A busca por uma vida mais saudável impulsionou uma nova tendência: o monitoramento constante do índice glicêmico dos alimentos. De aplicativos a dispositivos vestíveis, a tecnologia tem facilitado o acompanhamento da resposta do nosso corpo aos diferentes tipos de alimentos. Mas será que essa obsessão por números é realmente benéfica para a saúde ou apenas uma fonte de ansiedade desnecessária?
Embora o índice glicêmico seja uma ferramenta útil para entender como os alimentos afetam nossos níveis de açúcar no sangue, especialistas alertam para o risco de transformar essa informação em uma obsessão. Afinal, a saúde vai muito além de números e gráficos. Conversamos com o Dr. Gabriel Almeida, médico especialista em ciência da obesidade, para desvendar os segredos do IG e como você pode usá-lo a seu favor.
Q: O que é o índice glicêmico e por que ele é importante?
R: O índice glicêmico é uma medida que vai classificar os carboidratos, de acordo com a rapidez que ele aumenta a glicose no sangue, ou seja, alimento de alto índice glicêmico aumenta a glicose de forma mais rápida. Alimento de médio índice glicêmico aumenta a glicose mais lentamente e o de baixo índice glicêmico, que é o ideal, demora bastante para aumentar a glicemia.
Q: Como o índice glicêmico impede a perda de peso?
R: Ao aumentar a glicemia, o que é que acontece? O corpo responde com o aumento da insulina, essa insulina vai tirar a glicose que está no sangue para dentro das células e esse aumento da insulina é um grande problema. Ele estimula uma enzima chamada lipase lipoproteica, que pega componente das gorduras que ingerimos que são os ácidos graxos, e componentes dos carboidratos que ingerimos, que são glicerol. Ele junta os ácidos graxos com glicerol formando triacilglicerol, que é o estoque de gordura. Então quanto mais picos de insulina tivermos em relação aos alimentos de alto índice glicêmico, maior vai ser nosso acúmulo de gordura.
Q: Como controlar nossos níveis de açúcar no sangue?
R: Para definir o índice glicêmico dos alimentos como alto, médio e baixo, temos que ver a ação da glicose no sangue. Após a ingestão, índices glicêmicos 100 são altos, acima de 70 são médios e abaixo de 55 são de baixo índice glicêmico. Estes últimos são os alimentos ideais para você consumir. Alguns exemplos de alimentos de baixo índice glicêmico: legumes e vegetais como lentilha, grão-de-bico, ervilha, brócolis; frutas como maçã, pêra, pêssego, ameixa; grãos integrais cereais como quinoa e arroz integral.
Além dessas estratégias, é interessante aumentar a atividade física e evitar comer tarde da noite, tendo a última refeição aproximadamente às 18 horas, não depois disso. Outra estratégia para você controlar mais a sua glicemia durante todo o dia é, logo após acabar o café da manhã, ingerir uma dose de whey protein.
Q: Como controlar o índice glicêmico para diferentes grupos de pessoas, por exemplo, diabéticos, atletas, é uma rotina personalizada para cada um desses grupos? Cite a diferença em 2 exemplos?
R: O diabético deve ser acompanhado por um endocrinologista e nutricionista que tenha expertise na condução desse público. Os alimentos mais interessantes para o diabético são os de baixo índice glicêmico e ricos em fibras. O atleta é um público bem diferente, porque pode e muitas vezes deve consumir alimentos de alto índice glicêmico, principalmente antes de prova. No caso deles, o alimento de alto índice glicêmico aumenta muito rápido a glicemia e a glicose na corrente sanguínea é tudo o que o atleta quer para uma alta performance.
Q : Alguns médicos e cientistas acreditam que o IG é um indicador melhor de saúde do que a contagem de calorias. O que o senhor acha dessa afirmação?
R: Mais importante do que o índice glicêmico são as calorias, elas [calorias] vem em primeiro lugar, e logo após concordo totalmente que vem o índice glicêmico. Ele reina de uma forma muito interessante, principalmente quando se fala do consumo de bons alimentos. Então o cálculo da quantidade de calorias em primeiro lugar e o índice glicêmico em segundo.
Q: E os medidores de índice glicêmico, que estão tão na moda ajuda mesmo o paciente?
R: Eu acho uma prática completamente desnecessária. Não é o fato de a pessoa estar com o relógio na mão que ela vai deixar de comer um doce. Grande parte da nossa população está com obesidade e a verdade é que a maioria tem consciência dos alimentos que são benéficos e os que são maléficos, então acredito que ficar medindo a glicemia é uma estratégia que não vai dar certo. Isto vai gerar mais stress e ansiedade, toda vez que você gera essas sensações, você vai buscar por conforto e quais são os alimentos de conforto? Os doces e os bolos. Então não vejo sentido em ter um relógio para ficar medindo tudo o que você está comendo. A não ser para o público diabético, e mesmo assim deve ser conversado entre o paciente, o nutricionista e o médico. Eu não indicaria para todos.
Explicação do doutor: Os dados alarmantes reforçam a importância de medidas preventivas e de controle da doença, como a adoção de hábitos alimentares saudáveis e a prática regular de atividades físicas. É importante ressaltar que o índice glicêmico não é uma medida direta da prevalência do diabetes, mas sim um fator que pode influenciar no desenvolvimento da doença.