Por Cássia Reuter
Nos últimos dez anos, a pandemia de covid-19 foi o maior acontecimento que transformou a vida da população mundial. Em suas diversas vertentes, o ambiente educacional foi um dos mais afetados, fazendo com que os alunos vivenciassem uma nova realidade de estudo, principalmente com uma aceleração da tecnologia e a necessidade de fazer a escola funcionar no sistema EAD.
Conforme a pesquisa TIC Educação 2022, 77% dos estudantes acessam a internet nas escolas – não apenas para fins pedagógicos. O percentual cresce à medida que as idades avançam, sendo mais incidente entre adolescentes e adultos, com 82% de 13 a 14 anos, 90% de 15 a 17 anos e 91% de 18 anos ou mais.
Para Marco Antônio Xavier, professor licenciado em Letras pela USP, especialista em gestão escolar e diretor do Colégio Anglo Leonardo da Vinci – unidade de Alphaville – quando falamos dos adolescentes nas escolas na última década, a mudança é grande: “Há dez anos, os jovens faziam selfies e estavam empolgados com os avanços tecnológicos, mas em sala de aula essa presença ainda era tímida e eventualmente usada pelo professor. Hoje, essa presença traz mais desafios, porque o jovem tem mais ansiedade, dificuldade de concentração, falta de paciência e é possível perceber uma menor capacidade de lidar com fracasso e frustração”.
De acordo com Marco, a internet que vemos hoje, em comparação a 2014, impôs uma nova modalidade de socialização para esses jovens, não só dentro do ambiente educacional, e que se para os adultos é difícil disciplinar o próprio uso de smartphones, para os adolescentes é ainda mais.
“Os aplicativos de tablets e smartphones bombardeiam os usuários com estímulos rápidos. Vídeos divertidos, comentários e curtidas provocam liberação de dopamina no cérebro, um neurotransmissor responsável pela sensação de prazer. O celular pode ser tão viciante como cigarro. Pode causar ansiedade e uma série de problemas no cotidiano deles. Não por acaso, o problema que algumas escolas enfrentam hoje é o uso de cigarros eletrônicos, os chamados vapes”, complementa o diretor.
Em contrapartida, a tecnologia também proporcionou um ensino mais personalizado, a introdução de metodologias ativas e o acompanhamento das métricas de aprendizagem em tempo real, profissionalizando ainda mais o trabalho do professor. Uma das orientações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é o uso das diferentes tecnologias na educação.
Ainda de acordo com gestor escolar, o problema que se enfrenta é que os jovens se limitam ao uso recreativo da internet nos momentos de aprendizagem, mas é preciso enxergar esse recurso como uma ferramenta de construção de conhecimento e de estímulo à criatividade.
“Os últimos dez anos, sobretudo com a pandemia, nos ensinou que escola é o espaço em que os jovens se socializam, convivendo diariamente com outros jovens como ele. É um aprendizado socioemocional que não se tem em casa e em nenhum outro lugar. Ainda, que a atitude do professor e da escola também tornou-se mais democrática e inclusiva.
As formas de avaliação são mais diversificadas e as práticas em sala de aula mais dinâmicas. Além disso, o olhar mais atento contra falas preconceituosas ou práticas de bullying são mais presentes”, finaliza Marco.
Cássia Reuter aprofundou o assunto na entrevista a seguir:
CÁSSIA REUTER – Nos últimos 10 anos, os adolescentes mudaram de comportamento em sala de aula?
MARCO ANTÔNIO XAVIER – Sim. Com certeza são jovens diferentes. Há dez anos, os jovens faziam selfies e estavam empolgados com os avanços da tecnologia, mas, em sala de aula, essa presença tecnológica ainda era tímida e eventualmente usada pelo professor. Hoje, os jovens têm mais opinião e estão acostumados a falar. Porém, apresentam maior dificuldade de concentração, estão mais ansiosos e com uma menor capacidade de lidar com frustrações também.
