Com aulas presenciais e online, os três novos cursos exploram os diversos modos de escrita na arte, o processo de formação e evolução da arquitetura moderna brasileira e uma análise do surrealismo no seu centenário, explorando seus aspectos literários e plásticos
Em maio, o Museu de Arte Moderna de São Paulo promove três cursos ministrados por profissionais das áreas de arquitetura, artes plásticas e literatura. As inscrições podem ser realizadas através do site do MAM (mam.org.br/curso/), e membros do programa Amigo MAM têm 20% de desconto; estudantes, professores e aposentados têm 10%.
Confira a programação completa:
CURSO ONLINE | ARQUITETURA MODERNA NO BRASIL, com Renato Anelli
Contempla certificado no final
Dias 13, 20, 27 de maio, 03, 10, 17, 24 de junho e 01 de julho, segundas-feiras, das 19h às 21h
8 encontros | Investimento: R$ 640,00
Público: interessados em geral
Programação
Aula 1 – Modernismo e Modernização
Aula introdutória ao curso, desenvolvendo a conceituação de Marshal Berman apresentada em seu livro “Tudo que é sólido desmancha no ar” (1986), a partir da interpretação de Adrian Gorelik em “O moderno em debate: cidade, modernidade, modernização” (1999) e Marta Gutman em “Teaching Marshal / Marshal teaching: Encounters with Berman” (2016).
A aula parte da interpretação da pintura “La Gare Saint-Lazare” de Claude Monet (1877) e das entradas das estações de Metrô projetadas por Hector Guimard (1900) para discutir o papel da arte e da arquitetura na modernização produtiva, social e política do século XIX.
Aula 2 – A retórica colonial na República: modernização social e os dilemas da identidade nacional
Com enfoque na primeira República, a aula discute a recuperação do passado colonial como raiz da nacionalidade na cultura. Aborda a modernização social e produtiva do Brasil através das infraestruturas urbanas e da arquitetura neoclássica de Ramos de Azevedo. Explora a interpretação da arquitetura colonial nas pesquisas de José Wasth Rodrigues e José Mariano orientadas pelo neocolonialismo. Analisa a síntese entre moderno, arcaico e paisagem natural nas pinturas de Tarsila do Amaral. Debate o posicionamento de Mário de Andrade e Oswaldo de Andrade sobre o moderno na arquitetura, como a chegada das casas modernistas de Gregori Warchavchik.
Aula 3 – Construção da identidade nacional moderna e hegemonia da representação do estado nacional
A aula parte da exposição simultânea da Casa Modernista de Warchavchik com o lançamento do Plano de Avenidas para São Paulo de Prestes Maia e a Revolução de 1930. Apresenta a construção da identidade nacional moderna através de Lúcio Costa, destacando o papel da integração das artes na arquitetura. Analisa as artes plásticas modernas, com ênfase em temáticas nacionais e sociais por artistas como Portinari, Di Cavalcanti e Bruno Giorgi. Este processo culmina em dois projetos de Oscar Niemeyer que o elevam ao foco central da arquitetura moderna brasileira: o Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova York, em coautoria com Lúcio Costa (1939) e Pampulha (1942). A exposição “Brazil Builds: architecture new and old”, promovida pelo MoMA em 1943, consolida essa corrente, apresentando-a como referência internacional de esperança em plena destruição da Segunda Guerra Mundial.
Aula 4 – Arquitetura moderna como instrumento de modernização econômica e social no Brasil e América Latina: Interiorização e internacionalização
A aula apresenta o papel ativo da arquitetura moderna brasileira na modernização do país, projetando fábricas, conjuntos habitacionais, redes de escolas públicas e equipamentos de saúde no esforço de construção de um estado de bem-estar social para uma população que se urbanizava velozmente. Explora os movimentos concretista e neoconcretista nas artes plásticas e sua relação com os novos parâmetros da arquitetura. Destaca a forte presença da arquitetura moderna brasileira no exterior, em países como Venezuela, Estados Unidos e Alemanha, através das obras de Oscar Niemeyer, Rino Levi e Roberto Burle Marx.
Aula 5 – Brasília e Salvador: duas faces do desenvolvimentismo no Brasil
Analisa o projeto e a construção de Brasília como a síntese do projeto político e cultural do modernismo brasileiro. Discute o papel da Universidade da Bahia e do Museu de Arte Moderna da Bahia no plano de desenvolvimento regional do Nordeste, proposto por Lina Bo Bardi e artistas da região. Destaca a pesquisa etnográfica Nordeste conduzida por Lina em conjunto com Livio Xavier no Ceará e Francisco Brennand. Brasília e Salvador se apresentam como dois caminhos para a relação entre cultura e economia, que poderiam ser complementares, se não ocorresse o golpe militar de 1964.
