Por Ildo Simões (texto do livro “A idade do Co(m)dor”)
– Mãêê! Hoje é dia do genecologista. Faz seis meis que a sinhora num faz inzame!!
– Deus me livre destas modernagens. Eu é que não vou ficar mostrando minhas parte pra estes doutorzinhos com cara de play-boy. Antigamente Doutor Juvêncio resolvia minhas mazelas com Regulador Xavier, Xarope de Melagrião e Vinho de Salsa Caroba. Hoje tudo é injeção, inzame, operação. Pari meus seis filho sem precisar de Doutor. Só com Dona Zefa e seu cachimbo de barro. Depois que a cria nascia, passava a cinza no imbigo e dizia “…
– Maaaê ! Se avexe que estamos atrasada pro inzame !!!
-Quero ir só. Chame um taxi. Sei andar sozinha.
Peguei meu taxi e parei na clínica onde fui atendida por uma sirigaita debochada, que só não perguntou quanto eu guardava debaixo do colchão.
-Quando foi a última vez que a senhora se deitou com um homem?
– Me respeite que sou viúva. Eu sou vim aqui fazê um inzame e não contar minha vida particular.
-Tá bem. Entre e deite nesta cama.
Deitei, tirei o pente que prendia os cabelo; as duas anágua, a calçola e fiquei naquela posição de caranguejo quando enfrenta perigo: as duas pernas pro ar. Entrou na sala um doutorzinho que mais parecia artista de filme de coboy: costeleta; barbicha, e, acreditem, uma tatuagem no braço. Do que me lembro, só marinheiro usava tatuagem, e aí fiquei pensando que devia de ser filho de marinheiro com uma rameira do cais do porto. Entrou e ligou duas televisão. Uma em preto e branco e outra que passava o jogo do Brasil com a França. Ainda cantava num desafino só aquela musiquinha idiota “Voa, voa, canarinho, voa”. Pegou um aparelho que parecia um pé de cabra e começou a esfregar na minha barriga. Acho que tava procurando o lugar de fazer o inzame e daquele jeito não ia achar nunca porque não tirava o olho do jogo. O Brasil tava muito animado e o doutor mais ainda. Não passou cinco minuto e o Brasil fez um gol. O Doutor soltou um grito e apertou com mais força ainda o ferro na minha barriga. Não me contive e dei um grito mais forte que o dele:
-Paaaara, doutor, que o senhor tá furando o meu imbiiiigo!!
Pulei da mesa, enfiei as minha saia e minhas calçola e corri pra casa prometendo a Santa Terezinha do Menino Jesus que nunca mais voltava naquela espelunca.
Cheguei em casa arrancando os cabelos e contei o que houve pra minha filha e ela muito simplória disse:
-Ah mãe, esquente não; máquina também erra!!
-Velho sooooooooooooofre