Por Matheus Spiller
O fim do ano é um período esquisito. Dá impressão de que o tempo corre de maneira diferente. Não é mais rápido ou mais devagar. É só estranho. E pouco importa que não passe de impressão. É das impressões e das projeções que nos formamos. O que interessa, no fim das contas, é como nos sentimos a respeito do que nos rodeia. É desse conjunto de sentimentos que moldamos nossas ações em relação aos efeitos práticos das nossas existências. Então esse frisson de final de ano é real para grande parte das pessoas e está historicamente estabelecido para essa parcela da população. Pessoas que vivem em países que compartilham o nosso calendário, pelo menos.
Há um significado de ruptura neste momento. Um marco temporal alimentado pela publicidade, por algumas religiões, por um conjunto de iniciativas alicerçadas nessa maneira de contar o tempo. Deixamos algumas coisas “para depois do fim do ano”. Ao mesmo tempo, prolongamos comportamentos “só até o fim do ano”. É um instrumento de organização e controle muito efetivo e profundamente arraigado na nossa cultura. Repare que é quase uma barreira física. Uma ampulheta coletiva a ser virada por hábito e tradição.
Mesmo quem procura distanciar-se desse comportamento comum, acaba sendo afetado de alguma maneira. Somos seres sociais e estamos suscetíveis à influência do que nos orbita a existência. Não liga para o fim do ano? Tranquilo. Você tem também tem respaldo. Mas seu vizinho liga. O comércio liga. As instituições públicas e privadas ligam. O prédio está decorado para o natal. Tem luzinha nas janelas. Presépios e presepadas pra lá e pra cá. As relações interpessoais ficam diferentes. Planos de viagem invadem as conversas, férias, escala de trabalho, retrospectivas. É papo de fila? É! Mas o papo de fila também tem sua função na nossa engrenagem social.
Não adianta muito tentar fugir. Eu sei, por experiência própria. Quem insiste nisso vira um chato modorrento, repetindo que “tudo vai continuar a mesma coisa…”. Todo mundo sabe, bicho! Mas é um período de suspensão da normalidade coletiva (como é o carnaval, como são as festas juninas e afins). E não é a sua rabugice que vai mudar isso. Então, calma! Descansa esse “mindset vencedor” aí só por uns dias. Logo tudo passa e você vai poder voltar a ser a pessoa super produtiva e eficiente que você é. Sem os sonhos e utopias dos outros para atrapalhar. Por enquanto, vamos tentar não botar água no chopp dos outros só por amargura, beleza?
Quando a ressaca do réveillon passar, a gente liga a maquinaria e tá valendo de novo. (Só até o carnaval…que fique claro!)
Bom final de ano pra você!















