Por Doris Pinheiro
Há muitas formas de se cultuar a grande Deusa no Brasil. Saiba um pouco mais sobre a importância da Rainha das Águas na Umbanda e entre as várias nações do Candomblé.
A força de Yemanjá na Umbanda é imensa. Ela é considerada a mãe de vários Orixás o que lhe garante posse sobre os poderes de fecundidade. É a principal cuidadora dos pescadores, sendo responsável também por cuidar dos lares e mantê-los em perfeita paz e união. Pai Leandro de Xangô, zelador da Casa de Sultão, fala da importância da divindade para os umbandistas.
Doris Pinheiro – Quem é Iemanjá para a Umbanda:
Pai Leandro – Quando falamos de Iemanjá estamos tratando de um Orixá. Orixá não é um concepção particular, não deve ser confundido com anjo da guarda e tampouco deve ter atribuições cristãs. Orixá é a divindade do povo preto yoruba. Não ter esse fato como premissa é, antes de tudo, um desserviço cruel a memória de resistência e luta desse povo. Dito isto, no Brasil, em virtude de toda nossa interface que o povos escravizados enfrentaram, o culto a Yemanjá (Yemoja) sofreu influencias e alterações. Em terra brasilis, Yemanjá passou a ser a regente da força dos mares, de toda água salgada, da maternidade no sentido da mãe que educa e cria o novo cidadão, tornou-se a mãe dos demais Orixás e também a dona de todas as cabeças. Yemanjá é para a Umbanda o arquétipo da grande mãe de protege e apoia seu filhos.
DP – Que Rituais homenageiam a Rainha das Águas na Umbanda?
PL – Iemanjá tem três grandes festas no país. A de Salvador e de Porto Alegre que acontecem em fevereiro e de Praia Grande, São Paulo. A maioria dos terreiros que conheço fazem suas oferendas, festas e rituais para ela neste período também.
DP – A Umbanda é uma religião brasileira e de fato sincrética, de que forma isso se reflete na maneira como vocês professam sua fé?
PL – Se tiver por princípio o conceito religioso e filosófico de sincretismo, em última instância, a maioria das religiões é em algum nível sincrética. O sincretismo religioso no caso das matrizes africanas foi um tecnologia necessária a sobrevivência ao perverso apagamento cultural a que o povo dominado foi exposto. No entanto, é importante ressaltar que tal artifício não cabe mais e que devemos reforçar a contribuição individual de cada religiosidade na cultura da Umbanda. Eu diria que as principais influências que o sincretismo religioso deixou na Umbanda, e na sua profissão de fé, foram as cores atribuídas as divindades, as datas festivas dos santos católicos sincretizados, o uso de orações do santo substituindo o nome dele pelo do Orixá, o uso do incenso.
DP – O que os terreiros de Umbanda fazem no dia dois de fevereiro?
PL – Há aqueles que fazem suas oferendas na festa, no mar ou em suas próprias comunidades. Vale ressaltar o cuidado que se precisa ter com depredação do meio ambiente colocando itens que não tem fácil absorção como vidros, palhas, alguidares, velas, espelhos, sem falar do risco de acidente que isso causa. Importante optar por ofertas que sejam comidas e que venham acompanhadas do bom caráter e do bom coração.
Os dias de comemoração de Iemanjá podem mudar de acordo com a região do país:
· Em Teresina as festas acontecem no mês de fevereiro;
· No Estado do Rio de Janeiro as festas acontecem no mês de dezembro;
· Nos Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul as festas são realizadas no mês de fevereiro;
· No Estado de São Paulo as festas acontecem em dezembro;
· No Estado do Ceará a festa ocorre no mês de agosto.
Nações do Candomblé
Há várias Nações do Candomblé no Brasil. Na África os mais proeminentes são o Grupo Nagô, de origem sudanesa, também chamado de grupo Iorubá. Nele encontramos os candomblés Ketu, Ijexá, Efan, Nagô Egbá, Xambá de Pernambuco e Batuque do Rio Grande do Sul.