Aula 6 – Entre tecnocracia e contracultura: arte, arquitetura e cidade no “milagre brasileiro”
A aula foca na polarização política e cultural característica do período autoritário inaugurado em março de 1964. Analisa movimentos de arte moderna e popular que se radicalizaram na luta de oposição, politizando a produção nas artes plásticas, arquitetura, teatro e música. Explora as obras do Grupo Arquitetura Nova, a teoria crítica de Sérgio Ferro, o urbanismo de favelas de Carlos Nelson Ferreira, a cenografia de Flávio Império e Lina Bo Bardi. Por outro lado, discute o crescimento exponencial das cidades e os investimentos públicos em grandes obras, que acentuaram os contrastes sociais. A arquitetura moderna configurou redes de infraestrutura urbana, como os metrôs de São Paulo e Rio de Janeiro, com relevantes características ambientais e paisagísticas.
Aula 7 – Moderno e pós-moderno na redemocratização
Aborda a revisão crítica ao movimento moderno iniciada na Europa e Estados Unidos na década de 1950, que atingiu o Brasil na década de 1980. Analisa o pós-modernismo brasileiro em suas três correntes: uma de viés Pop, outra de orientação historicista e uma terceira regionalista. Destaca a obra de Severiano Mário Porto na Amazônia como a mais relevante desse movimento. Discute a continuidade e o aprimoramento da arquitetura moderna, tendo Paulo Mendes da Rocha como seu mais destacado expoente na virada do século XX para o XXI.
Aula 8 – Arte e arquitetura moderna de Brasília no centro da disputa política do século XXI
Explora as políticas de inclusão social propiciadas pelo primeiro quartil do século XXI e seu impacto na ampliação do campo da arte e arquitetura. Destaca a denúncia e o combate ao racismo estrutural brasileiro por negros descendentes de escravizados e indígenas. Analisa a cultura das periferias e favelas, que se impõem alterando temas e território de atuação da arquitetura. Discute a cerimônia de posse do novo presidente em Brasília, seguida pela invasão e depredação dos palácios dos três poderes por seus opositores, como momentos emblemáticos desse período.
Sobre o professor
Renato Anelli, arquiteto urbanista e educador, possui uma vasta trajetória acadêmica, incluindo títulos de Mestre em História e Doutor em História da Arquitetura. Aposentado como Professor Titular do IAU USP São Carlos, atualmente é professor doutor no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie. Sua experiência internacional inclui períodos como professor visitante em instituições renomadas em Veneza, Hamburgo e Austin. Além disso, desempenha papéis importantes como Conselheiro e Curador do Instituto Bardi/Casa de Vidro e Diretor de Cultura do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento de São Paulo.
CURSO ONLINE: A REBELIÃO SURREALISTA: ESTÉTICA, PSICANÁLISE E POLÍTICA, com Reynaldo Damazio
Contempla certificado no final
Dias 10, 17, 24 de maio, 07 e 14 de junho, sextas-feiras, das 18h às 20h
5 encontros | Investimento: R$ 400,00
Público: interessados em geral
Programação
Aula 1 – No limiar do século XX
– Vanguardas literárias: movimentos literários do início do século XX, modernismo, ultraísmo etc.
– Conceito de inconsciente na psicanálise: publicação do ensaio de Freud e sua influência na literatura
– Convulsões sociais primeira guerra, revolução russa, crise de 1929
Aula 2 – A Revolução Surrealista
– Manifestos, movimentos: agitação surrealista, primeiro manifesto, Lautréamont, Rimbaud, Apollinaire & Cia
– Literatura e psicanálise: relação entre pressupostos surrealistas e conceito de inconsciente de Freud
– Escrita automática: método de criação proposto pelos surrealistas
Aula 3 – Gabinete do sonho
– Imagens do inconsciente: abertura do processo de criação artística para o inconsciente, o sonho como fundamento do real
– Artes plásticas e cinema: Dali, Miró, Ernst, Magrite, Buñuel, entre outros
– Cubismo, Dadá e Surrealismo: como os movimentos dialogam, atritam e fazem uma crítica devastadora da razão e do mundo burguês
Aula 4 – Rastros da vertigem
– Realismo mágico: influência do surrealismo no boom da literatura e na arte latino-americana
– Contracultura: a imaginação no poder nos movimentos da década de 1960
– Tropicália: traços do surrealismo em Torquato Neto e nos tropicalistas
Aula 5 – Surrealismo no Brasil
– Pós-modernistas: Murilo Mendes, Ismael Nery, Maria Martins
– O caso Campos de Carvalho: autor emblemático influenciado pelo surrealismo
– O boom do conto nos anos 70: influência do surrealismo na produção de contos no período de resistência à ditadura militar
Sobre o professor
Reynaldo Damazio é editor, crítico literário, escritor e coordenador de cultura. Foi co-editor do jornal “Caderno de Leitura”, da EdUSP, colaborador do Guia de Livros da “Folha de S. Paulo” e das revistas Cult”, “Arte Brasileiros”, “Entrelivros”, “Mente e Cérebro”, “Nossa América” e “Literatura: Conhecimento Prático”. Autor de “Horas perplexas” (Editora 34), “Com os dentes na esquina”, “notas, trilhas & outras tramas” (Dobradura Editorial), “Crítica de trincheira: resenhas” (Giostri Editora), “Movimentos portáteis” (Kotter Editorial), entre outros. Traduziu “Calvina (SM Editora), de Carlo Frabetti, e “Cenotáfios” (Rua do Sabão), de José Luis Gómes Lobo, com Camila Assad, entre outros.
