O espetáculo traz a história de superação da bailarina Maju Passos, inspirado no itan “Oyá transforma-se em Búfalo” do livro “Mitologia dos Orixás”, do autor Reginaldo Prandi, e no livro “Tornar-se negra”, de Neusa Santos Souza
Tempo. É vento. Movimento contínuo. Dança rito para tornar-se. Pele para transformar-se, Búfala. Fortaleza, com leveza de borboleta. Metamorfose para ser, “Dona de Si”, título do solo de dança da performer e bailarina Maju Passos, que estreia em curta temporada no Teatro Goethe-Institut Salvador, nos dias 18 e 19 de junho, às 19h. Com direção artística de Edileuza Santos e assistência de Sueli Ramos, o espetáculo é o rito de uma mulher-mãe solo para conectar-se aos ventos que a mantém viva e pulsante.
Tendo como inspiração o itan “Oyá transforma-se em Búfalo” do livro “Mitologia dos Orixás”, do autor Reginaldo Prandi, e o livro “Tornar-se negra”, de Neusa Santos Souza, “Dona de Si” é acima de tudo sobre caminho de poderamento percorrido por Maju Passos após a maternidade para reconhecer-se e livrar-se das estruturas sociais violentas do machismo associada ao racismo.
“Apresento uma dança rito que evidencia a minha pele, o meu corpo e suas histórias. Tornar-se mãe de uma criança branca me fez buscar uma parte de mim que eu sabia que tinha, mas não assumia. É uma dança para partilhar com o público o meu processo de superação que provocou um olhar mais sereno e compreensivo sobre mim mesma. Um lugar de liberdade, uma pele que não precisa ser legitimada por essa estrutura social misógina”, explica a artista e produtora cultural.
A diretora artística Edileuza Santos reforça que “Dona de Si” é a trajetória de muitas mulheres negras, um caminho de resistência, de luta para se afirmar seja como profissional, como mulher, como mãe. “Na verdade, isso acontece com qualquer mulher. Para existir neste planeta, precisamos estar atentas e buscando a nossa ancestralidade para nos fortalecer e lidar com tudo que envolve ser mulher. É preciso ter muita resiliência”, afirma a coreógrafa, ao acrescentar que o espetáculo traz o arquétipo e a história da yabá Iansã, a sua metodologia corpo-tambor, a trajetória, a vida profissional e a ancestralidade de Maju.
Bufalá
No itan citado acima, Iansã deixa a sua pele de búfalo escondida para passear como mulher, ao voltar não a encontra e se sente perdida. Neste momento, encontra Ogum, que jura amor e promete cuidado. Eles casaram. Mas, o que Matamba não sabia era que Nkosi tinha a pele dela na mão. Vale lembrar que, a pele é o nosso maior órgão, nele toda a nossa vivência é registrada.
Maju complementa que socialmente a “nossa pele de búfala geralmente está sob a custódia de quem deveria nos proteger, de quem nos promete amor. De alguma forma, cada vez que assumo quem eu sou, mais perto da minha pele de búfala eu me sinto. Se eu pego de volta o que é meu, não compactuo mais ao que está estabelecido para a manutenção de uma ‘ordem social’ patriarcal que não tem espaço para a mulher que sou”.
Mulheres
“Dona de Si” é uma dança que leva em consideração a história de Maju Passos atravessada com a de sua avó Dona Bernadeth mãe solo de três mulheres de genitores diferentes, que completará 97 anos na estreia do solo. “Foi Ela que deu o nome a esse solo. Mulher esta que, assim como eu, sustentou sua família sem apegar-se à necessidade da figura masculina tão cobrada pela sociedade para que as mulheres se sintam legítimas. Lembro que, um dia em sua casa, estava com Marcelo Galvão, meu grande amigo e diretor de produção dessa montagem, e ela virou para ele e falou: ‘essa daí é toda dona de si não é Marcelo?’”, recorda a bailarina, que também é sócia-gestora na Mazurca Produções e na Escola Afro Brasileira Maria Felipa desde 2019.
Me afirmar como
Se “Dona de Si” é sobre trajetória para afirmação, a direção do espetáculo é sobre as mulheres negras que formam a artista Maju Passos. No solo, a direção e assistência são conduzidas por duas coreógrafas que fazem parte da graduação da artista. Edileuza Santos e Sueli Ramos foram uma das únicas professoras negras que Maju teve durante o período de graduação na UFBA. “Na época, não tinha o entendimento dessa importância e eu fui entender depois que o nome disso é representatividade.”, conta Maju Passos.
“Dona de Si” faz parte da pesquisa de mestrado da artista, no Programa de Pós-Graduaçao em Dança da Universidade Federal da Bahia (PRODAN), que aponta a maternidade como dispositivo de criação e identifica a dança quanto uma tecnologia ancestral de conexão com o próprio corpo, com a própria história. O solo é um espetáculo que traz a leveza do clássico, o movimento contínuo do vento de Oyá e a urbanidade da dança contemporânea.
Trajetória
O solo é uma dança para se reconhecer e se permitir ser inteira. Espetáculo continuidade de uma série de obras produzidas desde em 2019, como “Donna”, um solo que coloca o corpo no limite a fim de responder de onde vem sua dor; “À Vista”, performance solo para eternizar o amor no corpo; “Funda” (2020/2021), um experimento de olhar e buscar, voltar para pegar o esquecido, abandonado ou roubado; o filme “Evocar” (2021), um convite para evocarmos nossos desejos de dentro; e “Passos” (2022), vídeo performance sobre uma mulher que busca na natureza um lugar de conexão para se libertar.
Serviço
O quê – “Dona de Si”, solo de Maju Passos
Quando – 18 e 19 de junho, às 19h
Onde – Teatro Goethe-Institut Salvador (Corredor da Vitória)
Entrada – R$30 (inteira) e R$15 (meia), ingressos pelo Sympla – https://www.sympla.com.br/evento/dona-de-si/2491104?share_id=copiarlink
Ficha técnica
Idealização, intérprete-criação: Maju Passos
Direção e criação: Edileuza Santos
Assistência de direção artística e Preparação corporal: Sueli Ramos
Direção de Produção: Marcelo Galvão
Designer de figurino: Paulo Oliveira Cruz
Designer de luz e mapping: Vitor Hugo
Trilha sonora: Celo Dut e Dactes
Vídeo acarajé: Ariel Cascadura
Artista do vídeo acarajé: Gislene Santos
Fotografia: Nti Uirá
Assessoria de Imprensa: Rafael Brito | Nsanga Comunica
Assistência de iluminação: André Oliveira e Cecília Vasconcelos ;
Operação de luz : Cecília Vasconcelos;
Operação de Vídeo e som : Amanda Cervilho
Apoio: Escola de dança da Ufba , Goethe
Realização: Mazurca Produções