Por Morgana Montalvão
Além de Salvador, outros lugares no nosso estado também realizam o turismo católico, como em Bom Jesus da Lapa, a 780 km de Salvador. A cidade é conhecida como a ‘Capital Baiana da Fé’ e abriga o Santuário de Bom Jesus da Lapa, igreja é responsável pela Romaria de Bom Jesus da Lapa, a qual reúne aproximadamente 600 mil fiéis durante todos os anos. Esta romaria existe há 331 anos e é a responsável por trazer milhares de devotos de todos os lugares do Brasil em busca do belo e do sagrado. Em 2022 a Devoção ao Bom Jesus da Lapa obteve o reconhecimento de patrimônio imaterial da Bahia.
Já em Dias D’Ávila, na RMS, a Cidade Santa é um empreendimento de cunho católico que está sendo erguido e contará um santuário projetado para 7 .000 pessoas sentadas, dez capelas para celebrações de grupos, uma capela de adoração perpétua onde Jesus é adorado 24h, um amplo estacionamento para carros e ônibus, alojamentos para encontros e retiros. O empreendimento vai abrigar o ‘Recanto da Misericórdia’ para eventos especiais, além de lojas e restaurantes. O local já recebe romarias com a participação de inúmeros católicos e peregrinos.
O turismo religioso de matriz africana cresce no estado. O projeto ‘Agô Bahia’, ( que na expressão iorubá significa “pedir licença”) , lançado pela Secretaria de Turismo do Estado da Bahia (Setur) em parceria com a Secult, promove o incremento deste segmento de turismo religioso e do afroempreendedorismo. A ideia estimula a criação de novos roteiros de visitação a locais sagrados e oferecer oportunidades de negócios no segmento. Recentemente, uma ordem de serviço para a recuperação de nove terreiros de candomblé, em Salvador; e um templo, em Camaçari, foi assinada em fevereiro pela Secretaria de Turismo do Estado (Setur), com a presença de lideranças do povo de santo.
Recentemente, uma portaria publicada no Diário Oficial do Estado, no último dia 14, oficializou a criação do Fórum Permanente Inter-Religioso de Turismo da Bahia. O grupo possui a coordenação da Setur e é composto por representantes de instituições ligadas às igrejas católica e evangélicas, ao espiritismo, às religiões de matriz africana, além das universidades Federal e Estadual da Bahia (Ufba e Uneb) e do Instituto Federal da Bahia (Ifba).
“O fórum vai funcionar como um instrumento de política pública voltada para o fortalecimento e sustentabilidade do turismo religioso, tendo como premissa o respeito às especificidades de cada religião. Será uma instância de debate, fortalecimento da fé e também de valorização do patrimônio histórico e cultural das religiões presentes na Bahia”, explica o titular da pasta, Maurício Bacelar.
A estimativa da secretaria é que o estado receba, anualmente, 3,3 milhões de turistas interessados em experiências de fé, injetando R$ 4,3 bilhões na economia.
Veja os roteiros dos templos católicos:
‘Caridade e Fé’: Basílica Santuário Conceição da Praia, Igreja Nossa Senhora do Pilar e Santa Luzia, Mosteiro de Salvador, Paróquia Nossa Senhora dos Alagados e São João Paulo II, Santuário de Santa Dulce dos Pobres, Basílica Santuário Senhor do Bonfim, Paróquia Nossa Senhora dos Mares, Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem e Paróquia Nossa Senhora da Penha.
‘Arte e Fé‘ : Mosteiro de São Bento, Igreja da Ajuda, Igreja e Museu da Misericórdia, Centro Cultural Palácio Arquiepiscopal, Catedral Basílica de Salvador, Igreja de São Bento dos Clérigos, Igreja de São Domingos de Gusmão, Convento e Igreja de São Francisco, Igreja da Ordem 3ª de São Francisco, Igreja da Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, Igreja do Santíssimo Sacramento do Passo, Igreja da Ordem 3ª do Carmo, Igreja de Nossa Senhora do Carmo, Igreja de Nossa Senhora do Boqueirão e Igreja de Santo Antônio Além do Carmo.
‘Mosteiro e Conventos‘: Convento de Nossa Senhora do Desterro e Devoção a Serva de Deus Vitória da Encarnação, Igreja do Santíssimo Sacramento e Santana, Igreja e Convento de Nossa Senhora da Conceição da Lapa, Santuário de Nossa Senhora da Piedade e Memorial dos Capuchinhos, Capela da Bem Aventurada Lindalva Justo, Igreja de São Raimundo, Igreja de São Pedro e Mosteiro de São Bento.
