No Corais de Maré, iniciativa patrocinada pela Braskem, comunidade aprendeu a “plantar” corais na Baía de Todos-os-Santos, utilizando o plástico e outros materiais recicláveis
Em uma iniciativa que visa não apenas à preservação ambiental, mas também ao desenvolvimento sustentável da comunidade local, jovens moradores da Ilha de Maré, em Salvador, foram capacitados pelo Corais de Maré para atuar diretamente na criação e restauração do coral nativo da Baía de Todos-os-Santos. Por meio de uma tecnologia inédita, o projeto utiliza o plástico e outros materiais recicláveis para potencializar o crescimento da espécie Millepora alcicornis. A ação é realizada pela Carbono 14, em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e o Instituto de Pesca Artesanal da Ilha de Maré (IPA), com o patrocínio da Braskem.
Claudiane Anjos Santos é uma dessas jovens que foram capacitadas para atuar no projeto. “É maravilhoso fazer parte de uma equipe que se dedica ao ecossistema marinho. Sinto que o oceano me escolheu para cuidar dele, ver os corais que plantamos crescerem”, explica Claudiane. Em 2023, o projeto iniciou a produção de 750 novas mudas de corais que irão se somar a outras mil mudas já plantadas em uma área de cinco mil metros quadrados no fundo do mar da Ilha de Maré. “Na medida que fomos instalando as áreas de criação de corais percebemos que a cada monitoramento havia mais peixes no local”, orgulha-se Claudiane.
A iniciativa usa suportes de plástico para fixar as mudas em sementeiras, que são feitas com esqueletos do Coral-sol, espécie considerada invasora na região. Essas sementeiras são colocadas em berçários no fundo do mar para o desenvolvimento do coral nativo Millepora alcicornis. No primeiro ano do experimento, o uso do poliacetal, um tipo de plástico conhecido por sua resistência, fez o coral nativo dobrar sua taxa de crescimento.
O CEO da Carbono 14, José Roberto Caldas, mais conhecido como Zé Pescador, explica que a capacitação dos jovens envolveu a aproximação com a universidade, por meio do Laboratório de Oceanografia Biológica do Instituto de Geociências da UFBA e o intercâmbio com outras organizações e localidades baianas, como a Ilha de Itaparica. “É um projeto que utiliza a ciência cidadã para diminuir a distância e complementar os saberes do pescador, da marisqueira, do filho do pescador, que também é pescador. Por meio da capacitação, a comunidade tem a oportunidade de fazer parte dessa atividade inédita e pioneira na Baía de Todos-os-Santos, que utiliza o esqueleto do bioinvasor, o Coral-sol, para produzir sementeiras e cultivar corais nativos”, esclarece Zé Pescador.
Socioambiental – Talita Rego Maciel, outra moradora de Ilha de Maré que atua no projeto, não sabia que poderia ajudar a cuidar do mar replantando corais. Entretanto, o que chamou mais a sua atenção durante o trabalho foi o branqueamento de alguns corais. “Muito triste ver os efeitos do aquecimento global tão perto da minha comunidade, mas ao mesmo tempo me criou esperança, porque enquanto alguns corais estavam branqueando, outros que foram colocados pelo projeto estavam saudáveis e isso demonstra o quanto esse trabalho é importante”, destaca.
Para Talita, além do aspecto ambiental, o projeto Corais de Maré tem outro âmbito, o social. “A maioria das pessoas da Ilha de Maré vivem da pesca, então se nós estamos criando um ambiente favorável aos animais marinhos, estamos também causando um impacto proveitoso na vida de cada um deles, pelo exemplo da importância de preservar o meio ambiente, já que é de lá que vem o sustento dessas famílias”, afirma. Ela deseja que o mar volte a ser como nos tempos de seu avô, com vida em abundância. “Que o mar nunca deixe de nos prover, que as gerações futuras sejam beneficiadas pelo que foi e ainda será realizado”, sentencia.
Para Alana Carvalho de Jesus, de 21 anos, que também atua no projeto, a iniciativa tem ensinado a comunidade a importância de preservar e cuidar do mar. “Além de restaurar os corais, realizamos limpezas de praia e submarina, alertando e ensinando como cada um pode fazer sua parte na preservação dos nossos recifes”, ressalta a jovem.