Por João sem Braço
A Culpa é do Afoxé
– Joanuel, esse seu nome é a fusão de nome de parentes portugueses, Joaquim e Manuel? – Perguntei ao primo, filho de um irmão de meu pai que mudou-se para Portugal e lá casara-se
– Sim, eram os nomes de meus avós maternos. Como tu adivinhastes? – Respondeu Joanuel. Sem nem desconfiar da picardia do brasileiro.
– Elementar, meu caro. Elementar.
Joanuel nasceu em Portugal há pouco mais de 60 anos. Reside em Estoril onde possui uma promissora Agência de Viagens. Apaixonado pelo seu trabalho, viaja muito com grupos, principalmente para lugares de praia, já tendo estado no Brasil, mas jamais na terra de seu pai que é a Ilha de Itaparica.
Conhecemo-nos em Estoril em uma das minhas idas a Portugal quando fiz a maior propaganda das praias do Nordeste do Brasil, deixando-o ansioso para breve fazer uma visita a Ilha.
Assim aconteceu em um mês de verão bem brasileiro, o primo portuga chegou e, depois de percorrermos várias localidades de Salvador, inclusive as praias, embarcamos em um ferry-boat para a Ilha de Itaparica. A travessia já foi exercendo nele um grande fascínio. Do desembarque até a chegada na praia de Gameleira nós levamos um tempo bem maior do que o que costumamos fazer porque, ante à passagem de uma mulher nativa de cor negra, rebolando os volumosos quadris, o lusitano parava para admirar e exclamar:
– Pois, pois, oh Pa!
O primo, ao chegar á praia, a maré estava bem baixa e a baía assemelhava-se a um grande lago com as águas calmas e bem mornas e ele não titubeou, mergulhou imediatamente uma e outras vezes. Todas as vezes que ele vinha à tona, ficava a admirar tudo em derredor e encantava-se com a visão que tinha da Cidade do Salvador que estava bem nítida graças ao lindo dia de sol e céu tão azul que só nessa cidade é possível.
Depois nadamos até à amarração para que eu lhe apresentasse ao Beldroegas e combinarmos fazer uma pescaria, dizendo-lhe que isso só seria possível quando estivéssemos com o material necessário.
– Mas, eu não entendo nada de pescarias. – falou ele, demonstrando não entender nada de malícias.
– Não se preocupe – disse eu – o que menos vamos precisar será pescar peixe.
E ele, como bom português, continuou sem entender.
Quando eu lhe disse que à noite iria leva-lo para conhecer um Terreiro de Candomblé e participar do ensaio do Afoxé, ele entusiasmou-se, pois já havia ouvido falar de Candomblé porém não de Afoxé.
Expliquei para ele que o Afoxé é também chamado de candomblé de rua, é um cortejo que sai durante o carnaval, embora não seja um bloco carnavalesco. Os seus participantes pertencem a um terreiro de candomblé e entoam as mesmas cantigas ou orós dos terreiros.
Como eu percebi que ele estava bem interessado no relato, continuei:
– Embora eu não faça parte do Candomblé, eu sou bem aceito pela comunidade, porque eu ajudo sempre quando eles precisam, então eu tenho entrada livre. Para mim é muito importante a preservação do Afoxé porque é uma manifestação afro-brasileira de origem iorubá. É uma festa profano-religiosa. Você vai gostar.
Como Joanuel estava muito curioso e queria saber um monte de coisas que eu não sabia explicar, chamei uma das integrantes, a Bete, uma mulher bonita, de cor negra, corpo bem delineado, pernas e braços carnudos e duros, olhos negros brilhantes e, o que mais atraiu o portuga, as suas ancas volumosas e requebrantes.
Bete é uma mulher independente, bem instruída, com graduação em Pedagogia e exerce a profissão no município. Conhecedora profunda da cultura afro-brasileira, foi a pessoa bem indicada para os esclarecimentos os quais ela o fez com a maior paciência.
Quando estavam todos animados dançando, Bete o convidou para também participar ao que ele de pronto atendeu. Aí começou a parte hilária da festa: no meio de tantas pessoas de cor negra, aquele português branquelo, parecia um chumaço de algodão, todo contraído, tal qual um quiabo duro. Mas ele não se importou com as galhofas e continuou ensaiando desengonçadamente uns passos de samba.
Quando terminou o ensaio eu convidei a Bete para uma pescaria no dia seguinte e ela concordou em levar uma amiga que estava passando uns dias com ela.
Durante o caminho de volta para casa, o primo não me deixou em paz só a perguntar o que iria fazer na pescaria, porque ela não sabia pescar e ia ser um fiasco, etc., etc.
– Olha cara, relaxe – disse eu – o que menos vamos fazer na pescaria vai ser pescar peixe. Fique frio.
No dia seguinte lá estávamos os quatro, embarcados no Beldroegas, navegando com um vento de popa em direção à Ponta de Areia, uma das praias mais badaladas da ilha.
