A pesquisa Consumo e uso de Inteligência Artificial no Brasil, realizada pelo Observatório Fundação Itaú e Datafolha, revela que a maioria das pessoas (82%) já ouviu falar sobre IA e mais da metade (54%) entende o que o termo significa. Por outro lado, 18% nunca ouviram falar e 46% não compreendem o seu significado.
Ainda assim, 93% das pessoas entrevistadas utilizam alguma ferramenta que aplica IA. Para 75% delas, atualmente a IA faz parte do dia a dia, sendo que 32% acham que ela está muito presente. A utilização é mais frequente no dia a dia dos mais jovens, dos de maior escolaridade e dos de classe econômica mais alta.
“As evidências trazidas por esta pesquisa revelam a urgência de ampliarmos o entendimento sobre inteligência artificial no Brasil”, observa Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú.
“Embora ainda não conheçam plenamente o que ela significa e quais são as suas implicações, os brasileiros já utilizam a tecnologia em diferentes situações do cotidiano e demonstram interesse por ela, reconhecendo tanto seus riscos quanto seus potenciais benefícios. Ainda assim, é fundamental aprofundar esse conhecimento em todas as gerações — em especial entre aqueles acima de 60 anos, que já percebem a ameaça de substituição pela IA e a utilizam em menor escala”, continua ele.
“Trata-se de um tema que, pela sua complexidade e por impactar diretamente a vida de grande parte da população, precisa ser debatido de forma ampla pela sociedade, e não apenas circunscrito aos especialistas”, conclui Saron.
Os dados foram coletados entre 7 e 15 de julho de 2025, com entrevistas pessoais e individuais realizadas com 2.798 pessoas a partir de 16 anos de idade, de todas as regiões do país. A margem de erro máxima para o total da amostra é 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, considerando um nível de confiança de 95%.
Familiaridade com IA
É mais comum já ter ouvido falar sobre IA no Sudeste – onde 88% dos entrevistados afirmam que já ouviram falar, contra 73% no Nordeste, região que registrou o menor percentual de pessoas que já ouviram o termo. No Centro-Oeste foram 84%; no Norte foram 83% e, no Sul, 80%. A maioria dos entrevistados que afirma ter ouvido falar na IA vive em regiões metropolitanas: 87% contra 79% no interior; entre pessoas brancas, são 85%, e 81% entre pessoas negras (pretos e pardos).
A IA também é mais percebida à medida que diminui a idade das pessoas entrevistadas e conforme cresce a escolaridade e a classe econômica. 94% já ouviram falar sobre IA entre aqueles com 16 a 24 anos de idade; 90% entre os de 25 a 34 anos, e 69% entre pessoas com 60 anos ou mais. Em relação à escolaridade, 97% já ouviram falar sobre o termo IA entre aqueles que têm ensino superior; 91%, entre os que concluíram no máximo o ensino médio e 61% entre os que só concluíram o ensino fundamental. 94% já ouviram falar de IA entre as pessoas que são das classes econômicas A/B; 88% entre os da classe C e 66% entre pessoas das classes D/E.
Para definir o que é inteligência artificial, 36% das pessoas fazem menções relacionadas à sua finalidade, como a capacidade de obter informações, criar conteúdo (vídeos e imagens) e facilitar a vida e o trabalho. Outras definições se relacionam ao modo de acesso (celular, computador, redes sociais) da ferramenta (16%). Contudo, poucas pessoas ao definir o que é IA fazem menções ao modo como ela opera – simulação da inteligência humana (14%), a ser uma inovação tecnológica (12%) ou ao potencial impacto da IA na sociedade (6%).
A pesquisa também aponta que a principal fonte de informação sobre o que é a IA para os brasileiros são as redes sociais, citadas por 66% dos entrevistados. Jornais e noticiários vêm na sequência, mencionados por 44%, e filmes, séries e ficção científica são mencionados em terceiro lugar, por 25% dos entrevistados.