Confira abaixo curiosidades de alguns templos religiosos católicos de Salvador
Igreja Basílica de Nosso Senhor do Bonfim
Onde fica: Largo do Bonfim, no bairro do Bonfim, local conhecido como Colina Sagrada.
A Igreja do Senhor do Bonfim, construída entre os anos de 1746 a 1772, destaca-se como o marco mais célebre da Bahia e o ponto turístico mais visitado em Salvador. O Senhor do Bonfim é reverenciado como padroeiro da população baiana e símbolo do sincretismo religioso no estado. Com uma arquitetura neoclássica e fachada rococó, esta construção ostenta afrescos e azulejaria de notável beleza.
A devoção ao Senhor do Bonfim remonta à herança portuguesa, da cidade de Setúbal, ligada a Teodósio Rodrigues de Faria, um comerciante de escravos. Ele já era devoto do Senhor do Bonfim em Portugal, onde já existia a devoção a essa imagem.
Durante uma viagem, enfrentou uma terrível tempestade e fez uma promessa : se saísse vivo, levaria a Salvador uma imagem do Senhor do Bonfim. No ano de 1745 cumpriu o prometido, trazendo a imagem para a cidade e participando da criação da Irmandade de Nosso Senhor do Bonfim.
A igreja é conhecida como palco da emblemática Lavagem do Bonfim, um evento que atrai milhares de fiéis e turistas na segunda quinta-feira de janeiro, após o Dia de Reis. O ritual é marcado por um desfile de baianas do candomblé, percorrendo 8 km desde a Igreja Nossa Senhora da Conceição da Praia até a Colina Sagrada, onde, ao som de toques e cânticos africanos, elas despejam água perfumada nos degraus e no adro, enquanto as portas da igreja permanecem fechadas.
A Lavagem do Bonfim remonta ao século 18, quando escravos eram compelidos a limpar a igreja como preparação para a festa do Senhor do Bonfim. Ao longo do tempo, os seguidores do candomblé associaram o Senhor do Bonfim a Oxalá, orixá que no Candomblé é considerado detentor do poder procriador masculino.
O gradil da igreja é famoso por ser adornado com fitinhas coloridas conhecidas como ‘fitinhas do Bonfim’. Desde 1998, a igreja é reconhecida como Patrimônio da Humanidade.
Igreja Basílica de Nossa Conceição da Praia:
Onde fica: Rua da Conceição da Praia, bairro do Comércio.
A Basílica Santuário Nossa Senhora da Conceição da Praia ou Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia é uma das paróquias mais antigas da Arquidiocese de São Salvador. O projeto foi desenvolvido em Portugal e sua atual construção teve início em 1739.
O templo possui estilo barroco e pintura de teto em 3D, sendo o único desse estilo em toda a América Latina. Esta igreja foi edificada toda em pedra de Lioz trazida de Portugal, por solicitação da Irmandade do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora da Conceição da Praia, mantenedora da Basílica. As pedras foram coladas com óleo de baleia e a obra durou 300 anos, envolvendo três gerações de artesãos.
Em 1946, foi elevada a Sacrossanta Basílica, quando o Santo Papa Paulo VI declarou Nossa Senhora da Conceição da Praia, padroeira da Bahia.
Catedral Basílica Primacial do Salvador
Onde fica: Largo do Terreiro de Jesus, s/n, Pelourinho
Esta igreja é a sede do arcebispo-primaz do Brasil, sendo considerada uma espécie de “mãe” de todas as igrejas católicas brasileiras. Possui 30 bustos relicários que foram restaurados e são considerados, juntamente com os dois altares, os acervos mais importantes de arte sacra brasileira do final do século 16. A construção original foi realizada pelos padres jesuítas que vieram junto com Thomé de Sousa.
Com um estilo barroco, esta igreja abriga um acervo inestimável e de imensa importância, com telas de diversos artistas do século 17, móveis em madeira jacarandá e numerosos objetos de arte sacra em ouro e prata. O forro da nave deste templo religioso é espetacular, destacando-se o símbolo em latim IHS, que significa “Jesus Salvador da Humanidade”. Para sua construção, foram necessários cinco mestres carpinteiros trabalhando por dois anos, usando quatro navios carregados de madeiras nobres.
Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos
Onde fica: Largo do Pelourinho, s/n – Pelourinho
A Igreja da Venerável Ordem Terceira do Rosário de Nossa Senhora às Portas do Carmo, mais conhecida como Igreja do Rosário dos Pretos, começou a ser erguida em 1704 por uma das primeiras irmandades dos homens pretos do Brasil – Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos em homenagem a Nossa Senhora do Rosário.
A irmandade remonta do ano de 1685 e foi posteriormente elevada à categoria de Ordem Terceira em 2 de julho de 1899.
Trata-se de uma associação religiosa, a qual não possui fins lucrativos, sendo composta por católicos de ambos os sexos de cor negra, com conduta exemplar e, praticantes dos mandamentos divinos e eclesiásticos como cristãos católicos.
Este templo católico possui história ligada à diáspora negra. A liturgia dos seus cultos utiliza músicas dos terreiros de Candomblé – religião de matriz africana – com o som de atabaques.
Às terças-feiras há a ‘Terça da Bênção’, celebração religiosa católica com alguns elementos da cultura africana, como as cantorias e danças. A construção possui painéis de azulejos representando cenas marianas e da devoção do rosário.
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco
Onde fica: Rua da Ordem Terceira, Pelourinho, Centro Histórico.
Construída entre os séculos 17 e 18, esta igreja destaca-se pela sua fachada em pedra arenito lavada, decorada com altos-relevos, sendo um dos poucos exemplares no Brasil a qual remete ao estilo barroco espanhol.
Em seu interior, revestido em ouro, torna tudo mais esplendoroso. O templo abriga o único conjunto de azulejaria portuguesa que retrata a cidade de Lisboa antes do terremoto de 1755, proporcionando um rico acervo histórico e artístico.
Seu conjunto arquitetônico foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional (Iphan), sendo classificado como uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo.
Basílica de São Sebastião- Mosteiro de São Bento
Onde fica: Largo de São Bento – Barroquinha, Salvador – BA, 40024-108
Fundado em 1582, o Templo de São Bento está no primeiro mosteiro da ordem beneditina em toda a América e sendo o pioneiro no país. O Mosteiro de São Bento da Bahia recebeu o termo de ‘ Primeiro Arquicenóbio’ (comunidade de monges que vivem juntos) do Brasil.
A Basílica de São Sebastião é frequentemente escolhida como local para celebrações especiais, como casamentos e formaturas, devido à sua beleza e significado histórico, cultural e religioso. No Museu de São Bento, localizado nos andares superiores da basílica, os turistas podem apreciar uma coleção representativa de mais de duas mil peças, incluindo quadros, porcelanas, cristais, ourivesaria, mobiliário, paramentos e 223 obras de arte sacra.
A Biblioteca do Mosteiro de São Bento possui um valioso acervo bibliotecário (possuindo entre 200 a 250 mil livros).
Este riquíssimo acervo acumulado e conservado ao longo de mais de quatro séculos de existência, possui uma notável coleção de obras dos séculos 16 ao 19, tornando esta biblioteca como uma das mais importantes do país.
Paróquia Santíssimo Sacramento e Sant’Ana
Onde fica: Rua do Carro, s/n, Nazaré
Fundada em 26 de julho de 1760, é um dos primeiros templos católicos no país erguido com materiais originalmente brasileiros. Em seus domínios, repousam os restos mortais de figuras históricas como Maria Quitéria (1792-1823), heroína da Independência da Bahia, e o Padre Roma (1768-1818), um religioso brasileiro que veio à Bahia como emissário da Revolução Pernambucana de 1817. Foi nessa mesma igreja que Santa Dulce dos Pobres recebeu o chamado para sua vocação.
Originalmente concebido no estilo barroco, o templo passou por uma remodelação no século 19, adotando o estilo neoclássico. A santa padroeira desta paróquia é Santa Ana ou Sant’Ana, mãe de Maria de Nazaré e avó de Jesus Cristo, cuja festividade é celebrada em 20 de julho.
Capela da Beata Lindalva Justo
Onde fica: R. do Salete, 47 – Barris
A Beata Lindalva Justo foi uma religiosa que foi martirizada em 1993. A Irmã Lindalva foi a primeira mulher a ser beatificada no Brasil, em uma cerimônia realizada em 2 de dezembro de 2007. Nascida em 20 de outubro de 1953, no povoado de Sítio da Areia, município de Açu, no Rio Grande do Norte, Lindalva Justo de Oliveira era a sexta filha de uma família numerosa de 14 irmãos. Desde muito jovem, foi instruída pelos pais nos preceitos da fé católica, estudando as Sagradas Escrituras e participando da Santa Missa. Sob a tutela de sua mãe, Maria Lúcia da Fé, aprendeu a cuidar de crianças, ajudar os necessitados e gerir as tarefas domésticas, tudo isso sem deixar os estudos de lado.
