Descubra como a prática de atividades físicas estimula funções cerebrais, melhora o humor e promove a saúde mental
Por Cássia Reuter
A prática de esportes tem sido amplamente reconhecida por seus benefícios para a saúde, mas os impactos positivos vão muito além da estética corporal. A atividade física feita com uma frequência regular provoca uma série de reações no cérebro que contribuem significativamente para a saúde mental e o bem-estar geral.
Um artigo publicado na revista The Lancet Psychiatry, fez uma associação entre exercício físico e saúde mental, tendo como resultado o alívio dos sintomas de fadiga e da falta de motivação em indivíduos com transtorno depressivo. Segundo Victor Tarini, Professor do curso de Educação Física do UNASP, “Existem recentes pesquisas que mostram que pratica de exercícios pode melhorar o efeito dos medicamentos antidepressivos e isso faz com que haja uma necessidade menor da dose, mas não a retirada da medicação”.
Quando se pratica esportes, o cérebro libera uma variedade de substâncias químicas que melhoram o humor e a sensação de bem-estar. Entre as mais importantes estão as endorfinas, conhecidas como os “hormônios da felicidade”. Essas substâncias naturais atuam como analgésicos e euforizantes, ajudando a reduzir o sentimento de dor e a promover uma sensação de prazer e euforia, após exercícios intensos.
“Além das endorfinas, a prática esportiva estimula a liberação de outros neurotransmissores, como a dopamina, a serotonina e a norepinefrina”, pontua o profissional. O hormônio está associado à recompensa e à motivação, enquanto a serotonina regula o humor, o sono e o apetite. A norepinefrina, por sua vez, melhora a atenção e a concentração. Esses neurotransmissores trabalham em conjunto para melhorar a saúde mental, ajudando a combater sintomas de depressão e ansiedade.
Participar de atividades físicas em grupo pode aumentar a sensação de pertencimento e reduzir o isolamento social. As interações sociais positivas durante a prática esportiva contribuem para a saúde mental e o bem-estar emocional, criando um ciclo virtuoso de benefícios. “Treinos exigem hábito, sinônimo de repetição, um comportamento disciplinar repetido diversas vezes. Quando mais se desenvolvem, maior são os resultados de forma geral no organismo”, finaliza.
Victor Tarini, Professor do curso de Educação Física do UNASP, conversou com a nossa reportagem do site Dóris Pinheiro, em uma entrevista exclusiva, tirando todas as dúvidas sobre os Benefícios Neurológicos da Atividade Física.Acompanhe na íntegra.
Cássia Reuter: Quais os principais benefícios neurológicos da atividade física?
Victor Tarini: Bom, em primeiro lugar, a atividade física, ela melhora a circulação sanguínea como um todo. Então, ela aumenta o número de vasos capilares que estão abertos, isso melhora o leito vascular de uma forma bem geral, a oferta de oxigênio para todos os tecidos que estão sendo irrigados. Isso inclui também, o tecido nervoso, o cérebro.O segundo benefício que nós podemos citar, importante é do efeito prolongado, é a neurogênese na região do hipocampo. Comprovando diversos estudos, que as mais variadas formas de exercício físico promovem o aumento de novos neurônios na área do hipocampo e da memória. E isso é comprovado pela expressão, que pode aparecer no sangue, como também tecido nervoso, de um marcador chamado BDNF, que é o fator de crescimento derivado do cérebro. BDNF é da sigla de inglês, Brain Derived Neurotrophic Effector.
E qual é a vantagem disso? Bom o aumento de neurônios na região do hipocampo é um sinal de rejuvenescimento do sistema nervoso, a partir do momento em que novas sinapses possam se tornar aliviáveis, melhorando a capacidade de raciocínio, melhorando a aprendizagem, aperfeiçoando os comandos motores, os comandos cerebrais, inclusive, na área que diz respeito à memória, de curto e de longo prazo.
CR: Qualquer pessoa de idades diferentes podem praticar atividades físicas?
VT:As atividades físicas não têm contraindicação. Pessoas é que podem exibir algum tipo de impedimento para a prática de qualquer atividade física. Então, por exemplo, é muito comum que as pessoas a partir dos 40 anos de idade, que gostavam de praticar futebol, deixem de fazer essa prática em virtude do quê? Da quantidade de lesões e do tempo que demora para se recuperar dessas lesões que passam a ser diferentes à medida que você envelhece. Então, a prática da atividade física, ela está vinculada a uma aptidão. A possibilidade da pessoa praticar essa atividade física plenamente.
Então, o primeiro passo é a escolha da atividade física, ela deve estar em pé de igualdade com o nível de condicionamento, de preparo físico.Então, a pessoa que não faz nenhuma atividade física e que deseja iniciar, pode escolher qualquer atividade física, mas precisa passar naturalmente por processos de aprendizagem motora e adaptação, para evitar que ela venha a colher danos pelo uso inadequado da atividade física, ou pela prática inadequada da atividade física. Mas sim, a atividade física, pode ser praticada em qualquer idade.
CR: Qual é a principal recomendação para quem quer começar a praticar algum esporte ou até dançar vários ritmos musicais?
VT: Bem, o nosso corpo é uma máquina extremamente sofisticada, então ele se autorregula às demandas. Quando a gente não faz nada, naturalmente, ele está bastante econômico quanto aos recursos motores. O que eu quero dizer, é que eu chamo de recursos motores, eu falo de ossos, músculos, articulações. Então, a minha massa muscular, quando eu não faço nada, ela é uma massa muscular atrófica, ou seja, diminuída. A minha massa óssea também é uma massa óssea já diminuída. E a articulação é frágil, com muito pouca sustentação e estabilidade, que naturalmente na falta de uma musculatura trabalhada, eu vou exibir. Então vou ter uma perda da estabilidade articular. Por afrouxamento dos tendões, dos músculos, em função da falta da atividade física. Quando eu for começar uma atividade física, é muito importante fazer um trabalho que nós, na educação física, chamamos de trabalho de base. Esse trabalho de base, consiste em praticar atividades físicas com pesos, sob condições controladas, como por exemplo: ir para uma academia sob supervisão de um professor de educação física, começar um programa de exercícios que tonificam, que aumentam o tonus muscular, de modo que, eu obtenha segurança para iniciar práticas motoras mais elaboradas, como na dança e como nos esportes coletivos e de luta, por exemplo, esportes em geral. Então, precisa-se de uma base muscular. Essa base muscular é adquirida com a prática de exercícios.E também, com a prática de exercícios cardiovasculares, chamados de exercícios aeróbios. Esse é o trabalho de base necessário e principal pré-requisito no início de qualquer prática de atividade física.
Victor Tarini
Sou Mestre e Doutor em Fisiologia do exercício e saúde pela Unifesp.
Professor de Educação Física e Nutricionista Clinico e Esportivo.
Sou professor do curso de Educação Fisica do Unasp.