O Grupo Daomeanos forma a Nação Jeje. Hoje a região de Daomé é conhecida como Benin. Os candomblés que são de sua origem são Fon, Fanti, Krumans, Agni, Mina, Éwé, Ashanti, Nzema e Timini.
Há também o Grupo Bantu. Localizado principalmente na África subsariana, na contra-costa, conhecido principalmente pelos moçambiques, eles são A ngola, Cabinda e Congo. O Grupo Angola-congolês, Banto, é representado pelos Benguelas, Congos, Cabindas e Ambundos de Angola. E há os Grupos islamizados Haúças, Mandingas, Fulas, Bornu, Grunci, Gurunsi e Tapa.
As Nações no Brasil
Aqui no Brasil as nações mais fortes presentes são Nação Angola, Nação Jeje e Nação Ketu. Cada uma delas possuem linguagens diferenciadas assim como as formas de realizaram seus rituais.
Nação Ketu
O Candomblé Ketu é o mais conhecido no Brasil. Segundo lendas contadas pelos próprios africanos, ele foi fundado na Bahia por princesas de Ketu e Oyó. Os Orixás cultuados nessa religião são de origem Yorubá. Os ensinamentos do Ketu são transmitidos pelos Babalorixás e Yalorixás através.
Nação Angola
Essa nação é considerada afro-brasileira pois mistura traços de origem bantu, – que compreende localidades do Congo e Angola – e que ganhou força dentro dos grupos de africanos que tinham o dialeto de kikongo e kimbundo.
Quando fala-se de nomenclaturas de cargos dentro dessa casa também encontra-se palavras distintas, por exemplo: o Pai de Santo é chamado de Tata Nkisi e a Mãe de Santo, Mametu Nkisi.
Os Orixás são denominados como Inquices (Inkices), e seu Deus maior é o Zambi.
Nação Jeje/ Jejê ou Djedje
No Brasil há diversas casas com características diferente do culto da Nação Jeje. Sua origem foi no Maranhão, mas após um período espalhou-se pelo Nordeste (principalmente Bahia e Pernambuco) e depois para São Paulo e Rio Grande do Sul. Nesta casa, os Orixás são chamados de Voduns, e o Deus maior é o Mawu (a Lua). Mawu encontrava-se com seu amado Lissa (Sol) durante o eclipse, o que deu origem aos 14 Voduns.
Dote Amilton Costa do terreiro Hunkpame savalu vodun zo xwe, da Nação Jeje, conta sobre a importância de Yemanjá para sua religião.
Doris Pinheiro – Quem é Iemanjá para a Nação Jeje?
Dote Amilton – Yemanjá para nação Jeje não se chama Yemanjá, chama-se Aziri Kaya. Yemanjá para a gente é a deusa das águas, Yemanjá é a mãe do universo, Yemanjá é a nossa poderosa mãe e nós temos o maior respeito a essa senhora. Não se arreia uma água no chão, não se arreia uma comida do chão, sem pedir a proteção dela, que Yemanjá é a toda poderosa, é a mãe de maior quantidade de orixás, dos voduns. Nós devemos muito respeito a Yemanjá.
DP – Que rituais homenageiam a Rainha das Águas?
DA – Tem uma festa específica sim para se homenagear ela, só que a gente homenageia ela junto com Aziri Tobosi, porque as duas moram nas mesmas águas, as duas comem praticamente as mesmas comidas, as oferendas são quase as mesmas, só que os gestos ou vestes são diferentes. Uma é mais lenta, a outra é mais rápida. A Yemanjá a gente chama de Aziri Kaya, ela é mais lenta. Aziri Tobosi é mais rápida, mas nós temos cânticos e louvações para ela e comidas que oferecemos para ela.
DP – O que os terreiros Jeje fazem no dia dois de fevereiro?
DA – 2 de Fevereiro a gente respeita, a gente louva, a gente acende vela, a gente bota flores, a gente homenageia Aziri Kaya com todos os seus direitos e seus deveres, só que para a gente do Jeje ela não mora no mar, ela mora no rio. Pra gente ela mora no rio.