Relacionamentos: sabemos realmente o que necessitamos?
Por Viviane Gago
Para o ser humano ser saudável, precisa equilibrar várias áreas da vida, não só depositar as fichas na carreira, ou só em lazer ou só em um relacionamento íntimo, por exemplo. Ao contrário, precisamos de muitas coisas.
Precisamos de tudo isso que foi mencionado acima, mais família, amigos, cuidar do intelectual, do emocional, da espiritualidade, da parte financeira no positivo, harmonia nos ambientes que mais frequentamos, dentre outras coisas.
Falando mais detidamente sobre a área do relacionamento íntimo, questiono-me se as pessoas, sabem o que realmente necessitam quando estão se relacionando? Quando estudamos Gestalt*, aprendemos que quando cientes das nossas reais necessidades, ou seja, cientes daquilo que precisamos nos nutrir, vamos de encontro ao objeto de satisfação para atingir a homeostase, ou seja, o equilíbrio.
Percebo que muitos não sabem o seu objetivo, o que necessitam, de fato, muito menos quando estão se relacionando. As pessoas entram num automatismo misturado com uma “normose” (patologia da normalidade) sendo levados pelo que a sociedade comumente executa. Casar-se até uma determinada idade, fazer uma festa, lua de mel, comprar uma casa, um carro, ter filhos etc. Fazem isso porque está impregnado no inconsciente coletivo, porém as pessoas não pensam se isso tudo faz sentido realmente para elas.
Interessante observar que o casamento, por exemplo, não cai de moda, todas as gerações ainda migram para esse modelo, incluindo os jovens. Acredito que por trás disso, deste comportamento, esteja incluído “sair de casa para uma nova experiência”, “ perseguir o amor”, “não estar só”, “construir uma vida diferente”.
Relacionar-se dá trabalho e tem altos e baixos. Trata-se de um investimento de tempo, emoção, dinheiro e, principalmente, o foco em conservar/cultivar esse relacionar-se por meio de escolhas diárias de querer estar com o outro verdadeiramente. Não se pode pensar que conquistou o parceiro e está tudo certo. Essa conquista precisa ser constante e permanente, caso contrário o relacionamento acaba.
Um dado para você refletir. O número de divórcios no Brasil cresceu 8,6% em 2022 na comparação com 2021, de 386.813 para 420.039. Foram 340.459 realizados por meio judicial e 79.580 de forma extrajudicial. Os divórcios judiciais concedidos em 1ª instância corresponderam a 81,1% dos divórcios do país. Os dados são das Estatísticas do Registro Civil de 2022, divulgados nesta quarta-feira, 27, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Meu pai dizia “relacionamento é uma planta que se rega todos os dias”. É verdade. E há também as diferenças geracionais, os relacionamentos pretéritos, dos nossos avós e pais tinham uma dinâmica específica, diferente das dinâmicas atuais, fruto das mudanças sociais. Então não se pode comparar uns e outros, mas o que se pode dizer sem medo de errar é que é necessário, atualmente, ter consciência sobre a importância das conversas difíceis. Não se deve colocar coisas para “debaixo do tapete”, há que se enfrentar, alinhar, compreender questões que estão incomodando seriamente; e isso é para a vida, pois ajustes devem ser feitos de tempos em tempos durante todo o perdurar da relação. Como diz a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa, “relacionamento é uma maratona e devemos dar a mesma importância que damos ao fracasso profissional ao fracasso pessoal”.
Assim como o fracasso profissional traz várias implicações desafiadoras, o pessoal também, em especial quando há filhos envolvidos.
Outro aspecto interessante é que hoje a adoção de aplicativos de relacionamento é mundial. Tanto que redefiniram a ideia de namoro para toda uma geração e cresceram até se transformarem em um mercado multibilionário, no qual consumidores de todo o mundo gastaram mais de US$ 5 bilhões em 2023, de acordo com pesquisadores do mercado de aplicativos da Data.ai.
E não há fórmulas mirabolantes para o relacionamento, cada qual tem a sua, ou seja, o que faz sentido e faz bem para determinada pessoa, não o faz para outras. E ainda importante pontuar que cada ciclo de vida demanda necessidades diferentes, as pessoas precisam pensar que adaptar-se, ter flexibilidade e paciência é fundamental para seguir em frente e ao lado.
Mais um fato relevante e determinante é a decisão individual de cada um dos envolvidos no relacionamento no tocante amar o outro, construir uma história compartilhada com todos os seus desafios e dificuldades, apreciando a humanidade do outro com certa dose de humor no sentido de rir, se divertir face o “pacote “de cada um, com suas belezuras e feiuras.
Isso tudo não vem pronto, tem que ser conquistado, construído e é para aqueles que são corajosos, assumem riscos e têm disposição.
Segundo ensinamentos do psicólogo americano Keith Witt algumas estrelas de um bom relacionamento íntimo são:
- Polaridade erótica;
- Parceiros cuidam-se mutuamente da saúde física e psicológica;
- Fazem o que é preciso para voltar para o amor; e
- Ter um propósito que admira e respeita no outro.
E lembremos:
- dinheiro não sustenta relação;
- filhos não sustentam relação;
- beleza física não sustenta relação;
- fama não sustenta relação;
- a vontade somente de uma pessoa não sustenta relação;
Quem faz dar certo uma relação são duas pessoas que decidem e escolhem dar certo, com respeito e amor um pelo outro. Gostar muito da essência do outro, pois ninguém muda ninguém. As pessoas se transformam por impulso, iniciativa própria, se quiserem. Acredito também que nisso tudo há certa dose de sorte em encontrar alguém especial em meio a tantos .
Você sabe realmente o que necessita para querer estar em um relacionamento?
*Gestalt trata-se de um modelo psicoterápico que enfatiza a experiência individual do momento presente (aqui-agora) e seu papel matricial de autorregulação e ajustamento criativo do sujeito ao seu contexto de vida.
Advogada e consteladora pelo Instituto de Psiquiatria da USP (IPQ/USP) com parceria do Instituto Evoluir e ProSer e facilitadora pela Viviane Gago Desenvolvimento Humano. Mais informações no site