Mal surgiram os albores da manhã, dirigi-me à Rampa do Mercado Modelo onde fundeara o Beldroegas, amigo inseparável dos fins-de-semana, bem tratado e conservado companheiro de muitas travessias e travessuras. Vistoriei a palamenta, verificando a presença de todos os instrumentos indispensáveis à navegação.
Era um misto de emoção e ansiedade que me tornava gélido e trêmulo, antecedendo sempre uma almejada e batalhada conquista. Ontem, aquela sisuda e jovem colega, quiçá uma das mais assíduas da classe, afinal decidira acompanhar-me em um lanche nas proximidades da Faculdade e a conversa animada sobre a vida no mar nos envolveu, fazendo-nos perder as aulas naquela noite de sexta-feira. Comungando das mesmas paixões e sabendo da sua ida, no dia seguinte, à praia da ilha que frequento desde a infância, aliado à vontade incontida e secreta de possuí-la, deu-me a grande oportunidade de convidá-la a navegarmos juntos.
“Muito bem amigo Beldroegas, estais em plena forma. Preparai-vos para mais uma aventura”.
Alcei a mezena até o topo do mastro, deixando o pano abafado. Retirei a poita da água e comecei a varejar lentamente em direção à rampa de atracação dos saveiros oriundos de vários pontos da costa baiana. Beldroegas cortava preguiçosamente as águas ainda adormecidas da enseada, quando, tal um resplandecente raio de sol surgido da passagem de uma nuvem, ei-la que desponta. Apressei-me em varejar com mais vigor, enfiando a vara no fundo arenoso. Em pé na proa, corria pela amurada até à popa com a vara apoiada na axila, fazendo o barco deslocar-se mais rapidamente. Após repetidos movimentos, ao aproximar-se do atracadouro, manobrei a popa em direção à terra para a abordagem.
Os cinquenta e cinco quilos de Isis flutuaram em um gracioso salto até a extrema popa e, em lá chegando, quedou-se qual uma obra renascentista para ser admirada na galeria de um museu. Desperto do êxtase, o que primeiro visualizei foi o seu par de seios livres, rijos e pontudos delineados em uma camiseta de malha. Na realidade ela parou no corpo da popa para admirar o Beldroegas, limpo, bem conservado e pintado, com acessórios até para um cruzeiro
– Eu sei porque você se admira. Nunca viu um saveiro assim.
– Realmente. O saveiro é mais usado para transporte de carga. Você fez um lastro cobrindo todo o cavername e tem até colchonete, geladeira e rádio.
Depois que ela acomodou-se em um banco, dei algumas varejadas, afastando-me do cais. Encaixei o leme nas ferragens. Coloquei a cana-do-leme e comecei a desabafar o pano. Manobrei a amura com a finalidade de puxar para vante o punho inferior da vela para que recebesse o vento de uma maneira adequada. Icei a amura para que a vela enfunasse, deixando aparecer bem no centro o desenho da cara de um enorme buldogue.
– Por que o buldogue? Perguntou ela.
– Foi personagem de história na minha infância. Daí o nome do barco. Respondi.
Chamei-a para sentar-se ao meu lado esquerdo na popa com a desculpa de que queria a sua ajuda para segurar a cana-do-leme, enquanto eu enfunava a vela com amura a boreste. Zarpamos, navegando em orça cerrada para manter um menor ângulo entre o rumo do barco e a direção do vento.
-Interessante a pintura que você fez no costado do barco!
-Eu pintei a linha de flutuação de vermelho bem vivo. As obras vivas, por ficarem emersas, fiz essa pintura psicodélica, predominando cor de abóbora e às obras mortas, que estão sempre imersas, eu dei cor preta.
Bem cingido ao vento, o saveiro sulcava as águas verdes quando passamos ladeando o Forte de São Marcelo e começamos a deixar as águas costeiras, singrando o oceano de cor azul como a do céu, resultando do espalhamento e absorção seletiva da luz.
