Nós conversamos com o professor de Yorubá Denilson Oluwafemi que falou sobre os cânticos e as danças de Yemanjá
Doris Pinheiro – Cada orixá tem seus cantos próprios. Para que servem as cantigas e toques que são direcionados a eles?
Orucó Denilson – Saudações a todos, aqui quem vos fala é o Orucó Denilson. As cantigas e toques que são direcionados aos orixás são um pedaço da história desse orixá. Então é uma forma de representar a dramaticidade da sua dança, da sua história, quando ele esteve aqui na terra. No caso de Yemanjá, que é a mãe das nossas cabeças, ela que guarda nossas cabeças dentro do seu líquido amniótico, estamos sempre louvando esse orixá no sentido de trazer essa sensação de água na sua dança e no seu canto, trazer essa sonoridade para esse orixá.
DP – Da mesma maneira há danças para cada orixá. Elas seguem algum ritual?
As danças também seguem um ritual. Eu não diria ritual, mas eu diria uma liturgia, usar este termo católico, uma liturgia. Cada orixá tem uma personalidade, tem uma forma de comportamento, então a dança de um orixá vai mostrando, quando o orixá está guerreando, quando o orixá está caçando, quando o orixá está defendendo a casa. Então dentro do aspecto compográfico – eu digo compografia, que é você utilizar o corpo como mídia para interpretação de quem é o orixá – você vai ver o movimento de Ogum lutando, cortando, você vê o movimento de Oxóssi caçando, você vai ver o movimento de Óia, Yansan com a saia toda aberta, na frente de Ogum, protegendo a casa. Então a dança dentro do candomblé ela é fundamental para demonstrar a função que o orixá teve. Por exemplo, tem uma dança de Yemanjá na qual que ela faz um gesto de que está costurando as redes dos pescadores.
DP – Como são os cantos para Yemanjá? Há um para cada momento? Eles têm um estilo particular?
OD – Há um para cada momento. Eles têm um estilo particular sim. Nós temos vários cânticos para diferentes momentos para trazer essa energia do orixá dentro da liturgia. Yemanjá é a mãe do rio Ogum, então nós vamos falar dessa relação de Yemanjá dentro do rio Ogum. Yemanjá é um orixá inicialmente cultuado pelo povo Ebá nas lagoas e depois, por conta das guerras, ela passa a ser cultuada pelos sacerdotes, levada até o rio Ogum. Ela se torna nascente do rio Ogum e aí para tratar deste momento nós vamos cantar dentro do Xerê, Yemanjá Ogum, dizendo que ela é a senhora rio Ogum.
Yemanjá é um orixá que pela etimologia do seu nome – yeomomeja – é a mãe dos peixes. Ela que traz os peixes para o nosso mundo. Então o domínio real dela é a vida aquática em todas as suas esferas, em toda a proporção da vida aquática. Essa vida aquática se dá através dos peixes, através de mariscos, dos moluscos que fazem a higiene do mar. Yemanjá também é a mãe do meio ambiente ecológico, do meio ambiente aquático, desse meio ambiente limpo dos mares. Yemanjá é um orixá da limpeza, então as danças de Yemanjá vão tratar dessa mulher que é mãe das águas, não só do mar.
É muito importante ressaltar que o presente das águas ele era distribuído na cidade de São Salvador, através do presente no Dique do Tororó para Oxum, no Parque São Bartolomeu, nas cachoeiras de Oxumarê, de Oxumarê, de Nanã, presentes na Lagoa do Abaeté e culminava com o 2 de Fevereiro, por conta dessa gratidão dos pescadores.
Yemanjá é um orixá muito amplo que trata das águas e do cuidado que ela tem com todas essas águas, inclusive o líquido amniótico. Então é por isso que Yemanjá é a nossa Yaori, porque o líquido amniótico, o líquido interno da mulher, é um líquido que pertence a Yemanjá. Ela cuida de nós neste momento em que estamos resguardados por este líquido amniótico. Como Yemanjá é a orixá da vida aquática, ela também é o orixá que rege a nossa vida neste período em que ficamos dentro do ventre da nossas mães. Por isso as danças de Yemanjá vão retratar Yemanjá protegendo o nosso Ori.
Aula de Yorubá
Aula de Yorùbá por DENILSON OLUWAFEMI – CANTANDO PARA YEMONJA