CR – Como a pandemia impactou o ensino e aprendizagem dos alunos na classe e em casa?
MAX – A pandemia nos mostrou que a escola não é importante apenas como o lugar de instrução por excelência. Os pais descobriram em casa que não conseguem substituir o trabalho dos professores. Ensinar precisa de técnica e de conhecimento. Mas a pandemia também nos ensinou algo ainda mais importante: escola é o espaço em que os jovens se socializam, convivendo diariamente com outros jovens como ele. É um aprendizado socioemocional que não se tem em casa e em nenhum outro lugar. Depois da pandemia, os jovens retornaram para a escola com dificuldade de convivência, solucionar conflitos e administrar as próprias emoções.
CR – A internet ajuda ou atrapalha o ensino?
MAX – Com a pandemia, surgiu a necessidade de fazer a escola funcionar no EAD, incorporando a internet na rotina das escolas. Se por um lado havia o excesso de reuniões, por outro a tecnologia proporcionou um ensino mais personalizado, a introdução de metodologias ativas e o acompanhamento das métricas de aprendizagem em tempo real. O trabalho do professor também ficou mais profissionalizado.
O uso das diferentes tecnologias traz como prioridade o aprendizado das linguagens tecnológicas e digitais e orienta o uso de maneira significativa, reflexiva e ética, sendo ferramenta de construção de conhecimento e de estímulo à criatividade, sendo muito benéfico para o ensino. Porém, é necessário saber trabalhar dentro da sala de aula, sempre lembrando que a internet não substitui o ensino presencial, mas é uma grande aliada na preparação dos jovens.
CR – Quais ferramentas para o aluno se desenvolver e utilizar melhor na sua aprendizagem?
MAX – Em apoio à aprendizagem da sala de aula com o professor, os alunos têm a possibilidade de usar as ferramentas tecnológicas de aprendizagem.
Existem muitas plataformas de aprendizagem que oferecem soluções completas como trilhas de conteúdo com vídeos e resumos didáticos, roteiros de estudos, mapas mentais, simulados e avaliações com gráfico de desempenho instantâneo.
As Plataformas de Aprendizado Adaptativo trazem um benefício a mais. Muitas já trabalham com Inteligência Artificial e personalizam o conteúdo com base no desempenho e necessidades individuais dos alunos de acordo com as respostas dadas, até mesmo em redação.
Os jogos educativos (gameficação) também podem ajudar o estudante a se manter estimulado nos estudos.
Também não podem ficar de fora as ferramentas de pesquisa. A imensa maioria são gratuitas e apresentam fontes confiáveis de informação com bases de dados acadêmicas e bibliotecas digitais, como o Google Acadêmico e Khan Academy.
CR – O que é melhor para o aluno, o ensino tradicional ou o uso dos recursos da internet
MAX – O mundo mudou e não cabe mais a educação do tempo dos nossos pais. Uma criança que entra hoje na educação básica estará no mercado de trabalho daqui duas décadas. Ela tem de ser preparada para um mundo que exigirá dela habilidades intelectuais como leitura, habilidades socioemocionais como resiliência, gestão de conflitos, liderança e grande capacidade de se adaptar a novas situações; como também as tecnológicas de domínio de ferramentas digitais e gestão de dados.
Por isso, a educação moderna precisa combinar os dois mundos. Na sala de aula, o professor trabalha conteúdos, mas também desenvolve as habilidades do aluno, seu comportamento em grupo, suas atitudes e valores e garante o suporte emocional para o estudante superar desafios e limites. As plataformas e ferramentas tecnológicas oferecem habilidades e competências específicas para potencializar essa aprendizagem.
Biografia
Marco Antonio Xavier é professor licenciado em Letras pela USP, professor de literatura, especialista em gestão escolar e diretor do colégio Anglo Leonardo da Vinci – unidade de Alphaville.