O Dia Mundial do Sono, celebrado em 14 de março, reforça a necessidade de tratar o sono como um hábito saudável, assim como alimentação equilibrada e atividade física. Em 2025, o tema da campanha é “Faça da saúde do sono uma prioridade”. O alerta é claro: dormir bem não é um luxo, mas sim um pilar essencial para uma vida saudável.
Dormir bem é fundamental para a saúde, mas a realidade é que cada vez mais pessoas enfrentam dificuldades para ter uma boa noite de sono. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 40% da população mundial sofre com distúrbios do sono. No Brasil, um estudo publicado em 2022 revelou que esses problemas são altamente prevalentes, atingindo principalmente mulheres, idosos, pessoas com menor escolaridade e aqueles com doenças crônicas.
A qualidade do sono impacta diretamente diversos aspectos da saúde. Noites mal dormidas podem levar ao ganho de peso, devido à alteração na produção e liberação de hormônios que regulam o apetite, aumentando a fome e reduzindo a sensação de saciedade.
Sono e saúde
O sono desempenha um papel essencial na saúde física e mental. Segundo o Dr. Edilson Zancanella, coordenador do Serviço de Distúrbios do Sono do IOU – Instituto de Otorrinolaringologia & Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Unicamp, a privação do sono pode resultar em problemas como hipertensão, diabetes, obesidade e até mesmo câncer. “Dormimos cerca de um terço da nossa vida, e a privção do sono tem consequências diretas na memória, concentração, humor e ganho de peso”, alerta o especialista.
O impacto também é significativo no sistema imunológico. O sono adequado é essencial para a produção de citocinas inflamatórias e para a proliferação de células T, fundamentais para combater infecções. Além disso, noites mal dormidas estão diretamente relacionadas ao aumento do risco de depressão e ansiedade.
Entre os distúrbios mais comuns estão a apneia, que pode atingir mais de 30% da população economicamente ativa, e a insônia, que impacta cerca de 25% das pessoas, especialmente mulheres no pós-climatério.
Diagnóstico e tratamento
Nos últimos anos, o diagnóstico de distúrbios do sono avançou significativamente. Exames domiciliares estão se tornando mais acessíveis, e dispositivos vestíveis (wearables) já são utilizados na análise do sono. No tratamento, avanços incluem novos medicamentos para insônia e narcolepsia, além de tecnologias inovadoras para a apneia, como a neuroestimulação do nervo hipoglosso. Os equipamentos de CPAP também estão cada vez mais modernos, proporcionando mais conforto aos pacientes.
Quando procurar um especialista?
Sinais como sonolência diurna, ronco frequente, alterações de humor, dificuldades de memória e concentração indicam a necessidade de buscar um especialista. Para melhorar a qualidade do sono, é fundamental:
- Manter uma rotina de horário fixo para dormir e acordar;
- Evitar telas antes de dormir;
- Tratar o sono como prioridade para a saúde.
Higiene do sono
Adotar uma boa higiene do sono é fundamental para prevenir e minimizar os distúrbios do sono. Segundo a Academia Brasileira do Sono, algumas práticas recomendadas incluem manter um horário regular para dormir e acordar, evitar cafeína, álcool e refeições pesadas antes de dormir, reduzir a exposição a telas pelo menos uma hora antes de deitar, criar um ambiente propício ao sono, com temperatura e iluminação adequadas, e praticar atividades físicas regularmente, mas evitar exercícios intensos próximos ao horário de dormir.
Distúrbios do sono
A apneia obstrutiva do sono (AOS) é um dos distúrbios mais comuns, afetando cerca de 33% dos brasileiros adultos, segundo estudo recente. “A apneia do sono é uma parada momentânea da respiração durante o sono, causada pelo relaxamento da musculatura da orofaringe. Se esses episódios forem frequentes, podem levar à fragmentação do sono, queda na oxigenação e diversos impactos crônicos na saúde”, explica a presidente da Sociedade de Pneumologia da Bahia e coordenadora da Medicina Respiratória do Hospital Mater Dei Salvador (HMDS), Fernanda Aguiar.
Os efeitos da AOS vão além do ronco e da sonolência diurna. Segundo a Sociedade Brasileira do Sono, a condição está associada ao aumento do risco de doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, arritmias, infarto e AVC. Também pode agravar doenças respiratórias crônicas, como asma e DPOC, e dificultar a perda de peso.
O diagnóstico da apneia do sono é realizado por meio da polissonografia, exame que monitora a atividade cerebral, respiratória e muscular durante o sono. “O tratamento pode incluir desde mudanças de hábitos, como higiene do sono, até o uso do CPAP, um aparelho que impede o colapso da via aérea”, acrescenta a especialista.
Infância
As crianças também sofrem com problemas relacionados ao sono, sendo os mais comuns a insônia, o terror noturno e a própria apneia. A pneumopediatra do HDMS, Paula Tannus, destaca que o uso excessivo de telas antes de dormir é um fator preocupante. “A luz azul emitida pelos dispositivos eletrônicos interfere na produção de melatonina, hormônio essencial para a regulação do sono. Isso pode levar a déficit de atenção, irritabilidade e queda no desempenho escolar”.
O sono tem um papel fundamental no desenvolvimento infantil, sendo essencial para a produção de hormônios do crescimento, consolidação da memória e aprendizado. “Distúrbios do sono podem comprometer o desenvolvimento físico, cognitivo e emocional das crianças. Por isso, é importante que os pais fiquem atentos a sinais como ronco frequente, despertares noturnos constantes, sonolência excessiva durante o dia e dificuldades para acordar pela manhã”, alerta a especialista.
Outro problema comum é a apneia infantil, geralmente relacionada a fatores como amígdalas aumentadas e obesidade. “Pais e cuidadores devem observar sinais como ronco persistente, respiração bucal e pausas respiratórias durante o sono. O tratamento pode envolver desde acompanhamento com otorrinolaringologista até intervenção cirúrgica em alguns casos”, explica a especialista.