Uso prático de IA
Para 75% dos entrevistados, que responderam muito e um pouco, a IA faz parte do seu dia a dia, divididos entre muito (32%) e um pouco (43%). Observa-se maior presença da IA no dia a dia, ou seja, dentre os entrevistados que responderam “muito”, à medida que aumenta a escolaridade (47% para aqueles com superior completo, 33% com no máximo o ensino médio e 21% entre aqueles que só concluíram o ensino fundamental) e classe econômica (40% nas classes A/B, 34% na classe C e 23% nas classes D/E). A faixa etária entre 16 e 44 anos concentra o maior envolvimento com a IA no dia a dia, totalizando 38% entre 16-24 anos, 41% entre 25-34 anos e 38% entre 35-44. Entre pessoas com mais de 60 anos, a IA está presente no dia a dia de apenas 19% delas.
Ainda que 46% dos entrevistados não entendam o significado do termo, 93% declaram utilizar alguma ferramenta que aplica IA, sendo 89% em redes sociais como Instagram, Facebook e Whatsapp; 78% em sistemas de recomendação de filmes, vídeos e músicas, como Netflix, YouTube e Spotify; 63% com sistemas de navegação como Waze e Google Maps; 54% no uso de assistentes de voz como Alexa e Siri. Ferramentas de geração de texto, como ChatGPT, Gemini e DeepSeek são utilizadas por 43% dos entrevistados, e 31% utilizam ferramentas de geração de imagem ou vídeo por IA, como Midjourney e DALL-E, por exemplo.
Entre os usuários de ferramentas de geração de texto, imagens, vídeos ou assistentes de voz com IA, 69% das pessoas utilizam apenas a versão gratuita das ferramentas, enquanto apenas 11% optam exclusivamente por ferramentas pagas e 20% utilizam ambas (em algumas situações versões pagas e, em outras, versões gratuitas).
Entre os usuários de ferramentas que utilizam IA, 70% relataram uso para apoiar atividades no trabalho, para se divertir no tempo livre e para estudar. O uso para situações de apoio nas atividades do trabalho ou para divertimento no tempo livre foram relatados por 50% dos usuários de ferramentas que utilizam IA; o uso para estudar foi relatado por 47%.
O uso da inteligência artificial para trabalho e estudos é maior entre pessoas com nível de escolaridade mais alto – respectivamente, 74% para trabalho e 73% para estudos entre aqueles com nível superior completo. Entre as pessoas com no máximo o ensino médio completo, 50% usam para trabalho e 50% para estudos. Entre as pessoas com no máximo o ensino fundamental completo, 33% para trabalho e 25% para estudos.
O uso da inteligência artificial para o trabalho e estudos também é maior entre pessoas de classes econômicas mais altas (respectivamente, 68% e 63% nas classes A/B, 49% e 48% na classe C e 37% e 34% nas classes D/E).
O uso da IA é mais frequente entre os mais jovens: entre 16-24 anos, 88% utilizam alguma ferramenta com IA para o trabalho, diversão ou estudo, porcentagem que cai gradativamente até chegar aos 47% entre os 60+.
Entre os usos mais comuns da ferramenta, estão a busca por determinados temas ou assuntos (58%), resumo de documentos, encontrar informações rapidamente ou responder a perguntas complexas (56%), buscar recomendações de filmes, séries, jogos ou músicas (51%), aprender algo, encontrar referências ou sugestões de cursos (50%), criar conteúdos como textos, imagens ou vídeos (45%) e monitorar atividades físicas, encontrar sugestões de dietas ou auxiliar no diagnóstico médico (44%).
A falta de interesse (34%) é o principal motivo entre aqueles que disseram nunca terem utilizado ferramentas de IA, seguido por desconhecimento (24%), dificuldade na utilização (17%) e falta de confiança (15%). A falta de interesse prevalece na faixa etária de 25-34 anos (53%) e entre aqueles com nível superior completo (46%), enquanto a desconfiança aparece mais entre os jovens de 16-24 anos de idade (24%).
Inteligência Artificial e Educação
9 em cada 10 dos entrevistados (90%) concordam que todos os estudantes deveriam aprender a interagir com tecnologias de IA de forma consciente e responsável. A frase “a IA é essencial para preparar os estudantes para carreiras futuras” gerou concordância entre 78% dos entrevistados, 84% concordam que “a IA pode auxiliar diretamente no aprendizado dos estudantes” e 87% concordam que “os professores deveriam ter formação para integrar IA de forma responsável no processo de ensino-aprendizagem”.
