Caio Queiroz, CEO da Aguama, empresa com mais de 20 anos de experiência em Sustentabilidade, fala sobre a importância da união entre iniciativa pública e privada para estimular o desenvolvimento de regiões que vivem do turismo sustentável, mas que ainda carecem de investimentos
O turismo sustentável está ganhando cada vez mais espaço na agenda dos brasileiros. Segundo uma pesquisa da Booking com viajantes feita no ano passado, 87% dos entrevistados afirmaram que desejam fazer viagens mais sustentáveis, o que joga luz sobre o fortalecimento dessa indústria em um país cuja diversidade sociocultural e ambiental marcam suas diferentes regiões.
De acordo com a definição da Organização Mundial do Turismo (OMT), natureza, economia e comunidade têm de estar em equilíbrio para que a sustentabilidade se mantenha no longo prazo, otimizando o uso dos recursos, garantindo a preservação ambiental, respeito às características socioculturais dos moradores, além da geração de emprego e renda, e contribuindo para o desenvolvimento da região.
Essas premissas também são levadas em conta quando falamos sobre a realização de eventos que focam no turismo sustentável. Segundo Caio Queiroz, CEO da Aguama Ambiental, que atua nesse mercado em diversas regiões do país como Fernando de Noronha (PE) e Preá (CE), fazer a adequação de práticas adotadas em grandes eventos em locais com menos infraestrutura é um ponto de estímulo importante para promover a sustentabilidade na região, além de estimular a educação ambiental e comunicação.
“Por exemplo, o evento tem que estimular a prática da coleta seletiva para mandar os resíduos para uma reciclagem e não parar em lixões – muitas localidades inclusive não têm estrutura adequada para isso. E, para reforçar essa mensagem, influenciadores e os patrocinadores do evento podem exercer um importante papel nesse sentido”. Caio cita um exemplo praticado pela Heineken, patrocinadora de um dos eventos de turismo sustentável realizado pela Aguama, em Fernando de Noronha. “A empresa transforma as garrafas de vidro coletadas nas reciclagens espalhadas pelo evento em areia, doada para a construção civil, promovendo a economia circular”.
Outro ponto-chave para o fortalecimento do turismo sustentável por meio de eventos é a sinergia entre governo, empresas privadas, sociedade e organizações sociais. “Isso faz com que o evento seja equilibrado, os turistas tenham um comportamento sustentável, ajudando a cuidar do local”, diz Caio
Queiroz explica ainda que é preciso alinhar as expectativas de ambos os atores envolvidos no processo. “De um lado, a prefeitura busca aumentar o número de turistas para sua cidade para gerar mais receita. Do outro, os organizadores dos eventos também querem
‘casa cheia’. No entanto, é preciso ter uma equalização, uma adequação de estrutura para comportar corretamente os visitantes, de forma que isso não crie problemas para a cidade e acaba gerando prejuízos socioambientais”, explica.
Desafios e políticas públicas
O CEO da Aguama destaca que a legislação brasileira é favorável para a implementação dessas ações, porém, a falta de fiscalização em regiões mais afastadas acaba enfraquecendo sua eficácia.
Na visão dele, as políticas públicas de incentivo e inovação para a sustentabilidade nas regiões mais afastadas ainda são muito incipientes. “Batalhamos para trabalhar unido com o governo para pavimentar melhor essas ideias e fomentar as políticas e programas sustentáveis, que ainda precisam de mais força. Atualmente estamos trabalhando com um parceiro chamado Somos Um Ceará para fomentar o empreendedorismo e desenvolvimento sustentável em algumas regiões do Nordeste”, conta.
Estabelecer termos de cooperação com as prefeituras locais é o que a Aguama tem feito, já conta com parcerias com a administração de Fernando de Noronha (PE) e Jericoacoara (CE). “Ao organizarmos as ações, a administração pública junto a população local nos sinalizam sobre quais aspectos precisam de mais ajuda na região e estudamos como trazemos nossos recursos para implementar ações que tragam impacto positivo para a cidade”, enfatiza Caio.
Para reduzir os impactos socioambientais e estimular o desenvolvimento, Caio aposta na contratação de parceiros locais o máximo possível. “Empresas e profissionais locais movimentam a economia local e geram oportunidades de trabalho. E, de repente, até mesmo ajudar com programas de formação e empreendedorismo para treinar essas pessoas para que elas possam prestar um serviço cada vez melhor na região”, complementa.
E isso, segundo ele, tem a ver com a importância de deixar um legado positivo para a região a cada evento realizado. “Seja na geração de empregos, na doação de recursos com equipamentos para incentivar atividades como a reciclagem, viveiros, veículos. Ou seja, tudo o que possa ajudar o município a se desenvolver do ponto de vista sustentável”.
Expertise
Há mais de duas décadas no mercado, a Aguama conta com várias iniciativas em andamento para integrar a sustentabilidade no turismo e eventos. Desde um mobiliário urbano, que ajuda a estruturar as regiões mais carentes, incluindo coletores seletivos, cuja manutenção é feita por eles ao longo do ano, mantendo a comunidade assistida.
Além disso, presta um serviço de assessoria que ajuda cooperativas, empresas locais de coleta de lixo, entre outras, a aprimorar seus planos de gestão de resíduos municipais junto à prefeitura.
Também desenvolveu uma plataforma digital de gestão de cidades que contribui na gestão de recursos, como água, saneamento, educação, resíduos, entre outros. E ainda incentiva a realização de eventos locais para fomentar a cultura e o lazer nas regiões.
E o carro-chefe, segundo Caio, é o Fórum de Sustentabilidade. “Como forma de refletir esta visão sistêmica, e efetivar o conceito de evento responsável, a Aguama criou o Fórum de Sustentabilidade e Turismo, um evento proprietário que concentra tudo isso e funciona como uma ferramenta atrair e levantar a bandeira da sustentabilidade, atraindo todos os públicos para discutir o assunto. Ao longo desses encontros, abrimos espaço para a comunidade mostrar seus projetos locais, além de trazer empresas de outras regiões para fazerem possíveis investimentos nessas iniciativas, fomentando o empreendedorismo, divulgando a agenda positiva do município e as ações da iniciativa privada”, conclui.