Qymira, que também atua em causas sociais e coordena o projeto The Gaia Foundation, com sede em Hog-Kong, disse estar agradecida por participar do Carnaval de Salvador: “É a minha primeira vez no Brasil, estou muito agradecida em estar na maior festa do mundo ao lado do Edu. Estou comovida em juntarmos as forças e trabalharmos em prol das causas dos indígenas e das pessoas com deficiências e de todo os povos”.
Você quem vai às ruas curtir o Carnaval, curta com consciência e não deixe de acompanhar os dois dias de Edu Casa Nova e convidados. No dia 8, no primeiro dia oficial da folia momesca, às 19h, no Circuito Dodô (Barra-Ondina). No dia 10, às 15h, no Circuito Osmar (Campo Grande) com os foliões do bloco Me Deixe à Vontade.