CURSO PRESENCIAL: “DESABAMENTO DE TEXTOS: PALAVRAS, ESCRITAS E LEITURAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA, com Lívia Aquino, Fábio Morais e Daniela Avelar
Contempla certificado no final
Dias 25 de maio, 01, 08, 15, 22 e 29 de junho, 06 e 13 de julho,
sábados, das 10h às 12h
8 encontros | Investimento: R$ 640,00
Público: interessados em geral
Programação
Aula 01 – Modos de escrita na arte (Daniela Avelar, Fabio Morais e Lívia Aquino)
Apresentação do curso
Discussão coletiva a partir de perguntas disparadoras sobre diferentes modos de escrita nas artes visuais
Aula 02 – Escrita mínima (Fábio Morais)
Escritas mínimas são mais enunciativas que argumentativas, oscilando entre a lírica, a comunicação ou a presença semântico-literal das palavras. De leitura momentânea, têm maior apelo imagético que textos longos, atendendo à plasticidade de práticas expositivas. A aula aborda as formalizações materiais e as estratégias de apresentação de escritas mínimas, palavras-frases e enunciados curtos em obras de Hélio Oiticica, Rubens Gerchmam, Santiago Sierra, Carmela Gross, Lívia Aquino, Paulo Nazareth, Vânia Mignone, Daniela Avelar, Denilson Baniwa, Regina José Galindo.
Aula 03 – Espaços literários dentro de espaços expositivos (Fabio Morais)
Textos com maior duração de leitura/escuta possibilitam práticas pouco comuns na arte, como a narrativa e a ficção. De fruição lenta e circunspecta, alteram a temporalidade e a relação com o espaço expositivo. A aula analisa procedimentos formais de textos que, embora pudessem ter lugar cativo em páginas e telas, instauram-se no espaço tridimensional. São abordadas obras de Randolpho Lamonier, Dora García, Rafael RG, David Wojnarowicz, Aníbal López, Adrian Piper, Jota Mombaça, Rosângela Rennó, Zoe Leonard, Marta Neves, Giselle Beiguelman, Esther Ferrer.
Aula 04 – Instruções para imaginar (Daniela Avelar)
A partir da ideia de instruções, em artistas como Yoko Ono, Fluxus, George Brecht, Lawrence Weiner, Luis Camnitzer e Paulo Bruscky, a aula aborda a dimensão não realizável desses textos. Ao não efetivar essas instruções, os textos adquirem características poético-literárias, ativando imagens no campo cognitivo e mental.
Aula 05 – Instruções para agir (Daniela Avelar)
Abordando outra dimensão das instruções, a aula propõe a discussão de trabalhos nos quais os textos são, no processo do artista, disparadores da efetivação material de obras em ações e performances, que irão se constituir conforme a contingência de cada realização. Serão abordadas obras de Sophie Calle, Eleonora Fabião, Esther Ferrer e Dora García, entre outras.
Aula 06 – Leitura e performance (Lívia Aquino)
Em “El arte de la performance teoría y práctica”, a artista Esther Ferrer investiga a leitura como ação, explorando diferentes usos e sentidos no campo da arte. Essa aula parte dessa performance como eixo para observar outras proposições artísticas que ativam processos de leitura em diversos modos como a leitura partilhada em voz alta, em silêncio, nos espaços destinados para tal, em outros criados por grupos apontando assim para o texto que acontece como espaço sonoro com artista como Ana Gallardo, Rubiane Maia, Dora García, Ana Teixeira, Kevin Simón Mancera, Vera Chaves Barcelos, Adelaide Ivánova, Anibal López, Grupo Contrafilé e Grada Kilomba.
