O encontro internacional ArquiMemória 6, o maior e mais importante fórum de debate sobre a preservação do patrimônio edificado no Brasil, acontecerá entre os dias 5 e 8 de novembro em Salvador. No dia da abertura o arquiteto argentino Martin Capeluto fará a sua Conferência Magistral, intitulada “A ESMA, de Centro Clandestino de Detenção, Tortura e Extermínio a Museu Lugar de Memória”. A conferência abordará a transformação da Escola de Mecânica da Marinha (ESMA) em um espaço dedicado à memória histórica, um importante marco na luta pelos direitos humanos na Argentina.
A ESMA foi um dos centros mais notórios de repressão durante a ditadura civil-militar na Argentina, entre 1976 e 1983. Nesse período, mais de 700 locais de detenção ilegal existiram no país, e aproximadamente 5.000 pessoas foram sequestradas e desapareceram. O local, que funcionava como um centro de tortura, agora se transforma em um museu que promove a memória e a verdade sobre os crimes cometidos.
Em entrevista, Capeluto respondeu a perguntas fundamentais sobre a relevância desse espaço e a importância de sua transformação em um sítio de memória.
Entrevista com Martin Capeluto
1. Como passou a ESMA, de Centro Clandestino de Detenção, Tortura e Extermínio a Museu, a se tornar um Sítio de Memória?
A ESMA, que funcionou como um Centro Clandestino de Detenção, Tortura e Extermínio, foi transformada em um Museu Sítio de Memória graças à luta de organismos de direitos humanos, sobreviventes e familiares. Após o retorno da democracia, a preservação do local foi crucial para promover a memória, a verdade e a justiça. Em 2004, conseguimos recuperar e resignificar o espaço, preservando sua integridade e autenticidade para evidenciar os crimes cometidos, tornando-se o Espaço Memória e Direitos Humanos ex-ESMA. Em 2015, o Museu Sítio de Memória da ESMA foi inaugurado e, em 2023, foi reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Mundial, simbolizando a luta contra a impunidade e o compromisso com os direitos humanos.
2. Que importância tem para o povo argentino, e até mesmo para os sul-americanos que foram vítimas de ditaduras militares, transformar esses espaços em centros de memória, onde o que aconteceu seja visto como prova de terrorismo de Estado e crimes contra a humanidade?
Transformar a ESMA em um Espaço de Memória é crucial para o povo argentino e para todos os latino-americanos que sofreram com as ditaduras militares. Esse processo preserva a memória histórica e mantém vivos os testemunhos materiais dos crimes de lesa humanidade. Intervir nesses espaços evita o negacionismo e os consolida como evidências documentais da repressão, fortalecendo a luta contra a impunidade. Além disso, ressignificar centros de repressão como Espaços de Memória é um ato de reparação simbólica que reconhece o sofrimento das vítimas e promove a importância da democracia.
3. Hoje o local é um espaço de denúncia do terrorismo de Estado e de transmissão da memória. Que importância tem promover o diálogo intra e intergeracional?
Promover o diálogo intra e intergeracional na ESMA é fundamental para assegurar que as experiências do passado sejam transmitidas às novas gerações. Esse diálogo conecta as vivências dos que sofreram o terrorismo de Estado com os jovens, fomentando uma compreensão profunda da história e suas implicações atuais. Esse intercâmbio fortalece os valores de Memória, Verdade e Justiça, contribuindo para evitar a repetição desses horrores.
4. Como é para você participar do Arquimemória no Brasil e em Salvador da Bahia?
Participar do Arquimemoria e apresentar o caso de intervenção patrimonial no Museu Sítio de Memória ESMA é um reconhecimento do compromisso de nossos irmãos latino-americanos com as lutas por Memória, Verdade e Justiça. É um reconhecimento ao trabalho de profissionais e acadêmicos que constroem ações em torno do Patrimônio e da Memória, especialmente relevante em um momento em que esses valores estão sendo atacados por setores da ultradireita.
Sobre Martin Capeluto: Arquiteto formado pela Universidade de Buenos Aires, doutor pela Universidade Politécnica da Catalunha. Capeluto tem experiência na conservação do Patrimônio Arquitetônico e foi gerente de Patrimônio da Cidade de Buenos Aires. Ele coordenou estudos para a nomeação do Museu da ESMA ao Patrimônio Mundial da UNESCO, aprovada em setembro de 2023.
O ArquiMemória 6 reunirá profissionais de diversas áreas da Arquitetura e do Patrimônio, incluindo professores, estudantes, pesquisadores, dirigentes e técnicos de órgãos públicos, arquitetos, urbanistas e outros profissionais liberais. Nos dias 05, 06 e 07, as atividades ocorrerão no Senai/Cimatec, e no dia 08, na Faculdade de Arquitetura da UFBA pela manhã e na Reitoria da UFBA pela tarde. A expectativa é de que cerca de 700 participantes se juntem a este importante debate.
Nesta sexta edição, o tema central é “Democracia, Diversidade e Reconstrução”. O ArquiMemória 6 é uma iniciativa conjunta do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), através do Departamento da Bahia (IAB-BA), e da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (FAUFBA), através do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPG-AU) e do Mestrado Profissional em Conservação e Restauração de Monumentos e Núcleos Históricos (MP-CECRE).
O ArquiMemória 6 é uma co-promoção do Centro Universitário SENAI CIMATEC e conta com o patrocínio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Bahia (CAU/BA). Caixa Econômica Federal, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), Bahiagás e Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Emprego e Renda da Prefeitura Municipal de Salvador. Conta também com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (CAPES), da Embaixada Francesa no Brasil e da Rio Books.
As inscrições estão abertas e podem ser realizadas pelo site: https://www.even3.com.br/arquimemoria6/.