Dentre altos percentuais de concordância, observamos que a afirmação de que os estudantes deveriam aprender a interagir com tecnologias de IA de forma consciente e responsável cresce à medida que aumentam a escolaridade (95% entre aqueles com ensino superior) e a classe social (93% nas classes A/B). Em sentido inverso, a percepção de que a IA é essencial para preparar os estudantes para carreiras futuras é mais comum entre pessoas com menor escolaridade (85% com ensino fundamental) e renda (82% nas classes D/E). Cabe ressaltar que todas as afirmações acima possuem percentuais de concordância altos.
Entre os entrevistados que utilizam inteligência artificial, 69% da população acha que a IA ajuda muito nos estudos, e 75% afirmam já ter aprendido algo novo utilizando a IA para os estudos. Quanto à confiança que depositam nos resultados que a IA dá, 42% afirmam confiar muito e 56% confiar um pouco. Essa é a mesma porcentagem daqueles que checam sempre os resultados que a IA dá (56%), enquanto 34% checam às vezes.
62% dos entrevistados afirmam que gostariam de aprender mais sobre Inteligência Artificial. A afirmação é mais recorrente entre homens (66%) e na medida que cresce a escolaridade e a classe econômica das pessoas entrevistadas, chegando a 72% entre aqueles com ensino superior e 70% nas classes A/B.
Percepções sobre trabalho e futuro
Cerca de 7 em cada 10 pessoas entrevistadas acreditam que a IA pode ser perigosa para a sociedade se for usada sem regras ou leis (77%) e que pode ser usada para criar informações ou notícias falsas – 76%. Além disso, 56% acreditam que pode substituir trabalhadores ou profissões no futuro, e uma menor parcela (28%) acha que a IA consome recursos naturais prejudicando o meio ambiente. Por outro lado, 6 em cada 10 pessoas acreditam que a IA pode inspirar a imaginar e criar coisas novas, e 47% que ela ajuda no dia a dia do trabalho/estudos.
Acreditar (muito) que a IA pode ser perigosa se for utilizada sem leis é mais frequente entre mulheres (79%) e conforme cresce a escolaridade (87% no nível superior). Já acreditar (muito) que a IA pode ser utilizada para criar fake news tem maior força na região metropolitana (80%). Acreditar (muito) que a IA pode substituir trabalhadores ou profissões no futuro é preponderante entre quem tem escolaridade até o ensino médio (59%). Já acreditar (muito) que a IA consome recursos naturais prejudicando o meio ambiente é mais frequente entre as mulheres (30%) e nas classes D/E (34%).
As percepções sobre os impactos positivos da IA são maiores entre homens (62% acreditam que a IA pode ser uma fonte de inspiração, e 49% acham que ela ajuda no trabalho/estudo), pessoas com maior escolaridade (66% e 56% entre aqueles com ensino superior) e de classe econômica mais alta (mesma porcentagem anterior – 66% e 56%). Além disso, acreditar (muito) que a ferramenta pode inspirar é mais frequente entre quem tem 25 a 34 anos (71%).
Em relação à percepção de que a IA representa uma ameaça ao emprego ou profissão, 49% dos entrevistados identificam enquanto ameaça, enquanto 51% acreditam não ser uma ameaça. No entanto, quando perguntados se já ficaram sabendo de algum caso em que a IA tenha substituído trabalhadores, 41% dos respondentes afirmaram conhecer algum caso.
Metade das pessoas entrevistadas (50%) acreditam que a IA não impacta em nada na forma como trabalham, sendo a outra metade dividida entre aqueles que veem impacto positivo (43%) e negativo (7%). A noção de impacto positivo aumenta entre os mais jovens (16 a 24 anos – 50%; 25 a 34 anos – 53%, chegando a 28% dentre os 60+), e entre entrevistados com ensino superior completo (66%) e pertencentes às classes A/B (60%)

Em relação à empregabilidade, 33% acreditam que a IA vai reduzir suas chances de conseguir um emprego, contra 26% que acreditam que a IA vai aumentar as chances. Para 41%, a Inteligência Artificial não fará diferença. Dentre os entrevistados que acreditam que não haverá diferença, observamos que 55% possuem mais de 60 anos, 50% possuem escolaridade completa até o ensino fundamental e 46% pertencem à classe D/E.
