Por Kari Araújo
@dekari.docesfuncionais
Eu era dessas que toda vez que ia preparar um bolo repetia pra mim mesma, “não tenho mão boa para bolo”.
Acho que, por isso, comecei a me jogar no mundo da comida inclusiva através do pão sem glúten. Os primeiros ficaram realmente bem ruins, com gosto avinagrado e nada bonitos. Fiz alguns, fiquei irritada com os resultados, até que num belo dia resolvi mudar.
Peguei na internet uma receita de brigadeirão sem glúten. Deu pior ainda. Pensei. Não tenho mão boa nem pra bolo nem pra pão nem pra brigadeirão. Mas o fato é que eu ainda não tinha testado um bolinho sem trigo, sem leite e sem açúcar no forno. De verdade, eu não entendia como seria possível fazer bolos sem os principais ingredientes da fórmula. Mas tentei.
Lembrança de infância. Lá em casa minha mãe fazia bolo com as claras em neve batidas separadamente e incorporadas delicadamente à massa ao final do preparo, pouco antes de ir ao forno. Lembro dela explicando. Mexa delicadamente, de baixo para cima, sem bater, para os ovos não perderem o ar. Assim eu fazia e passei anos achando que essa era a única forma de preparo. #sqn
O nome do método que minha mãe usava em 99% dos bolos lá de casa é espumoso. Mas, aprendi que existem diversos métodos de preparação e cada um tem técnicas específicas que proporcionam resultados sutilmente diferentes.
Era 2020, quarentena da pandemia, demitida, com tempo e saudade, então me joguei. Tudo novo. Métodos, ingredientes, receitas, testes, erros, acertos, estudos, virei a loka do bolo. Chocolate, cenoura, mandioquinha, milho, côco, banana, tapioca, fiz e vendi um monte. Enquanto as lojas estavam fechadas, eu estava no trânsito livre fazendo delivery.
Além de praticar na cozinha, passei a consumir livros também. Enciclopédia da Confeitaria do Senai SP, “A Química dos Bolos”, de Joyce Galvão, e-book de Nanda Carneiro, “Desmistificando a Confeitaria Funcional” e tantos outros que abriram muitas portas do pensar e do fazer dessa paixão que atravessa gerações nas mesas e casas. Foi um aprendizado do tipo tudo-ao-mesmo-tempo-agora. Um simples bolo com ou sem glúten, ovo ou leite é feito de ingredientes, números, alquimia, delicadeza e amor. Aquele cheirinho de bolo na cozinha fica eternamente na memória afetiva. Eu aprendi que todo mundo tem mão boa pra bolo.
Para celebrar essa jornada com vocês que me lêem agora, compartilho uma deliciosa receita de bolo de chocolate funcional.
Ingredientes
3 ovos
200g de açúcar demerara
70g de óleo de coco
200g de Zaya Flour (farinha de mandioca sem glúten vendida no supermercado)
50g de cacau
150ml de leite de coco
1 colher de sopa de fermento
1 c chá de extrato de baunilha
1 punhado de nibs
Preparo: bata ovos, açúcar e óleo no liquidificador por 5 minutos. Deixe ficar bem cremosão. Adicione o cacau, a farinha e o leite de coco, alternadamente. Misture até ficar uma massa homogênea. Agregue o nibs e o fermento mexendo com uma espátula. Asse por 30-35 minutos em forno 180 graus.
Se fizer, me conte como ficou!
Kari Araújo é jornalista e pós-graduanda em gastronomia funcional. Apaixonada por cadernos antigos de receitas e por comida, começou a se interessar pela culinária funcional quando descobriu o poder desses alimentos para reverter os sintomas da menopausa. É especialista em recriar receitas de bolos, doces e sobremesas para versões inclusivas, sem glúten, lactose, açúcar e versões veganas.