Coluna de Reynivaldo Brito
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O artista baiano Mário Britto é pintor, desenhista, ilustrador, muralista, restaurador e educador. Desde os quatro anos de idade que começou a desenhar e era um preocupação para a família porque se tivesse um lápis ou uma caneta nas mãos ia desenhando em tudo que encontrasse pela frente. Em sua casa tinha um conjunto de móveis forrado de napa e ali ele se jogou e desenhou tudo que vinha na cabeça. Seus pais ficaram aborrecidos, mas o seu talento foi defendido por um tio que era arquiteto e trabalhava na tradicional Loja Oswaldo Araújo, que vendia materiais para arquitetos e engenheiros, situada na Rua Carlos Gomes, no Centro de Salvador-Ba. Seu pai tinha uma pequena escola chamada de Instituto Nossa Senhora Auxiliadora, que funcionava num imóvel perto do cemitério do Campo Santo, no bairro da Federação, e foi lá que concluiu seu curso primário e o ginasial na Escola São José, localizada na Rua da Imperatriz, e em seguida foi fazer o segundo grau no João Florêncio Gomes, no bairro Ribeira, em Salvador-Ba. Sua família morava próximo no bairro da Boa Viagem onde passou sua infância, mas confessa que não teve muita liberdade porque seus pais não deixavam que fosse brincar na rua com receio da violência, que já começava a assustar as famílias baianas. Seu pai tinha a escola, mas também exercia a função de escrivão na Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia. Talvez pela proximidade com as ocorrências policiais ele protegia mais os filhos e evitava muita exposição nas ruas. Já sua mãe Noely Pessoa Gomes era enfermeira e trabalhava no Hospital das Clínicas, da UFBA.
O seu tio Wilson Pessoa Gomes passou a lhe fornecer cadernos e lápis de cor para que desenhasse até que ao terminar o segundo grau no Colégio João Florêncio Gomes, no bairro da Ribeira, em Salvador-Ba, ele decidiu que queria fazer vestibular para a Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia. Porém, seu tio e os pais pressionaram para que fizesse para arquitetura, e assim ele se inscreveu e foi aprovado na segunda opção que foi Geografia. Em 1989 o vestibulando tinha que colocar três opções quando iria fazer o vestibular. Começou a frequentar, mas sentiu que não era a sua praia porque o que mais lhe assustou é que o curso de Geografia tinha muita Matemática, disciplina que muitos evitam. Porém, saía todos os dias de casa para a faculdade e pouco frequentava as aulas de Geografia. Isto até que o ano acabou e sem ninguém saber se inscreveu para um novo vestibular desta vez para a Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, sendo aprovado e foi aí que realmente se encontrou com seus desejos e aptidões.
Sonho Realizado
Disse Mário Britto que aí seu sonho começou a se realizar e lembra que teve bons professores como a Graça Ramos, os saudosos Ailton Lima e Riolan Coutinho, dentre outros. Seu gosto pelo desenho o ajudou nas disciplinas e sempre era um dos mais destacados nos exercícios e trabalhos da EBA, onde se formou em 1995. Mas, ao terminar a Escola de Belas Artes e foi enfrentar o mercado sentiu muito as dificuldades e a falta de apoio que encontram os jovens artistas em nosso país, e particularmente na Bahia. Lembro que nos anos 70 e 80 existiam em Salvador-Ba um número considerável de galerias e outros espaços culturais que davam oportunidades aos jovens artistas, inclusive buscavam empresas para ajudar no patrocínio do convite, do coquetel e outras despesas para a realização de uma exposição. Fez trabalhos de restauração em obras de arte da Associação Comercial da Bahia dentre outras e também algumas curadorias.
O Mário Britto fez sua primeira exposição na Galeria do Aluno da EBA, em 1993, local onde os alunos dão os primeiros passos visualizando o aprendizado e o mercado de arte. Nesta estreia eles vêm a reação do público, os elogios fáceis de parentes e amigos e algumas críticas positivas ou não para que possam corrigir e melhorar seu desenho, sua pintura. Porém, com Mário aconteceu diferente porque quando ele ainda estudava o primário da Escola Sítio da Petizada, com onze anos de idade participou de um concurso promovido
pela rede de supermercados o Paes Mendonça, que era proprietária dos principais mercados de Salvador, e foi vencedor . Isto foi no ano 1979 quando a rede de supermercados foi inaugurar a loja no bairro do Pirajá, local onde se desenrolou a famosa Batalha de Pirajá ocorrida em 8 de novembro de 1822. Porém, os baianos só expulsaram definitivamente os invasores portugueses em 2 de julho de 1823, consolidando definitivamente a Independência do Brasil. A empresa de publicidade Publivendas que atendia a conta do Supermercado Paes Mendonça, dirigida pelo saudoso Fernando Carvalho, teve a ideia de realizar este concurso e a premiação era uma viagem à Disney do estudante vencedor oriundo de um colégio público com direito a levar um acompanhante com todas as despesas pagas pela empresa. Era um concurso de redação sobre a Batalha de Pirajá. Porém, o Mário Britto teve uma sacada diferente e fez seu trabalho com uma História em Quadrinhos contando a saga dos baianos naquela batalha sangrenta onde saíram vencedores. A comissão gostou da ideia e o premiou.
