Por Duda Tawil, texto e foto
O nosso amado Jorge, que já foi exilado na Cidade Luz e anos mais tarde um dos seus ilustres moradores, com toda aquela simplicidade que o caracterizava, será justa e historicamente lembrado e homenageado em 2026, na capital francesa. O escritor baiano, o “menino grapiúna” cidadão do mundo, que nos deixou em 2001, residiu com a família, durante o seu exílio parisiense, entre 1948 e 1950, no Grand Hôtel Saint Michel, no Quartier Latin. Hoje um quatro estrelas, todo restaurado, a dois passos da Sorbonne, do Panteão, do Jardim de Luxemburgo (sede do Senado francês) e do Boulevard Saint-Michel, famoso pelo Maio de 1968, o hotel vai colocar uma placa na sua fachada com seu nome, como se faz muito na França, com seus moradores famosos, ou nas casas onde esses nasceram, viveram, criaram suas obras ou morreram.
A maravilhosa iniciativa é da simpática diretora do hotel, Marie Pereiras, revelada ao filho do escritor, João Jorge Amado, e à sua mulher Dôra Lopes, durante um café da manhã ao qual foram convidados, recentemente. Mas tudo começou quando João Jorge, ao receber um dos netos em visita a Paris, Francisco Pereira Amado, de 13 anos, o levou para conhecer o hotel onde moraram seus bisavós Zélia Gattai e Jorge Amado. O primeiro encontro com Marie naquele momento aconteceu, de repente, na recepção, e a “graça”, literalmente, também!
O diálogo, delicioso, bem à maneira dos Gattai Amado, vale a pena ser contado aqui, e foi mais ou menos, assim:
– O senhor sabe que aqui morou o escritor brasileiro Jorge Amado?
– Sei. Inclusive eu morei com ele.
Os risos foram inevitáveis, e as apresentações devidamente feitas, Juca, como carinhosamente João Jorge é chamado em família, contou a Marie, também gerente-geral do estabelecimento hoteleiro, que chegou ali com poucos meses de idade, bebê, no início de 1948, e que foi batizado em Paris em 8 de maio de 1949!
Jorge Amado, que faria 113 anos em 10 de agosto passado, era apaixonado pela cultura francesa, sobretudo a literatura, obviamente, e ao longo dos anos, muitas décadas, se tornou a referência máxima da cultura brasileira na França, com todos os seus livros traduzidos por diferentes editoras, documentários sobre sua vida nos canais de tevê, participações em programas de televisão célebres nacionalmente, membro de júris de inúmeros festivais de cinema (outra grande paixão sua), presidente do Carnaval de Nice em 1990, e foi Comendador da Legião de Honra da França, a prestigiosa Légion d´Honneur, o grau máximo de reconhecimento a uma personalidade no país, francesa ou estrangeira. Em 23 de março de 1998, sob aclamação, recebeu o título de Doutor Honoris Causa na Universidade da Sorbonne, como mencionado acima, vizinha do hotel. É nesta data, ou em torno dela, que se pretende colocar a honrosa placa, no vindouro ano.
Pouco depois desse feliz encontro, por videoconferência, o adido cultural da Embaixada do Brasil na França, o simpático Jonas Paloschi, conversou com Juca, se entusiasmou com a grande notícia, e deu a bela ideia de se fazer algo cultural e maior em torno da homenagem, com o apoio do dinâmico e querido embaixador Ricardo Neiva Tavares.
O Grand Hôtel Saint Michel (www.hotel-saintmichel-paris.com) fica no n°19 da Rua Cujas, no 5° distrito de Paris. É “personagem” de vários livros da memorialista Zélia Gattai Amado, sobretudo em “Jardim de Inverno”, no qual ela relata o exílio parisiense do casal, e consta em vários “apontamentos” de “Navegação de Cabotagem”, de Jorge Amado, lançado quando das 80 primaveras do enorme romancista, em 1992, assim como em “Farda, Fardão, Camisola de Dormir” (em francês foi traduzido e assim é intitulado: “La Bataille du Petit Trianon”). O seu proprietário é o tunisiano Jamel Belaïd, possui 47 quartos, e é, segundo Marie, muito frequentado por uma simpática clientela brasileira ao longo do ano, que geralmente fica hospedada uma semana.
Salve Jorge!
Viva Oxóssi: Okê, arô!















