Por Morgana Montalvão
Você já ouviu falar em turismo comunitário? Essa modalidade de turismo promove a sustentabilidade e valorização de uma comunidade e de seus costumes locais. Aprender sobre os ritos e tradições de um grupo ou povo; compartilhar informações e saberes envolvendo famílias, aldeias ou associações contribuindo para a economia local são ações integrantes do chamado turismo comunitário ou turismo de base. O segmento tem atraído um número crescente de visitantes para lugares que proporcionam tais experiências.
O turismo comunitário surgiu nos anos 90 como uma alternativa às grandes redes de turismo que costumavam promover o turismo predatório, sem considerar a preservação ambiental ou o desenvolvimento cultural dos habitantes locais. Na contramão da iniciativa capitalista, o turismo de base prioriza as necessidades locais em todos os aspectos, incluindo hospedagem, restaurantes, comércio, atrações e transporte. Essa abordagem resulta em um impacto social mais positivo, pois os lucros do turismo são distribuídos de maneira mais igualitária e não se concentram apenas em grandes empresas. Em suma, o turismo comunitário oferece uma forma mais empática de explorar o mundo.
Com o objetivo de tornar essa modalidade de turismo cada vez mais influente, estruturada e amplamente conhecida através da sustentabilidade, a Rede Batuc – Turismo Comunitário da Bahia, une territórios, cultura, gastronomia, povos, aldeias, comunidades e troca de saberes por meio do turismo comunitário no estado através da economia solidária.
O geógrafo, educador, pesquisador e mestre em Educação do Campo, Alberto Viana de Campos Filho, 58 anos, integra a comissão estadual da Rede Batuc desde a sua criação. Para o pesquisador, que desde 2004 trabalha com o turismo de base, essa modalidade é algo que carrega um novo significado para conhecer lugares e um agente transformador de vidas. “O turismo comunitário é uma modalidade de atividade turística onde a propriedade, a gestão e os resultados das atividades são de um coletivo composto de pessoas, famílias, associações, cooperativas que complementam sua renda vinda de outras atividades através de serviços turísticos, seja no campo, na cidade, nas florestas e nas águas. Toda experiência de turismo comunitário é baseada na economia solidária. O principal foco é a valorização do modo de vida, a visibilidade da produção local, dos valores locais. A geração de renda é um dos elementos e às vezes não é o mais importante, pois a defesa do território, do meio ambiente, do espaço político é muito mais latente. Estigmatizamos muito os movimentos sociais do campo, a causa indígena, a causa quilombola, os assentamentos e comunidades da periferia, no entanto, todos esses locais são belíssimos e com pessoas de bem, que lutam por dias melhores e produzem muito e fazem turismo”, explica.
A história de Alberto Campos com o turismo comunitário começa em 2004, quando era servidor do Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra). Na época, ele foi procurado por movimentos sociais do campo como Movimento dos Sem Terra e Federação dos Trabalhadores da Agricultura para ajudar a estruturar as visitas que ocorriam em assentamentos de reforma agrária localizados na Chapada Diamantina e no Recôncavo Baiano. que chegavam em busca de trilhas, cachoeiras, história de luta pela terra, comidas orgânicas e manifestações culturais e religiosas.
“O primeiro projeto foi criado em 2005 e até o ano de 2013, 30 comunidades fizeram parte da iniciativa. A partir de seminários estaduais e da atuação do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e da Associação Estrela Brasil, vimos que tinham outras iniciativas na Bahia e no Brasil com o mesmo propósito e em outros lugares do mundo. Me encantei e não parei de pesquisar e visitar esses lugares. Em 2015, ajudamos a criar o movimento pelo turismo comunitário da Bahia que em 2019 virou Rede Batuc e conquistou a Lei estadual 14.126 de autoria do deputado Bobô Tavares (PCdoB)”.
