Por Doris Pinheiro

Yuri Fernandes Lima é advogado, consultor, diretor Jurídico da Rede de Mobilização pela Causa Animal (REMCA), um profissional referência internacional quando se trata das questões relacionadas à causa animal. Mas hoje ele fala ao nosso site sobre o uso das energias ”limpas”, que na verdade devem ser chamadas de “renováveis” e a entrevista sem dúvida nenhuma faz a gente parar para pensar sobre muitos aspectos relacionados à forma como produzimos e consumimos energia em nosso país, em nosso planeta e sobre como precisamos mudar de forma urgente.

Doris Pinheiro – Como a energia limpa contribui para a redução das mudanças climáticas?

Yuri Fernandes Lima – Esse termo energia limpa, ele não é o mais adequado. O mais adequado é a gente falar energia renovável, que são as energias solar, eólica e hidrelétrica. Em contraposição à energia fóssil, que ocorre a partir da queima de petróleo, gás natural e carvão. Estas são as mais maléficas para o meio ambiente, para as mudanças climáticas, porque elas emitem os gases do efeito estufa. Principalmente esse é o efeito.

Agora, as energias renováveis, elas não são totalmente limpas. Elas não são isentas de danos ao meio ambiente e, consequentemente, às mudanças climáticas. Por exemplo, a energia eólica e a energia solar. Ambas, para serem instaladas, elas tem que ter ali um esvaziamento do local. Se tiver vegetação, você tem que desmatar. Você tem que fazer terraplanagem. Toda fauna, toda flora que tem ali tem que sair.

E tem impactos sócio-ambientais também. Como tem na hidrelétrica, por exemplo. Então, se você vai fazer um desvio de um rio, um alagamento de uma área, você vai devastar, você vai alagar, você vai submergir uma área grande de vegetação, de animais e vai ter que deslocar os ribeirinhos.

A instalação das usinas eólicas e solar, principalmente eólica no Nordeste, provoca muito problema por causa da expulsão das comunidades, das  populações que vivem ali naquele local. Tem problemas sérios também com relação à fauna. Um tempo atrás eu fui procurado por uma questão da Ararinha Azul de Lier, que é uma espécie ameaçada de extinção, tem pouquíssimos espécimes na natureza. E na Bahia, na região de Euclides da Cunha. Foi  instalada na época uma planta de energia solar de uma empresa francesa quer estava colocando em risco a Ararinha, porque as araras, assim como quaisquer aves e morcegos, eles colidem com as pás. Então é muito sério.

Não existe então energia limpa. Existe energia renovável, mas que tem vários impactos para o ambiente. Aí você precisa ver qual que é a menos maléfica. E quando você tem uma destruição, uma devastação, um alagamento ou um corte, enfim, o que for, dependendo da energia, de vegetação, de flora e de fauna, você cria um desequilíbrio naquele ecossistema. E você, com isso, impacta nas mudanças climáticas. Está tudo diretamente relacionado.

DP – Quais são os desafios para a implementação em larga escala de energias renováveis?

YFL – Os desafios para a implementação em larga escala dessas energias renováveis passam por justamente mitigar esses danos ambientais, esses impactos à fauna, flora e às pessoas que vivem. Então priorizar áreas em que tenha menos fauna, menos flora, menos pessoas e à medida que for fazendo essas instalações, tem que fazer todo um trabalho de realocação dessas pessoas, dessa fauna e dessa flora, se for possível. Os principais desafios para essa implementação passam por conseguir mitigar esses danos e garantir os direitos das pessoas que vivem nesses locais, e também tentar fazer ou evitar danos à fauna e flora ou tentar compensar. E uma outra coisa em relação à energia eólica, eu vi uma reportagem falando de uma cidade, que a cidade inteira vivia praticamente embaixo das turbinas, e mostrou que insuportável viver com aquele barulho. Ah, porque aí tem isso também, tem a poluição sonora, a poluição visual, etc.

DP – Qual é a importância da eficiência energética na promoção da energia renovável?

YFL – A eficiência energética, ela está ligada a um uso racional, a um uso sustentável, a uma redução do uso da energia. E aí, com as energias renováveis, principalmente solar e eólica, porque o sol, pelo menos assim, por enquanto, na nossa realidade o sol está aí, o vento está aí. A água menos, a gente tem muita mudança relacionada à água no planeta todo. Então, é uma energia que não acaba, a fonte da energia não acaba. Então, isso ajuda, ainda que o consumo continue, não se faça um uso tão racional, tão sustentável da energia, a energia renovável, portanto, ela está sempre disponível, apesar de todos os danos que eu falei.

Qual é a importância da eficiência energética na promoção da energia renovável? De toda forma, é necessário, com a utilização da energia renovável, e mesmo com a não renovável, é necessário, são necessárias várias mudanças na forma como a  gente vive, como a gente consome, a nossa forma de existir no planeta. As sociedades todas do planeta precisam aprender a fazer um uso mais racional da energia no seu dia a dia.

Yuri Fernandes Lima é Advogado, Consultor, Diretor Jurídico da Rede de Mobilização pela Causa Animal (REMCA), Doutorando em Direito Animal pela Universidade Federal do Paraná, Mestre em Direito Animal pela UFBA, Coordenador e Professor Universitário do Curso de Pós-Graduação em Direito Animal, Aplicações Jurídicas da Sociedade Paulista de Medicina Veterinária, Prática Jus Animalista e de Especialização em Medicina Veterinária Legal e autor do Livro “Direito Animal e a Indústria dos Ovos de Galinhas: Crueldade, Crime de Maus-Tratos e a Necessidade de uma Solução”.