Como podemos observar Mário Britto tem uma predileção por pintar a mulher me disse que isto acontece devido “a beleza, a plasticidades e a inteligência das mulheres”. Fez algumas exposições com a temática baseada na pintora mexicana Frida Khalo e devido a ter feito essas exposições homenageando a feminista alguns insistiam em chamá-lo de “o pintor de Frida Khalo”, coisa que ele acha normal, mas não concorda porque sua obra é versátil e abrangente. Todo seu processo pictórico parte do imaginário , mas ele tem uma pegada de influência da Pop Art que surgiu nos anos 50 e se espalhou pelo mundo tendo o Andy Wahol como um dos seus mais conhecidos representantes. Este movimento se identifica com temas relacionados ao consumo, a publicidade e ao estilo de vida americano. No entanto, esta denominação surgiu em 1950 na Inglaterra. Vemos portanto, que as mulheres de Mário Britto têm uma semelhança com personagens de Histórias em Quadrinhos e desenhos publicitários. O colorido é forte, os traços livres e um pouco caricaturescos, mas a sua arte tem a influência também na cultura baiana . É preciso ter um bom domínio do desenho para se chegar a este nível de pintura.
Galeria 13
Foi a icônica Galeria 13 localizada na Rua das Laranjeiras, 13, no Centro Histórico de Salvador-Bahia criada pelo artista performático Deraldo Lima onde ele fez a primeira exposição num espaço comercial. É bom dizer que o Deraldo quase não queria receber nada dos artistas, era um homem completamente desconectado com dinheiro. Gostava de estar no meio dos colegas artistas e sempre procurava fazer suas performances e até chegou a pintar. O Mário Britto faz questão de dizer que Deraldo Lima foi fundamental para que ele continuasse como artista porque “a Galeria 13 era um espaço democrático e lá a gente encontrava muitos colegas e também alguns malucos do bem! O Deraldo Lima confiou no meu trabalho, sendo eu um artista iniciante, e quando vendi algumas obras ele não queria receber a comissão, mas fiz questão de pagar, porque sabia da dificuldade e dos custos para manter uma galeria em funcionamento,” disse Mário Britto.
“Depois fiquei sabendo que ele tinha herdado uns imóveis na área e que recebia aluguéis, mas resolveu vende-los e comprou um sítio no subúrbio nas bandas de Periperi. Porém, anos depois ele vendeu e retornou para o Gravatá, que foi onde permaaneceu morando por mais tempo em Salvador. Infelizmente foi consertar o telhado e subiu numa escada e terminou caindo e falecendo desta queda”, disse Mário Britto.
Fez exposições individuais: 2018 – Bazar /Artes do Artista Visual Mário Britto, na Galeria Pousada Solar das Artes na Rua das Laranjeiras, Pelourinho, Salvador/Ba; 2015 – Exposição Devaneios sobre Frida Kahlo, na Pousada Solar das Artes, no Pelourinho, Centro Histórico, Salvador – Ba; 2013 – Exposição Frida Kahlo in Neverland, na Casa 14 Galeria, no Centro Histórico. Salvador – Ba; 2012 Exposição Dois Mundos, no Teatro XVIII, no Centro Histórico, Salvador – Ba; 2011 Exposição Frida Face’s, no Teatro do Gamboa Nova em Salvador-Ba; 2008 Exposição “Frida Kahlo na Livraria Siciliano , no Shopping Iguatemi, Salvador – Ba; 2007 Exposição Fixação e Ficções Sobre Frida Khalo, na Galeria Nelson Dahia, no espaço SENAC – Pelourinho , Salvador – Ba; 2006 Exposição Frida Kahlo e o Deserto de Cactos Amarelos, na Galeria de Arte Carlo Barbosa, em Feira de Santana – Ba; 2004 Exposição Revisitando Frida Kahlo, na Galeria Moacir Moreno ,Teatro XVIII, Salvador – Ba; 1998 a Exposição Aeroanjos, na Galeria XIII no Centro Histórico, Salvador- Ba e em 1993 a Exposição Darkness, na Galeria do Aluno, Escola de Belas Artes, bairro do Canela, Salvador – Ba.