Batizada em 7 de janeiro de 1954, recebeu sua Primeira Comunhão aos 12 anos. Após concluir o ensino fundamental, trabalhou como babá e, em 1971, mudou-se para Natal, capital do estado, onde residia com a família de um de seus irmãos. Na adolescência, envolveu-se em atividades na igreja, mas ainda não havia decidido sua vocação religiosa. O chamado veio enquanto residia na capital, através do convite de uma amiga chamada Conceição. Foi por meio de encontros abertos que Lindalva teve contato com as Filhas da Caridade.
Em 16 de julho de 1989, foi admitida à Congregação, em uma missa presidida por Dom Hélder Câmara. Um mês depois, juntamente com Conceição, participou de um encontro vocacional. O noviciado foi concluído em 26 de janeiro de 1991, seguindo o protocolo da congregação, que designa as irmãs para missões após esse período.
Lindalva foi enviada para o abrigo Dom Pedro II, em Salvador, na região da Cidade Baixa, onde assumiu o cargo de coordenadora do pavilhão de idosos. Este serviço era sempre realizado com extrema dedicação e alegria pela religiosa, que cantava e rezava o terço junto com os velhinhos.
Martírio e Beatificação
A Beata Lindalva Justo foi brutalmente assassinada por Augusto da Silva Peixoto, um homem de 46 anos, que estava morando no abrigo desde janeiro de 1993. Uma recomendação política permitiu que ele conseguisse ter comida e moradia no abrigo, no qual era necessário ter uma declaração de abandono, por parte da assistência social, e uma idade mínima de 66 anos. Augusto se apaixonou pela religiosa, que sempre deixou claro que jamais corresponderia aos sentimentos dele. Ignorando os pedidos da irmã, os assédios prosseguiram.
A irmã procurou a diretora do setor social e solicitou que comportamento do homem fosse repreendido, sem mencionar as suas insinuações indecentes, apenas suas transgressões às regras do abrigo, acreditando que isso seria suficiente para deter sua conduta inadequada e inoportuna. Fiel à vocação em cuidar e amar todas as pessoas, principalmente os idosos do abrigo, ela não hesitou em entregar sua vida por eles e disse:
“Prefiro que meu sangue se derrame, do que ir embora”, respondeu a irmã, quando lhe perguntaram por que não deixava o local, mesmo depois dos inúmeros assédios de seu agressor.
A repreensão sofrida por Augusto da Silva Peixoto alimentou ainda mais o ressentimento dele, por não ter sido correspondido.
O martírio ocorreu em 9 de abril de 1993, uma Sexta-feira Santa, após a irmã participar da Via Sacra, iniciada às 4h30. Ao retornar ao abrigo para servir o café aos idosos, enquanto estava atrás do balcão, foi surpreendida por um toque nas costas. Ao se virar, foi fatalmente esfaqueada na clavícula esquerda.
Mesmo caída, continuou sendo atacada por Augusto, que desferiu-lhe 44 golpes. O assassino permaneceu no local até a chegada da polícia e, em seu depoimento, afirmou ter cometido o crime porque a irmã nunca correspondeu as suas investidas.
Em 2007, a irmã Lindalva foi beatificada em uma cerimônia presidida pelo então Arcebispo de Salvador, Cardeal Dom Geraldo Majella Agnelo – atualmente Arcebispo Emérito -, realizada no estádio do Barradão. Mais de 25 mil fiéis participaram deste grandioso evento, além dos irmãos e da mãe da bem-aventurada, que na época tinha 85 anos.
As relíquias da Bem-Aventurada Beata Lindalva Justo ficam na capela situada ao lado da Escola Nossa Senhora do Salette, administrado pelas Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, no bairro dos Barris, região do centro de Salvador. A Capela do Martírio, local onde aconteceu o assassinato da religiosa, pode ser visitada de segunda a sexta-feira das 8h às 16h. O templo está localizado no antigo Abrigo Dom Pedro II, próximo às Obras Sociais Irmã Dulce (Osid).