Percepções sobre riscos e ganhos
Sobre os medos relacionados à IA percebidos pela população, em primeiro lugar vemos a coleta e uso de dados pessoais sem controle (42%), seguido por utilização para fins maliciosos, manipulação ou vigilância (36%), substituição de trabalhadores, causando desemprego em massa (34%), geração de desinformação convincente em larga escala (31%), diminuição da importância do educador no processo de ensino (29%), ausência de leis e normas adequadas para regulamentar a inteligência artificial (25%), uso não autorizado de materiais, sem a devida atribuição ou referência (21%), reprodução ou ampliação de preconceitos (20%), dificuldade em entender como a IA gera seus resultados (17%) e aceleração da crise climática em decorrência do alto consumo de recursos naturais (12%). 6% afirmam não ter nenhum medo.
Entre os ganhos que a IA pode trazer para a sociedade, foram apontados o apoio para o avanço da ciência e inovação (41%), melhoria da qualidade da educação (41%), avanços em diagnósticos médicos e tratamentos personalizados (39%), inclusão social e acessibilidade para pessoas com deficiência (35%), criação de sistemas inteligentes voltados para o conforto e consumo humano (31%), melhoria da segurança pública e das formas de prevenção à acidentes (30%), criação de novos empregos (27%), aumento da produtividade econômica (22%) e conservação do meio ambiente e melhoria da sustentabilidade (15%). 4% não vê nenhum ganho, mesma parcela daqueles que não sabem.
Quando perguntados sobre o impacto da IA, 8 em cada 10 pessoas entrevistadas concordam que os conteúdos gerados ou alterados por IA deveriam ser, por lei, claramente identificados como tal, sendo a frase com maior concordância entre as estimuladas. 74% acreditam que a existência de vídeos e áudios falsos, mas que parecem reais, reduz a confiança nas mídias digitais. 73% acham que o uso de filtros e imagens com IA nas redes sociais é ruim para a saúde mental das pessoas e 65% acreditam que a IA vai piorar a qualidade das relações humanas. Sob uma perspectiva pessoal, 64% confiam na própria capacidade de diferenciar conteúdo real de conteúdo gerado artificialmente, e 46% acham que as ferramentas de IA podem substituir apoio psicológico profissional.
Saúde mental
Em relação ao uso enquanto ferramenta para auxílio em situações emocionais, 45% das pessoas já utilizaram IA para auxiliar na saúde mental de alguma forma; dessas, 42% sentiram que a IA não ajudou e 58% sentiram que a IA ajudou a lidar com questões emocionais ou de saúde mental. Em relação ao uso, 27% utilizaram a IA para aliviar ansiedade ou estresse, 26% para obter conselhos pessoais, 21% para conversar sobre sentimentos, 15% para meditação ou respiração guiada e 10% para simulação de escuta empática. Ter utilizado a IA para auxiliar em alguma situação emocional aparece com maior intensidade entre entrevistados negros (pretos ou pardos) (46%) e entre aqueles na faixa etária entre 25 a 34 anos (56%).
Sobre a Fundação Itaú
Com o intuito de inspirar e criar condições para promover o desenvolvimento de cada brasileiro como cidadão capaz de transformar a sociedade, a Fundação Itaú foi criada em 2019. A instituição dedica programas, ações e articulação com diferentes setores da sociedade para atender às urgências do Brasil contemporâneo e gera conhecimento por meio de pesquisas, dados e evidências. Estruturada em três pilares – Itaú Cultural, Itaú Educação e Trabalho e Itaú Social –, a Fundação garante a continuidade do trabalho desenvolvido ao longo de décadas nos campos da educação e da cultura, a expansão desse legado e uma governança ainda mais robusta – sem perder a legitimidade e a autonomia que sempre marcaram suas iniciativas.
Saiba mais em https://www.fundacaoitau.org.br/.















