Por Morgana Montalvão
Paulo Pereira de Alencar é um ferroviário aposentado e diretor da Filarmônica União dos Ferroviários Bonfinenses desde 26 de maio de 2000, em Senhor do Bonfim, cidade localizada no centro norte da Bahia e distante 334 km de Salvador. Em 2019, resolveu-se juntar ao maestro Fred Dantas e criou as Filarmônicas Unidas na Bahia (Fub), entidade que pleiteia investimentos para as filarmônicas do estado. Segundo com o diretor da Fub, o governo baiano necessita ter um olhar diferenciado para as bandas filarmônicas no estado.
“Infelizmente, o último programa de Fomento de Filarmônicas do Estado da Bahia foi em 2010, no qual algumas filarmônicas receberam entre R$18 e 30 mil reais para custear as suas necessidades. Desde então, sobrevivemos sem programas de
fomento, exceto a Lei Aldir Blanc na Bahia e recentemente a Lei Paulo Gustavo, ambas emergenciais por causa da pandemia. O governo precisa olhar com mais carinho para as filarmônicas, fazendo um mapeamento destas bandas pelo estado e criando alternativas para manter as filarmônicas em atividade. Infelizmente , hoje, muitas estão fechando as portas”, diz.
De acordo com Paulo Alencar, mais de cem filarmônicas já foram inativadas ao longo dos últimos 30 anos e, existem muitas filarmônicas que não possuem sede própria, instrumentos ou fardamentos. “Sem apoio financeiro é impossível se manter em funcionamento. Por isso, várias filarmônicas recorrem a bingos e rifas para custear parte das despesas, acredito que alguns casos, se submetem a qualquer tipo de apoio em prol da sobrevivência da arte”, complementa o maestro.
Para o maestro Robston Alencar Alves Júnior, regente da Filarmônica 09 de Maio, oriunda da cidade de João Dourado, a 382 km de Salvador e a Filarmônica João Mendes de Almeida, localizada na cidade de Canarana, distante a 383 km da capital, sendo a banda mais jovem do estado, as filarmônicas baianas são ‘esquecidas’ pelo governo estadual. “As bandas vêm tentando a todo custo um diálogo com o governo sobre as dificuldades que todas encontram no momento. Infelizmente , tanto o Governo Federal quanto o Governo Estadual têm deixado muito a desejar. Temos o apoio da prefeitura da nossa cidade, mesmo assim, ainda precisamos recorrer a bingos e rifas para cobrir outras despesas como viagens, encontros de bandas e afins”, completa.
Filarmônicas Unidas na Bahia foi criada para combater discrepância de investimentos
Observando a brutal diferença de investimentos por parte do governo estadual baiano na Neojiba em detrimento das filarmônicas, Paulo Pereira de Alencar, juntamente com o maestro Fred Dantas e outros líderes de bandas baianas, criaram em março de 2019 a Fub para conseguir mais investimento. Alencar se diz insatisfeito com a diferença de tratamento.
“É uma quantidade excessiva de investimentos para o Neojiba, enquanto nós, bandas pequenas, não vemos quase nada. Algumas pouquíssimas filarmônicas recebem [investimento] através de Oficinas de Instrumentos apenas. O Neojiba diz que ajuda as filarmônicas, sendo que o objetivo principal deles, se pudessem, é acabar com as filarmônicas baianas”, complementa.
Para Robston Alencar Alves Júnior, a diferença no tratamento do governo estadual dado às filarmônicas baianas é ‘vergonhoso’. “ É constrangedor. Infelizmente as bandas estão sendo esquecidas pelo Governo do Estado da Bahia. Há bandas centenárias fechando suas portas, maestros sendo desempregados, filarmônicas sem instrumentos e outras com instrumentos defasados. Como se trabalha desse jeito?”
As filarmônicas baianas não têm condições de pagar um produtor cultural para captar recursos através de editais. “Esse ano teve vários editais por parte do Ministério da Cultura e Funarte, porém, nem 50% das filarmônicas baianas estão com diretoria preparadas para captar recursos, como também, não têm condições financeiras de pagar um produtor cultural para captar recursos através dos editais, ficando a maioria sem participar. Tem que ter mais projetos de formação voltada para elaboração de projetos culturais”, explica Paulo Alencar.
Filarmônicas se originaram no século 19
A palavra filarmônica, cuja classe gramatical é um substantivo feminino e exprime ‘amor pela harmonia’, compartilha o mesmo prefixo grego ‘phylos’ presente nas palavras filantropia – que tem por significado ‘altruísmo ou caridade’, e filosofia – que expressa o ‘conjunto de ideias de uma escola ou sabedoria’.
Originárias do século 19, as filarmônicas reuniam associações de músicos que tocavam instrumentos sem buscar lucro financeiro. Nos EUA muitas filarmônicas eram sustentadas por mecenas na virada do século 19 para o século 20. Em muitos países, elas são as Escolas de Música, locais e regionais.
Os instrumentos mais comuns se dividem em três categorias: sopros, que incluem o trompete, clarinete, trombone, tuba, bombardino, flauta transversal, saxofone e trompa de harmonia; cordas, representadas pelo violão, violino e guitarra; e percussão, que abrange o bombo, caixa de rufo, pratos, timbales, maracas, triângulo, pandeireta, bongós, congas, e outros.