“Navegando a tal velocidade – disse para mim mesmo – perderás a grande oportunidade que esperas a tanto tempo. Tens que usar o truque da calmaria”. “Beldroegas, meu amigo, sinto contrariar o vosso desejo, mas eu vou diminuir a velocidade”.
Desviei o rumo para sotavento , afastando a proa da linha do vento, mareando desfavoravelmente com a criação de um ângulo morto formado entre a direção em que o vento incide e o rumo do barco.
– Creio que estamos em águas mortas…
– Esse truque é igual ao da falta de gasolina – disse ela rindo – águas sem correnteza só nas marés de quarto de lua e nós estamos em lua cheia.
– Sim, é um truque – confessei meio desconcertado – porque pretendo tornar mais longa a viagem que eu sonho faz longo tempo.
– Concordo com a manobra – respondeu bastante decidida.
Eu não perdi tempo. Retirei a cana-do-leme que nos separava e aproximei-me dela, sentindo o calor do seu corpinho tenro. A brisa suave que soprava jogava os seus cabelos no meu rosto que já estava bem próximo do seu. Comecei a acariciar o seu ombro e fui descendo pelo antebraço até tocar a sua mão. Envolvi com as minhas mãos a sua, podendo senti-la quente e um pouco suada, talvez pela emoção. Trouxe-a até o meu peito para que pudesse sentir o pulsar descompassado do meu coração. Sem afastá-la de mim, busquei a outra mão, trazendo-a delicadamente ao meu encontro para transmitir-lhe todo o meu calor interior, todo o meu desejo através de delicados beijos e lambidinhas da língua na palma das suas mãos, fazendo-a rir, não só de cócegas, como também pela aquiescência e correspondência de sentimentos.
Em tais circunstâncias nada se fala, nada se ouve, apenas se sente o que os olhares transmitem, o que os poros emanam e o que o calor do corpo deixa transparecer. Mas, pensa-se e à minha mente veio a passagem de um conto de Horácio em que os amantes são aconselhados a não se aventurarem numa viagem através das “águas sem caminhos”. Não era o nosso caso, pois as aguas em que estávamos nos aventurando, além de límpidas, porque assim é o amor, eram tépidas, tendentes à fervura e os caminhos deveras conhecidos, irremediavelmente conduzindo a um fim já previsto.
Acariciando sua cabeça eu mergulhava os dedos em seus cabelos, sentindo a finura e a maciez dos mesmos, enquanto nossos olhares se cruzavam, sem piscar, sem olhar nada em derredor, vendo unicamente o interior do outro, na mensagem transmitida de dentro do mais recôndito do nosso âmago. Nenhum de nós precisava ser vidente para decifrar essa comunicação recíproca, traduzida no desejo incontido de juntos ficarmos, num abraço presos, prisão perpétua.
Com a sua cabeça em minhas mãos, puxei-a delicadamente para mim e pus-me ternamente a beijar os seus olhos, a pontinha do seu nariz, suas faces morenas, seu queixo e, rápida e suavemente, os seus lábios, até que consegui fazer deflagrar nela a contida vontade de me abraçar. Senti os seus braços me apertarem e a descerrarem-se os seus lábios ansiando pelos meus. Nossas bocas já não eram nossas bocas e sim uma só, cingidas numa mutua sugada de lábios, de língua, de dentes, até cairmos exaustos.
Deitei a sua cabeça no meu ombro enquanto acariciava os seus cabelos, os seus ombros e as suas costas. Nesse instante o seu braço tombou sobre as minhas pernas e ela pôde sentir o volume da minha excitação numa desenfreada tentativa de romper o que se interpunha aos meus loucos desejos.
– Não seria bom se você abaixasse a vela? – perguntou Isis.
– Oh! Minha filha, isto é impossível com você junto a mim.
– Eu estou referindo-me à vela do barco e não à sua.