Dono de um currículo renomado, Campos fez várias formações no exterior como nos campi da Organização das Nações Unidas (ONU) em Turim, na Itália e na Universidade de Buenos Aires. Atualmente, atua em cooperação com universidades como Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade do Estado de São Paulo (USP) e Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Ele ainda trabalha como docente externo da UNEB na pós – graduação onde ministra aulas sobre tema.
Prêmio internacional e integração entre as comunidades
A Rede Batuc ganhou o “Prêmio Global de Turismo “Responsável – Melhor Solução para Diversidade e Inclusão”, de turismo sustentável na WTM Londres, uma das mais importantes feiras de turismo a nível mundial, o prêmio da ASHOKA Brasil – “Trilhando a Transformação”, premiação que laureia inovações no turismo sustentável e, a terceira colocação no Prêmio Nacional do Turismo do Ministério do Turismo na categoria “Turismo Comunitário da Bahia”.
A rede marca sua presença em sete das 13 áreas turísticas da Bahia e em dez dos 27 territórios identitários do estado. Segundo Alberto Campos, hoje, na Bahia, para além das comunidades que integram a Rede Batuc existem cerca de outras 45 comunidades que recebem visitantes regularmente e de forma ordenada. Dessas, 22 comunidades estão na rede, que engloba no total de 40 grupos, mas parte ainda está voltando à entidade após a pandemia de Covid 19.
Na visão do especialista, o Turismo Comunitário é para todos, não ficando somente restrito a quem vem de fora. “ No Turismo Comunitário, nós, pesquisadores, preferimos utilizar a palavra “visitantes” para quebrar esse estigma. No turismo de base há o propósito de ver e informar-se sobre aquele lugar. Minha vida mesmo mudou após fazer tours em Salvador na antiga Alagados, em Plataforma, no Calafate e no Candeal e acompanhar escolas, faculdades e estrangeiros. Os baianos estão voltando a descobrir suas raízes, os negros se emocionam ao pisar em um quilombo. A grande contribuição que as pessoas podem dar a essa modalidade de turismo, é agendar uma visita previamente com a família e os amigos e ter essa experiência. O Turismo Comunitário é para todos, quem vem de fora ou quem é da própria cidade”, enfatiza.
Salvador tem pontos para visita
Em Salvador, na região da Cidade Baixa, no bairro do Uruguai, no antigo bairro de Alagados, a Rede de Protagonistas em Ação de Itapagipe (Reprotai), através da Associação de Moradores do Conjunto Santa Luzia, é uma das comunidades que fazem parte da Rede Batuc. Fundado em 2007, o “Alagados Turismo Comunitário” resgata a auto-estima e a história de luta da comunidade, através das atividades sócio turísticas como o esporte-lazer, a arte e cultura, a educação popular, o meio ambiente e a economia solidária.
Os visitantes têm a experiência de conhecer as vivências na comunidade, oficinas de dança, teatro e capoeira, rodas de conversa, partidas de futebol e visitas às casas dos moradores. As visitas precisam ser agendadas por meio do Instagram (@reprotai). A ação ajuda na sustentabilidade da rede mediante os pacotes de roteiros vendidos para os estrangeiros que desejam visitar a comunidade.
No bairro do Calafate, o Quintal Margarida abriga um quintal urbano, funcionando como um local de espaço familiar que unem a memória, as lutas feministas e trajetória pessoal de Jacinta Marta Tavares Leiro, 55 anos, assistente social. O nome Quintal Margarida homenageia a Tia de Jacinta Marta, Margarida, que lhe ensinou a fazer empadas que são comercializadas no espaço e que teve uma trajetória de luta por melhorias da comunidade do Calafate.
A família de Jacinta Marta Leiro foi uma das primeiras a se instalar no bairro, em 1923. O local serve para as mulheres da comunidade se reunirem com o intuito de organizar a luta pelo fim da violência contra a mulher sendo utilizado também o autocuidado com as moradoras da comunidade através de massagens terapêuticas com atenção ao uso de ervas medicinais e sagradas.
