Por Alexandre Fateicha
Dia, horário e local agendados para a comunidade de Pessoas com Deficiência (PcD) externalizarem o orgulho de ser PcD. Em parceria com o coletivo Quilombo PCD, a organização não governamental (ONG) Vale PCD criou o movimento Parada PCD e essa parada – que acontece parada mesmo -, no Farol da Barra, neste domingo (21), com concentração às 12h. A fundadora da ONG, Priscila Siqueira, conversou comigo no aeroporto de Recife, vindo para Salvador, e falou sobre a importância da ONG para a comunidade PcD e da primeira parada de 2024 acontecer aqui em Salvador, pela primeira vez também no Nordeste.
Alexandre Fateicha – Por que a criação da ONG Vale PCD?
Priscila Siqueira: Me sentia muito sozinha em relação à comunidade LGBT, enquanto uma mulher com deficiência, bissexual, sempre me vi muito deslocada em espaços da comunidade. Eu ia na balada só tinha eu, eu ia numa roda de conversas, ninguém falava sobre mim e as pessoas achavam até estranho a minha presença, então eu queria realmente me fortalecer, buscar outras pessoas também, ter esse espaço que eu sempre procurei e nunca achei. Então, em 2020 resolvi idealizei e criei a ONG aqui em Recife, inclusive, eu não criei sozinha, eu idealizei, mas puxei outras pessoas comigo. O Emanoel aqui do Recife foi a pessoa que deu esse ponta pé inicial comigo, a Júlia Piccolomini foi chegando, outras pessoas foram chegando pra somar durante esse caminho e no ano passado a Vale PCD e o Quilombo PCD se uniram para termos a primeira Parada do Orgulho PCD do Brasil, que aconteceu em setembro de 2023 em São Paulo.
AF – A Parada do Orgulho PCD é um movimento que se origina da junção entre dois coletivos sociais como surgiu essa ideia?
OS – É uma coisa que acontece internacionalmente, A gente tem o mês de julho como o Mês Internacional do Orgulho PCD e internacionalmente acontecem muitas marchas, acontecem paradas e grandes movimentos em prol das pessoas com deficiência. Mas aqui no brasil ainda não existe isso, principalmente, porque não se vê a condição da deficiência como uma característica para se orgulhar. É sempre uma coisa para se odiar, para se querer curar e a gente vem justamente para dizer: “não, sua deficiência é uma característica e você pode ter orgulho de quem você é, ao mesmo tempo que você luta pelos seus direitos nesse movimento”.
AF – Por que a escolha de Salvador para ser a primeira cidade a receber a Parada PCD em 2024?
OS – A gente precisa trazer a pauta PCD para o Nordeste. Aqui no Nordeste, a pauta da diversidade quando envolve pessoas com deficiência, ainda é extremamente apagada. Começar por Salvador, num domingo de verão é uma grande conquista para expor a causa PCD. Logo em seguida – em março -, a parada acontecerá em Recife e depois, vamos seguir por mais quatro cidades onde a Vale PCD e o Quilombo PCD têm grande alcance. São seis eventos da Parada PCD esse ano, Salvador (janeiro), Recife (março), Rio de Janeiro (maio), Brasília (julho), São Paulo (setembro) e Belo Horizonte (novembro).
AF – Um evento como esse de manifestação, de evidência à causa da luta PcD, não é apenas uma celebração, mas também uma maneira de expor questões da comunidade PcD, o que você espera de retorno dessa Parada PCD?
OS – É uma maneira de levar as pessoas à rua. Um dos propósitos da Vale PCD no início era realmente fazer esse movimento de tornar os espaços acessíveis reivindicar esses espaços para a gente e levar as pessoas à rua, o propósito dessa Parada PCD é mostra que a gente existe, que a gente está aqui, que a gente quer ocupar os espaços de direito que são nossos, que a gente também pode se manifestar, que a gente também pode se orgulhar, que temos muitos artistas com deficiência, que também merecem protagonismo. A gente espera que todo mundo se sinta tão acolhido, como foi em São Paulo. Tive muitos feedbacks positivos de pessoas falando que foi o primeiro momento que se sentiu realmente pertencendo a alguma coisa. É isso que move a Parada do Orgulho PCD.
AF – Para finalizar a entrevista, quero saber qual a expectativa da organização para a participação do público soteropolitano?
OS – A gente está chegando no Nordeste e eu sou nordestina, pernambucana, outro nordestino, soteropolitano é o Marcelo Zig (fundador do Quilombo PCD e um dos idealizadores da Parada PCD) e tudo que ele fala sobre Salvador é encantador, então começar a parada de 2024 aí é sensacional para a gente. Vamos celebrar e dar visibilidade à causa. O evento será todo acessível preparado para receber pessoas com deficiência e também pessoas sem deficiência, pois a inclusão é a premissa básica da Parada PCD, em São Paulo tivemos mais de 800 pessoas, será que na Bahia teremos isso? Estou animada. O público do Nordeste é extremamente acolhedor, animado, caloroso, então nossa expectativa está em alta. Toda essa energia positiva e essa alegria de Salvador estejam com a gente no próximo domingo, 21 de janeiro.