Rimos muito ante o trocadilho e foi aí que percebi encontrarmo-nos com o barco à deriva, totalmente desviado da rota. Levantei-me, deixando bem à mostra a protuberância e arriei o pano do barco, muito embora a vontade fosse de arriar todos os panos. Joguei a âncora e, vagarosamente comecei a dar filame. Enquanto arriava aos poucos a amarra, fiquei a observá-la. Parecia uma nereida com os cotovelos apoiados na borda do barco a admirar embevecida os seus domínios, como se esperasse surgir outras belas ninfas para juntas dançarem na superfície do mar.
Isis olhou-me dentro dos olhos como se estivesse diante do próprio Netuno, senhor dos mares. Senti-me vaidoso por estar sendo mirado, não como Netuno que desencadeia tempestades ou incita monstruosos seres e provoca terremotos com a sua cólera, mas sim, como o Netuno benévolo que simboliza o mar plácido e quieto e que aplaca as tempestades.
– Você sabia – perguntei-lhe – que Isis é uma deusa da mitologia egípcia, padroeira dos navegantes e das boas viagens e casada com o seu irmão Osiris?
– Sim, sabia – respondeu-me.
– Por isso, eu estou em segurança, certo de que teremos uma tranquila e agradável viagem e que poderemos eternamente viver no mar.
Sentei-me ao seu lado. Coloquei a sua cabeça no meu ombro e pus-me a acaricia-la na nuca, o que a fazia estremecer-se, denotando estar aí uma de suas zonas erógenas. Beijando-a ininterrupta e ardentemente, fui explorando, a procura de outras zonas erógenas: a sua face, sua nuca, seu pescoço e suas orelhas. Demorei-me nos lugares que lhe causavam tremores e ficava a mordiscá-los com os lábios, ora era o lóbulo da orelha, ora era a nuca. Quando enfiava a língua no seu ouvido, ela estorcia-se, mas não conseguia desvencilhar-se dos meus braços que lhe envolviam pelo tronco e cintura.
As mãos haviam levantado sua blusa e lhe acariciavam as costas. Com o dedo polegar e indicador, percorria a sua coluna vertebral, desde o cóccix até à primeira vértebra e vice versa. Os movimentos ascendentes eram mais excitantes, pois faziam com que ela se contorcesse. Nos movimentos descendentes, eu aproveitava para sentir os contornos da parte superior de seus quadris e demorava-me um pouco a pincelar com o dedo, o seu reguinho de junção das nádegas. Essas cócegas faziam-na aproximar-se mais de mim e apertar-me.
Depois de tirar-me a camisa, Isis pôs-se a beijar-me o tronco e mordiscar-me os peitos, chegando, às vezes, a provocar-me uma dorzinha aguda e sensual. Suavemente fui suspendendo a sua blusa, bem devagar, para deixar-me em suspense ante o espetáculo previsível.
Quando o seu par de seios rijamente jovens apareceram, eu fiquei extasiado, emudeci e imobilizei-me. Foi ela quem completou a retirada da blusa e, aproximando lentamente um dos seios da minha boca, fez com que eu despertasse e aplacasse a sede daqueles lindos peitinhos sedentos de amor. Beijei-os, ora enchendo a boca numas mamadas glutonas, ora numas mordidas leves e repetidas que faziam-na gemer de prazer.
Na odisseia, Ulisses é advertido pelo deus Euríalo de que “as ondas do mar são carregadas de sofrimento”. Enganou-se o deus Euríalo. As ondas do mar são carregadas de prazer, porque muitas pessoas, por toda essa Baía de Todos os Santos, deveriam estar fazendo o mesmo que nós, pois o céu sempre azul, as suas águas mansas e a brisa que sopra, tudo isto em combinação, convida ao amor e tal irresistível convite impele inevitavelmente ao prazer e muitas pessoas gemem, gemem de satisfação e as ondas transportam esses gemidos. Assim, é comum para quem veleja nessas águas, ouvir gemidos e suspiros. Daí o cognome Baía de Todos os Prazeres.