Entre as várias exposições coletivas que participou destaco: 2020 a Expô Coletiva , na Pousada Solar das Artes, Centro Histórico, Salvador, Bahia; 2016 A Exposição Imago Mundi, por .Luciano Benetton Collection, em Veneza, Itália; 2014 – Reabertura da Galeria 13, na Casa de Batatinha, numa Homenagem a Deraldo Lima no Bar Toalhas da Saudade, Ladeira dos Aflitos, Salvador-Ba; 2010 A Exposição Divas & Amp Pin Up’s, Galeria Moacir Moreno, no Theatro XVIII, no Centro Histórico, Pelourinho, Salvador-Ba; 2009; Exposição Melleril , Retrospectiva Sincrética, no Museu de Arte Contemporânea Raimundo de Oliveira (MAC), em Feira de Santana -Ba; 2009 a Exposição APRAZ – A paz Sincrética, na Biblioteca Juracy Magalhães Junior, Ilha de Itaparica – Ba; 2008 Exposição Coletiva Caminhos Plásticos, Casa do Benin, Salvador-Ba; 2008 a mostra Paisagem Urbana – Intestino da Cidade III, Espaço Solução Visual, Salvador-Ba; 2007 a Exposição Intestino da Cidade II, Curadoria da professora Graça Ramos, na Galeria de Arte Pouso da Palavra, em Cachoeira, no Recôncavo -Ba; 2007 Exposição Intestino da Cidade, no Centro Cultural Dannemamm, na cidade de São Felix-Ba; 2007 a Exposição coletiva Transgenias Virtuosas , na Associação Cultural Brasil-Estados Unidos – ACBEU – Pátio das Artes, Stiep , Salvador- Ba; 2007 – Exposição Psilocibina, Visões Sincréticas dos Paraísos Artificiais, no SESC- Casa do Comércio, Salvador-Ba;
2006 a Exposição Corpus Híbridus, Galeria do EBEC, Pituba, Salvador-Ba; 2005 a Exposição coletiva Excesso na Galeria Pierre Verger, nos Barris, Salvador-Ba; 2003 Exposição Todas as Mulheres do Mundo, Galeria do Bar Quixabeira, nos Barris, Salvador-Ba; 2000 A Primeira Mostra de Arte Solidária, no Conjunto Cultural da Caixa Econômica, Salvador-Ba; 1999 a Primeira Exposição Leilão de Arte do GACC , no Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador-Ba; 1998 a Exposição 89 Revisto, no Bar Alambique, no bairro do Rio Vermelho, Salvador-Ba; 1998 a coletiva Ave Crist , na Galeria Pedro Archanjo, Centro Histórico, Salvador – Ba; 1998 a Exposição coletiva Belos e Malditos, na Galeria XIII , no Centro Histórico, Salvador-Ba; 1997 a mostra Linguagem do Caos, na Galeria XIII; 1995 a Opus 40, no Teatro Gregório de Mattos, Salvador-Ba e em 1995 participou da coletiva Fragmentum, no Shopping Barra, Salvador – Ba. Participou ainda em 2009 dos Salões Regionais de Artes Visuais da Bahia com o coletivo Arte Sincrética, em Porto Seguro, Bahia e em 2005 do XXXI Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia.
Restaurador e Muralista
Já trabalhou na restauração de várias obras de arte em Salvador como na coleção da Associação Comercial da Bahia e na restauração do belo e grande painel de Lênio Braga, na Estação Rodoviária, de Feira de Santana, Bahia. Em 2004 trabalhou na restauração de imagens na igreja de São Francisco, em Salvador, dentre outros trabalhos de restauro. Executou em 2003 quatro murais nas paredes do Shopping Liberdade, no bairro do mesmo nome em Salvador -Ba com os nomes de Visões Aquáticas I e II, Baiana na Lavagem e Capoeiristas em Mosaico. Em 2002 executou um mural na parte de embarque no Terminal Marítimo de São Joaquim, em Salvador. Em 1998 participou do projeto de Execução de murais no porto de Salvador quando foi um dos selecionados pela Companhia de Navegação Baiana – CODEBA quando pintou o mural Berimbaus ao Mar.