Por Morgana Montalvão
A primeira segunda-feira após a Lavagem do Bonfim é a Segunda-Feira Gorda da Ribeira. A tradição, que tem sua origem em meados do século XVIII, reúne milhares de soteropolitanos na Península de Itapagipe e acontece no dia seguinte após a Procissão dos Três Pedidos.
Pelos bares do bairro que fica debruçado à Avenida Beira Mar, o prato principal é o cozido recheado com as mais diversas carnes e acompanhamentos. Para Maísa Santana, 52 anos, massagista soteropolitana que mora na Califórnia há 25 anos, o cozido da Ribeira é uma iguaria para ser degustada de joelhos.
“É fato, toda vez que passa a Lavagem do Bonfim, segunda-feira eu estou aqui e faço questão de trazer a minha família. O cozido é maravilhoso. Eu adoro essa energia daqui”, diz.
Carlos Pereira de Jesus, 55 anos, empresário conhecido como “Boca” é um dos diversos donos de bares que comercializam o cozido. O curioso apelido surgiu por ele gostar de fazer graça com os colegas no tempo em que trabalhava na Brasilgás. Para ele, o cozido e a Segunda-Feira Gorda da Ribeira são o que há de mais “ genuíno” na Cidade Baixa.
“Essa festa já é tradição tanto quanto o cozido. Aqui as pessoas se divertem, encontram os amigos e degustam uma comida gostosa e de qualidade ao som de um bom pagode. Aqui é a cara da Cidade Baixa, vem gente de outros bairros para cá. Para quê melhor?” diz ele.
Seresta agita clube famoso na Ribeira
A Cabana do Bogary, na Avenida Beira Mar, reúne gente interessada em dançar seresta. O clube, que tem 71 anos de existência, há décadas realiza a Segunda Feira Gorda da Ribeira em suas dependências. Neraldo Nascimento, 61 anos, há mais de 30 anos frequenta o espaço e é o responsável por organizar a festa no clube. Na visão dele, a ocasião serve para reunir os amigos e dançar seresta “agarradinho”. “ Além de comer cozido, o povo vem para dançar e se divertir. Quem não gosta de dançar seresta? Não é só para gente velha, jovens também vêm dançar. Essa confraternização é uma tradição antiga que temos há anos em toda Segunda Feira Gorda da Ribeira. Se não fizer, o povo reclama”, complementa.
‘Niêga’, 30 anos, vocalista da banda Samba da Niêga, era só entusiasmo para estrear pela primeira vez na festa. Para ela, a festividade serve para valorizar o bairro. “Sou da Cidade Baixa, do bairro do Bonfim e nessa festa, me sinto totalmente em casa. É perceptível que o povo daqui gosta dessa festa”.
Festa resiste a ação do tempo
O aposentado Roque Luís Silva, 68 anos, saiu do bairro do Cabula para curtir a festa na localidade. Mesmo a Segunda-Feira Gorda da Ribeira não possuindo mais o brilho de outrora, para ele, o momento é propício para ver os amigos. “Eu não deixo de vir, porque eu gosto da ocasião, pois aproveito para rever os meus amigos que moram por aqui pela Cidade Baixa. No entanto, é uma festa que já foi mais alegre. Lembro-me do passado quando o bairro ficava extremamente cheio, parecia carnaval e carros por aqui não passavam. Acompanhava a mudança dos barraqueiros do Bomfim para a Ribeira na madrugada de segunda-feira que acontecia a festa. Era mágico. Hoje, infelizmente, a festa perdeu consideravelmente o seu prestígio. Espero que um dia, volte a ser como antes”, diz.
Moisés Cafezeiro, 68 anos, é um morador antigo da Ribeira e um ferrenho defensor do turismo na Cidade Baixa. Para ele, a festividade é uma oportunidade para valorizar o bairro e melhorar o turismo na região. “ Eu digo que a Segunda Feira Gorda da Ribeira é uma festa maravilhosa, mas, infelizmente, o poder público vem a deixando morrer aos poucos. Quem mora aqui sabe como eram os tempos antigos: gente por todos os lados, havia muitos barraqueiros vendendo os mais diversos tipos de comidas e bebidas. Era uma espécie de pré-carnaval que agitava a cidade. É preciso que o poder público invista nessa festividade para valorizar nós itapagipanos e fomente o turismo na região”, explica.