Eu ficaria eternamente mergulhado em seus seios com a cabeça comprimida por suas mãos, cheias de ansiedade, se ela não se deitasse no corpo da popa. O seu peito arfando de múltiplos desejos, como se implorasse por um mergulho meu em águas profundas. Não titubeei. Comecei a desnudá-la do que ainda restava moldando seu gracioso corpinho, enquanto beijava e aspirava o delicioso aroma que emanava de seu ventre.
Quando senti que seu corpo estava na mais completa, pura e primitiva nudez, num total e perfeito contato com a natureza, que com seus elementos enfeitava essa baía, aproximei o meu corpo do seu. Ajoelhado no lastro do barco, sentia suas coxas quentes sob o meu tronco. O meu rosto deitado sobre o seu ventre e, no calor daquele cálido travesseiro, agradeci ao deus Netuno a dádiva que me concedia, enviando-me a própria protetora das boas viagens.
Aos poucos fui acomodando-me entre suas pernas as quais, de maneira bem aquiescente, abriam-se para que sentisse o fervor que emanava do mais íntimo do seu ser. Ao sentir o calor, contorci-me como se tivesse sido queimado por uma hidromedusa.
Beijando o ventre de Isis, fui chegando às suas coxas morenas e redondas, ao tempo em que acomodava-me de joelhos no lastro do barco e, segurando suas pernas com ambas as mãos, fui dobrando-as, de forma que, elevando os joelhos, coloquei os seus pés distantes sobre o corpo da proa para que eles ficassem afastados e fosse penetrando a minha cabeça entre as suas coxas, beijando e aspirando profundamente todo o aroma que exalava do alvo para o qual ardentemente o meu nariz e a minha boca dirigiam-se.
A medusa nada contraindo-se em movimentos rítmicos e expulsando água de sua cavidade. Foi esse espetáculo que descortinei ao abrir a sua vulva com as duas mãos. Não me contive. Enfiei o nariz na sua vagina, sorvendo todo o odor de desejo aí contido. Após sucessivas cheiradas, comecei a beijar delicadamente o seu monte de vênus recentemente depilado. Parecia uma espécie de tainha que vive em águas rasas e possui lábios carnudos e bordados, próprios para manter a boca livre de areia.
Com as duas mãos eu afastava esses lábios carnudos que não desejavam livrar-se de nenhum dos prazeres que eu lhes proporcionava e sim, exultava com os repetidos beijos, entremeados de mordiscadas com os meus lábios, o que fazia Isis estremecer com os choques propositais que lhe dava ao passar o lábio inferior no seu clitóris.
Depois usei a língua, deslocando-a ascendente e descendentemente, detendo-me em movimentos horizontais e bem rápidos, no seu clitóris róseo e já intumescido pelas mordidas e chupadas que eu lhe dava bem na pontinha.
Ora, eu enfiava a língua na vagina, sentindo na boca todo o líquido que dela escorria. Líquido quente, gostoso, que me melava o bigode e servia para que, através da própria língua, eu melasse o clitóris, tornando-o mais macio e sensual. Ora eu chupava com fervor a vagina, sugando o orgasmo que Isis não podia mais conter, apesar do esforço que fazia para prolongar indefinidamente aquela sequência de volúpias.
Isis estrebuchava de prazer jamais sentido. Suas pernas comprimiam minha cabeça. E ela gemia. Agarrava-se à borda do barco e aos meus cabelos, choramingava. Estorcia-se de gozo. Seus quadris debatiam-se como se quisessem livrar-se do meu rosto que, através da língua, dos lábios e do nariz, provocava-lhe um delicioso orgasmo que parecia infindo.
