Da Redação
Uma das figuras mais emblemáticas do Natal é, sem dúvida, o Papai Noel. Conhecido por ser o portador de presentes, alegria e magia durante a época natalina, esse personagem tem uma história rica que remonta às tradições de diferentes culturas e é fruto de um longo processo de transformação cultural e histórica.
Para entender a origem do Papai Noel, é necessário voltar à Antiguidade, durante a desintegração do Império Romano. Muitas tradições de povos bárbaros que migraram para a Europa foram incorporadas ao cristianismo em expansão. Nesse contexto, destaca-se a lenda do “Velho Inverno”, um senhor que, nos dias mais rigorosos de dezembro, batia à porta das casas pedindo comida e bebida. A generosidade com o “Velho Inverno” era recompensada com a promessa de um inverno menos severo.
A influência de São Nicolau
A figura do “Velho Inverno” foi gradualmente associada a São Nicolau, um monge turco do século IV, conhecido por sua generosidade e bondade. A história mais famosa sobre ele conta como ajudou um pai pobre a salvar suas três filhas da prostituição ao doar sacos de moedas de ouro para que elas tivessem um dote para o casamento. São Nicolau foi canonizado cinco séculos depois, e o dia 6 de dezembro tornou-se a data em que as crianças recebiam presentes de um homem trajando roupas de bispo, consolidando a ideia de um “bom velhinho” generoso.
Conexão com Odin e as tradições nórdicas
A lenda do Papai Noel também se cruza com as tradições nórdicas. Odin, o principal deus da mitologia nórdica, era descrito como um idoso barbudo que, durante o Yule (festival de solstício de inverno), distribuía presentes enquanto cavalgava Sleipnir, seu cavalo de oito patas, que sobrevoava os céus. As crianças deixavam botas recheadas de feno ou cenoura para alimentar Sleipnir, recebendo presentes em troca — uma prática que se transformou no ato moderno de deixar meias para o Papai Noel.
A evolução da imagem do Papai Noel
Foi apenas no século XIX que a imagem moderna do Papai Noel começou a tomar forma. O desenhista alemão Thomas Nast, em ilustrações para a revista Harper’s Weekly, criou uma versão inicial do personagem como um gnomo da floresta. Com o tempo, Nast refinou o desenho, adicionando a famosa barriga protuberante e a longa barba branca.
A roupa vermelha, porém, veio mais tarde, com as campanhas publicitárias da Coca-Cola na década de 1930. O ilustrador Haddon Sundblom estabeleceu o padrão do Papai Noel trajando vermelho com detalhes brancos, consolidando a imagem que conhecemos hoje. As campanhas foram tão bem-sucedidas que tornaram essa representação universal.
A popularização global
A figura do Papai Noel espalhou-se pelo mundo por meio das tradições natalinas e da influência cultural. Nos Estados Unidos, os imigrantes holandeses trouxeram a tradição de Sinterklaas, que evoluiu para Santa Claus. No Brasil, o personagem foi traduzido e adaptado como Papai Noel, mantendo a essência da generosidade e do espírito natalino.
Scarlett Dantas, professora de História do Centro Universitário de Brasília (CEUB), investiga as origens e simbologias que definem o Papai Noel, mostrando como ele se adapta a diferentes contextos ao longo do tempo. A construção de sua imagem resulta de uma mistura de tradições que abrangem diversas culturas e histórias. Entre as principais influências, destacam-se:
- São Nicolau – Considerado o precursor do bom velhinho, São Nicolau foi um cristão grego, bispo de Mira no Império Romano, que viveu entre 270 e 343 d.C. Conhecido por seus milagres e atos de caridade, São Nicolau se tornou um símbolo de generosidade. Seu dia, 6 de dezembro, era dedicado à troca de presentes, especialmente para as crianças. De acordo com a professora Scarlett Dantas, a figura de São Nicolau foi adaptada em diversas culturas, como em “Sinterklaas” na Holanda, e evoluiu para o que hoje é o Papai Noel, sendo venerado tanto pela Igreja Católica quanto pela Ortodoxa.
- Papai Noel/Father Christmas – Na tradição britânica, o personagem do Papai Noel é associado a um velhinho alegre e rechonchudo, vestido com peles vermelhas ou verdes, e que apreciava festas e músicas. No século XVII, com os conflitos religiosos, os puritanos tentaram abolir as tradições natalinas, considerando-as católicas. Contudo, o personagem Father Christmas, que não tinha vínculo direto com um santo, se popularizou entre os puritanos e católicos. No Brasil, o nome “Papai Noel” foi inspirado na expressão “Papai Natal” utilizada em Portugal.
- Santa Klaus – Nos Estados Unidos, a figura do Papai Noel se consolidou no início do século XIX, influenciada pela mistura de tradições trazidas por imigrantes. O poema “A Visit from Saint Nicholas”, mais conhecido como “The Night Before Christmas”, escrito por Clement Clarke Moore em 1823, foi um marco na popularização da imagem moderna de Santa Klaus. Dentre suas contribuições, Moore estabeleceu a ideia do bom velhinho viajando em um trenó puxado por renas voadoras, imagem que permanece icônica até hoje.
Essas diversas influências culturais e religiosas, ao longo do tempo, contribuíram para o surgimento de um personagem universal que transcende fronteiras e crenças, sendo um símbolo de doação, união e alegria. Como afirma a professora Scarlett Dantas, “A figura do Papai Noel se adapta, se reinventa e se mantém relevante, independentemente das mudanças históricas e sociais, tornando-se um ícone do Natal em múltiplos contextos”.
Referências:
- DANTAS, Scarlett. Professora de História do Centro Universitário de Brasília (CEUB).