Aula 07 – Escrita, palavra-cenário e espaço público (Lívia Aquino)
Explorar a escrita como síntese e como ela opera nos distintos espaços e suportes onde acontece, desde Jenny Holzer com os truísmos espalhados na cidade que sugerem um tipo de esgotamento da linguagem até artistas mais recentes colados à sua realidade política, como Regina José Galindo, Alfredo Jaar, Juan Carlos Romero, Santiago Sierra, Doris Salcedo, Carmela Gross, Barbara Kruger e Guerrilla Girls.
Aula 08 – Encerramento (Daniela Avelar, Fabio Morais e Lívia Aquino)
Levantamento de questões sobre os temas trabalhados ao longo do curso e proposição de exercício prático de escrita.
Sobre os professores
Daniela Avelar (São Paulo, 1988) é artista, escritora e educadora. Doutora e mestra em artes visuais, investiga instrumentos literários como apropriação, uso e recontextualização a partir de restrições autoimpostas em instalações, publicações, vídeos e ações. Participou da Bienal Internacional de Arte Contemporânea SACO (2023), Chile e de residências em Haukijärvi, Finlândia (“Enter Text” – Arteles Creative Center, 2019), Flip – Festa Literária Internacional de Paraty (Casa do Papel, 2017) e Courants du Monde, Paris (Ministério da Cultura e Comunicação da França, 2013). Ministra cursos sobre escrita e realiza curadoria educativa de exposições como Lamento das imagens – Alfredo Jaar (2021) e Arte-veículo (2018), Sesc Pompeia, São Paulo e, atualmente é curadora educativa da 22ª Bienal Sesc_Videobrasil.
Fabio Morais (São Paulo, 1975) é artista plástico. Atua nos espaços expositivo e editorial fundindo visualidade e escrita ao experimentar a plasticidade e a espacialidade da linguagem verbal na ficção, na história, nas estórias, na narrativa. É doutor em Artes Visuais pela UDESC, com pesquisa sobre a escrita como obra, no campo da arte. Participou de coletivas em instituições como Bienais de São Paulo e do Mercosul, MAM-SP, Instituto Tomie Ohtake, CCSP, MASP, MUBE, Sesc, Museu da Língua Portuguesa, MACBA, MAC Lyon, CGAC, Astrup Fearnley Musset, Bonniers Konsthall.
Lívia Aquino (Fortaleza, 1971) é pesquisadora do campo da cultura e das artes visuais, é professora e artista. Sua prática opera conexões entre a imagem, a escrita e a leitura, explorando seus significados e os sentidos que produzem no espaço e com o outro, como participador. Graduada em Psicologia, atua também como psicoterapeuta. Doutora em Artes Visuais e Mestre em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). É professora na pós-graduação em Práticas Artísticas Contemporâneas e na graduação de Artes Visuais e de Produção Cultural da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo. Autora do livro Picture Ahead: a Kodak e a construção do turista-fotógrafo, Prêmio Funarte Marc Ferrez 2015.
Sobre o MAM São Paulo
Fundado em 1948, o Museu de Arte Moderna de São Paulo é uma sociedade civil de interesse público, sem fins lucrativos. Sua coleção conta com mais de 5 mil obras produzidas pelos mais representativos nomes da arte moderna e contemporânea, principalmente brasileira. Tanto o acervo quanto as exposições privilegiam o experimentalismo, abrindo-se para a pluralidade da produção artística mundial e a diversidade de interesses das sociedades contemporâneas.
O Museu mantém uma ampla grade de atividades que inclui cursos, seminários, palestras, performances, espetáculos musicais, peças de teatro, sessões de filmes e práticas artísticas. O conteúdo das exposições e das atividades é acessível a todos os públicos por meio de visitas mediadas em libras, audiodescrição das obras e videoguias em Libras. O acervo de livros, periódicos, documentos e material audiovisual é formado por 65 mil títulos. O intercâmbio com bibliotecas de museus de vários países mantém o acervo vivo.
Localizado no Parque Ibirapuera, a mais importante área verde de São Paulo, o edifício do MAM foi adaptado por Lina Bo Bardi e conta, além das salas de exposição, com ateliê, biblioteca, auditório, restaurante e uma loja onde os visitantes encontram produtos de design, livros de arte e uma linha de objetos com a marca MAM. Os espaços do Museu se integram visualmente ao Jardim de Esculturas, projetado por Roberto Burle Marx para abrigar obras da coleção. Todas as dependências são acessíveis a visitantes com necessidades especiais.
Serviço
Museu de Arte Moderna de São Paulo
Cursos de maio no MAM
Inscrições disponíveis pelo site https://mam.org.br/curso/
Membros do Amigo MAM têm 20% de desconto. Estudantes, professores e aposentados têm 10%.
Dúvidas: cursos@mam.org.br | WhatsApp: 11 99774 3987