Chama-se “abater” quando o barco dá uma descaída ou desvia para sotavento, por efeito da correnteza ou do vento. Assim estava Isis, abatida, mas não por efeito da correnteza ou do vento, ou por navegar de bolina cochada. Mas, como que desfalecida.
E o meu mastro, não o do barco, ereto, prestes a varar nuvens e ventos, parecia de resistente abeto. Por isso, para satisfazer o que mais parecia uma adriça bem tesa, utilizada para içar a vela, carreguei Isis, semi- desfalecida e deitei a sobre um colchonete, cuidando para que os seus quadris ficassem no travesseiro, em um plano mais elevado. Feito isto, comecei a pôr me à trinca, isto é, na direção certa. Preparei-me para aguçar, com a proa na direção desejada, até abicar, ou seja, tocar a praia com o bico da proa. Isis estremeceu ao sentir a brasa que ia tocando, aos poucos, as suas coxas, o seu monte-de-vênus, mareando meio perdido, como se não soubesse manobrar o leme. Era a aflição e a ansiedade. As suas pernas foram se abrindo vagarosamente. A sua vagina parecia uma biguá ansiosa para, num longo mergulho, capturar o peixe e devorá-lo.
Ela puxou-me vigorosamente, fazendo-me cair de bruços, já abraçando-a e beijando o seu pescoço, enquanto suas pernas passavam pelos meus quadris e os pés cruzavam-se, forçando-me a aproximar-me mais e mais até sentir a glande do pênis tocar em algo quente e macio, todo melado de prazer e de orgasmo.
Eu sentia-me como uma nave a andar em cheio, isto é, com a vela cheia. Inopinadamente, para satisfação de ambos, deu-se o afundamento da proa na água, resultante do balanço. A boca de Isis abriu-se ao sentir a penetração profunda, a varar-lhe as entranhas, num vai-e-vem de entra-e-sai, arrancando-lhe gemidos guturais de gozo. Seus quadris mexiam-se para todos os lados em movimentos compassados e suaves
Esses movimentos foram se tornando acelerados e selvagens. Suas pernas e braços apertaram-me mais, num abraço bem arrochado. O meu auto controle que me impedia de uma ejaculação precoce, já estava no seu limite máximo. A sua súplica veio a contento, pois assim eu relaxei, deixando que tudo transcorresse como os nossos órgãos desejassem. A minha mente obscureceu-se completamente. A cabeça inteira ficou quente como se estivesse dentro de um forno. Eu sentia como se algo em ebulição percorresse todo o meu corpo, chegando ao canal ejaculatório e depois à uretra, para então dar-se, como que uma explosão, uma explosão de prazer atirada com ímpeto de um pênis no interior de uma vagina.
Quedamo-nos imóveis, fatigados. Lentamente o mastro começou a arriar e, ao retirar-se da vagina, o pênis tocou de súbito o clitóris ainda inchado e rubro de prazer. O estremecimento que causou deu-me ânimo para uma nova investida de volúpias e assim iniciei com umas pinceladas brandas, fazendo as pernas se abrirem para deixar a mostra e facilmente acessível a sua vulva toda molhada dos múltiplos orgasmos. O contato da glande do pênis mole com o clitóris proporcionava-me choques semelhantes a passagem de uma corrente elétrica de muitos volts. Prossegui nos movimentos com os dentes cerrados para suportar toda aquela sensação causada por e em um pênis demasiado sensível, na certeza de que estava propiciando a mesma sensação porque Isis debatia-se, procurando desesperadamente um lugar para agarrar-se. Ora era o colchonete, ora a madeira do cavername do barco ou então os próprios cabelos.
As pinceladas, às vezes calmas e vagarosas, às vezes violentas e rápidas, em sentido vertical ou em pequenos movimentos circulatórios concentrados naquela protuberância carnuda e macia, foi-me excitando e provocando uma repentina ereção no exato momento em que Isis estrebuchava de prazer, agitando os quadris. Aí, antes que ela terminasse de gozar, penetrei-lhe rápida e profundamente. As suas pernas cruzaram-se às minhas costas como uma tesoura de jiu-jitsu. Os seus quadris meneavam violentamente e os meus movimentos de entra-e-sai rapidamente, nos levaram ao ápice do prazer, num orgasmo conjunto.