Para a assistente social, o turismo comunitário é uma maneira de fortalecer a autoestima das mulheres da periferia. “ Eu vejo como uma maneira importante de divulgar as belezas nas comunidades das periferias da cidade e também como uma espécie de autoestima na vida dessas pessoas, de mostrar que o bairro onde moram têm história para contar”, diz.
O espaço funciona com visitas agendadas que podem ser realizadas pelo Instagram (@quintal_margarida).
Para saber mais sobre a Rede Batuc e as comunidades que integram o Turismo Comunitário na Bahia, acesse as redes sociais: Instagram (@rede_batuc) ou Facebook: (REDE BATUC-Turismo Comunitário da Bahia). Além da rede, o perfil @bahia_autêntica criado e gerido por Alberto Campos também compartilha conhecimentos e divulga destinos em comunidades que adotam o Turismo Comunitário.
Veja como fazer uma vivência de Turismo Comunitário na Bahia. Conheça algumas das iniciativas que fazem parte da Rede BATUC.
1. Rota da Liberdade – Turismo étnico afro comunitário em quilombo
Local: Cachoeira |Instagram: @turismo_rotadaliberdade
2. Turismo em Movimento – Turismo em assentamento
Local: Santo Amaro | Instagram: Turismo em Movimento
3. Roteiros em Cantos da Chapada – Turismo em assentamento
Local: Itaetê | Instagram: @tbcitaete
4. Vivertur Matarandiba – Turismo em comunidade de pesca
Local: Matarandiba – Vera Cruz | Instagram: @vivermat
5. Grota Quilombola – Turismo étnico afro em quilombo
Local: Mirangaba | Instagram: @grota_quilombola
6. Quilombo do Massarandupió – Turismo étnico afro em quilombo
Local: Entre Rios | Instagram: @quilombolamassarandupio
7. Reserva Pataxó da Jaqueira – Turismo dos povos originários / indígenas
Local: Porto Seguro | Instagram: @qreservapataxodajaqueira
8. Serra Norte Ecoturismo Rural – Turismo comunitário em fundo de pastos
Local: Itiúba | Instagram: @serra_norte_eco_turismo_rural
9. Alagados Turismo Comunitário – Turismo cultural da península de Itapagipe
Local: Salvador | Instagram: @reprotai
10. Quilombo Jatimane – Turismo étnico afro em quilombo
Local: Nilo Peçanha | Instagram: @jatimane
11. Santa Cruz Ponta da Serra – Turismo religioso e cultural comunitário
Local: Adustina | Instagram: @santacruzpontadaserra
12. Quilombo do Tereré e Maragojipinho
Turismo étnico afro em quilombo
Local: Vera Cruz | Instagram: @quilomboterere
13. Platatur – Turismo comunitário – subúrbio
Local: Salvador | Instagram: @plata_tur
14. Quilombo Quingoma – Turismo étnico afro em quilombo indígena
Local: Lauro de Freitas | Instagram: @quilomboquingoma
15. Casa do Boneco Quilombo D’Oiti – Turismo étnico afro em quilombo urbano
Local: Itacaré | Instagram: @casadoboneco.itacare
16. Poço Azul/Assentamento Andaraí – Ecoturismo comunitário
Local: Nova Redenção | Instagram: @qpoco_azul_oficial
17. Associação Despertar Trancoso – TBC – Ecoturismo comunitário
Local: Porto Seguro | Instagram: @despertartrancoso
18. Gente do Conduru – Hospedagens/vivências comunitárias
Local: Serra Grande – Uruçuca | Instagram: @gentedoconduru
19. Quilombo Dandá – Turismo étnico afro em quilombo
Local: Simões Filho | Instagram: @aquidanda
20. Aldeia Pataxó Mirapé – Etnoturismo dos povos originário indígena
Local: Porto Seguro | Instagram: @aldeia_pataxo_mirape
21. Reserva Pataxó de Aldeia Velha
Local: Arraial D’Ajuda, Porto Seguro | Instagram: @reserva_pataxoaldeia_velha