Sentados no bico da proa estavam Bete e Joanuel, admirando a paisagem que se descortinava à frente e conversando tão animados que mais pareciam uns conhecidos de longas eras.
A amiga que Bete me apresentou antes de embarcarmos já havia despertado a minha atenção várias vezes a passear pela praia. Era uma mulher jovem de cor negra brilhante, assim também eram os olhos e um rosto de traços tão perfeitos que parecia ter saltado de um quadro. O seu corpo apresentava contornos tão bem rematados, parecendo que as duas participavam de algum estúdio para modelos.
Chamei-a para sentar-se junto a mim, na popa aonde eu estava para manobrar o leme. Ao conversarmos notei que era uma pessoa bem culta porém tremendamente tímida ou jogava na defensiva porque já sabia da minha fama e da de Beldroegas.
Com um vento favorável, não foi preciso bordejar e com a vela enfunada, destacando a figura do Buldogue Beldroegas ali desenhada, nós fomos direto para Ponta de Areia. Às vezes eu me descuidava com o leme e algumas ondas iam de encontro ao costado do barco e molhava os dois que estavam na proa. O português olhava para trás e reclamava zangado, mas depois riam. Assim transcorreu a viagem e quando lá chegamos eu, depois de baixar a vela, manobrei a popa do saveiro em direção à praia para que eles desembarcassem porque eu deveria levar o barco para atracar lá fora. Somente os dois saltaram porque a minha companheira disse que gostaria de voltar nadando e me acompanhou até a amarração.
É obvio que eu não tinha nenhum interesse em mergulhar de volta e sim ficar ali mais tempo. Percebi que esse desejo era compartilhado e, quando eu peguei na sua mão notei que ela tremia o que me deixou muito feliz porque esse comportamento é muito peculiar às mulheres com pouca experiência em sexo e que receiam um relacionamento íntimo, contrariando a vontade que têm no seu íntimo.
A cautela é muito importante em uma situação dessas, pois corre-se o risco de “jogar água fria na fervura”. Assim eu comecei a elogiar um povo que eu muito admiro pelas vezes que viajei para a África e pude conviver com uma cultura tão diferente da nossa. Depois elogiei os seus descendentes, porque a minha intenção era conduzir o assunto para o calor peculiar e diferente da raça negra.
– Eu tenho uma curiosidade muito grande em saber porque tanto os nativos da África, como os seus descendentes são tão quentes e o calor de vocês convida a um relacionamento febril como se estivéssemos imersos no fogo de uma fogueira. – disse-lhe eu.
A medida em que eu falava, nós nos aproximávamos cada vez mais, até que nos abraçamos bem forte e, acariciando as suas costas nuas e beijando o seu pescoço, os seus ombros e o seu rosto, pude perceber que nem tudo que é quente nos queima.
Fomos para o fundo do barco, onde eu já havia colocado o colchonete que sempre trago e, com ela deitada de bruços fui beijando as suas costas, a medida que a despia do biquini. Aí me deparei com aquele lindo par de nádegas brilhantemente negras e mergulhei o nariz entre as duas, sentindo nos dois lados do meu rosto um calor tão grande que mais parecia que enfiara a cara em um forno aceso.
Depois de aspirar tanta sensualidade, virei-a de frente e me encantei com o par de seios rijos, nem grandes e nem pequenos, mas que não cabiam por inteiro na minha boca. Depois de muitos beijos, chupadas e lambidas, fui descendo o rosto até encontrar uma vagina que não era quente não, era fervente. É de estarrecer como os lábios e a língua a moverem-se sem parar naquela fervura toda não se queimavam.
Ela parecia desmaiada de tanto gozar e eu, aproveitando a situação, fui me posicionado sentado com as pernas por baixo de suas costas . Quando o pênis bem ereto já estava bem junto dela, eu sentei-a sobre mim e a penetrei de vez. Ela despertou e ao sentir o que sucedia, abraçou-me com tanta força que parecia querer me quebrar.
Ficamos parados por muito tempo. O calor que vinha de fora e de dentro de seu corpo era tão grande que assemelhava-se a uma queda dentro de um vulcão em erupção.
A vontade era de não mais sair, de não abandonar aquele deleite, aquele fervor. Mas, despertamos do sonho com o chamamento que vinha da praia para que desembarcássemos.
Durante o almoço eu percebi que já havia uma grande afinidade entre aqueles dois, por isso eu sugeri que Bete o levasse para conhecer outras praias da ilha. Pedi ao primo um relato dos acontecimentos quando eu voltasse no outro final de semana.
Optei por voltar à noite pois seria de lua cheia. Assim fizemos uma viagem de regresso cheia de romantismo e de carinhos. A lua brilhando prateava o mar e o saveiro singrava velozmente em uma navegação costa a costa sem necessidade de bordejos.