Ficamos ambos como que desfalecidos. O esforço foi grande e o prazer indescritível, vindo depois da tempestade a bonança. Parecíamos um barco a arribar, procurando um ancoradouro seguro para fugir à tempestade. Aos poucos fui saindo de cima, tal qual um barco à capa, baixando a vela e mantendo a proa contra o vento.
Sentado, contemplando o espetáculo que a deusa das boas viagens, ali a dormir, se me oferecia, descansei um pouco, sentindo o balouçar do barco a mercê das pequenas ondas. Depois mergulhei nas águas mornas da baía e o banho fez-me acordar para poder continuar a viagem.
Puxei a âncora, coloquei a cana do leme, icei a vela e comecei a cambar o barco para corrigir o rumo, manobrando a escota da vela, afrouxando-a e passando-a para o outro bordo. Aproximei a proa da direção do vento, tornando a marcação mais cingida ao mesmo. Coloquei a porta do leme a barravento, fazendo com que o barco se movimentasse em torno do seu eixo vertical.
Beldroegas deslizava suave porém vigorosamente pelas águas calmas da baía com as velas enfunadas, em toda a sua imponência. O saveiro já foi nessas águas senhor absoluto, meio de transporte de passageiros e cargas entre as diversas cidades costeiras. As suas velas, das mais variadas cores, de içar ou latina, já coloriram a paisagem simpática e acolhedora do litoral baiano. Barco de grande estabilidade, sólida construção, pela sua superestrutura em forma de cumieira no seu centro. O convés inclinado e o calado profundo possibilitam o carregamento de mercadorias.
Isis dormia um sono profundo. Seus seios faziam graciosos movimentos ascendentes, acompanhando o arfar vagaroso do peito cansado. A viração balançava os seus cabelos desgrenhados e não nos deixava sentir o calor dos raios de sol que imperceptivelmente nos queimava.
Distraí-me, admirando aquela nudez feminina, brilhando à luz do astro-rei e não percebi quão próximos estávamos de nosso destino. Quando despertei do meu deslumbramento, já estava na amarração e tive que manobrar com muita destreza para não chocar-me com os barcos que se encontravam fundeados. Rapidamente soltei a escota e cambei a embarcação, jogando a popa para o lado da proa. A violência da manobra foi tão grande que Isis despertou, rolando no cavername. Rapidamente ela se vestiu quando percebeu que já havíamos chegado, enquanto eu retirava o leme, colocando-o sobre o banco da popa. Varejei o saveiro para a praia. Isis desceu graciosamente e eu levei o barco até a amarração, vislumbrando aquele riso gracioso que na praia ficava e aos poucos se afastava. Fiz uma “poitada” na amarração, próximo aos outros barcos. Amarrei a palamenta e mergulhei nas águas mornas e límpidas daquela praia que, desde a minha infância, outras coisas não me deram senão prazer.
(1) Expressão regional que designa os acessórios do barco
(2) Vela grande
(3) Embarcação típica das costas da Bahia.
(4) Parte interna do saveiro situada abaixo dos bancos
(5) Cabo
(6) Metade dianteira do saveiro.
(7) Lado direito do barco. Estibordo
(8) Maneira de navegar
(9) Bordo contrário de onde sopra o vento
(10) Folga que dá-se ao cabo da âncora.
(11) Expressão regional para se referir a uma forma de navegação
(12) Tipo de madeira
(13) Cabo usado para içar a vela
(14) Ave aquática
(15) Lugar onde os barcos ficam ancorados
(16) Ancorado
(17) Cabo utilizado nas embarcações
(18) Desviar, mudar de rumo
(19) Jogar a âncora