Nutricionista esclarece principais dúvidas e comenta sobre o papel da alimentação e estilo de vida para prevenir e controlar a condição
“Comer doces pode causar diabetes?” Essa é uma das muitas perguntas que surgem acerca da doença, que acomete mais de 20 milhões de pessoas no Brasil, segundo dados recentes da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). O país ocupa o sexto lugar no ranking mundial em número de casos de diabetes tipo 2, com uma prevalência de aproximadamente 90%, e o terceiro em diabetes tipo 1.
O diabetes tipo 2 ocorre quando o organismo não utiliza a insulina de forma eficaz, desenvolvendo resistência à sua ação, ou quando não produz insulina suficiente para regular os níveis de glicose no sangue. De acordo com a Federação Internacional de Diabetes (IDF), aproximadamente uma em cada três pessoas no mundo desconhece que possui a condição. Isso acontece porque os sintomas podem demorar a aparecer, aumentando ainda mais esse número.
Segundo Luisa Macedo Nunes, nutricionista da Clínica Atma Soma, a diabetes é uma doença crônica que exige atenção devido à complexidade de seus fatores de risco. “Ela é uma síndrome metabólica caracterizada pela hiperglicemia crônica, ou seja, pelo aumento dos níveis de açúcar no sangue, causado por fatores genéticos, biológicos e ambientais”, explica. Para Nunes, a alimentação desempenha um papel essencial na manutenção dos níveis adequados de glicemia, mas destaca que “existem aspectos importantes que precisam ser considerados para um controle realmente eficaz”.
Celebrado em 14 de novembro, o Dia Mundial do Diabetes destaca a importância da conscientização e prevenção dessa condição que, sem o tratamento adequado, pode trazer várias complicações à saúde. A seguir, a especialista esclarece alguns mitos sobre o tema.
Comer doces em excesso causa diabetes.
Somente o consumo de açúcar não causa a doença. “A alimentação é um fator importante, porém, somente comer doces em demasia não fará com que a pessoa tenha diabetes. O que desencadeia a condição é a combinação com outros fatores de risco, como obesidade e sedentarismo”, explica.
Assim como os doces, as frutas também devem passar longe do cardápio.
Não é verdade. As frutas são ricas em carboidratos, vitaminas, minerais e fibras, e podem ser consumidas em porções moderadas. De acordo com recomendações da Sociedade Brasileira de Diabetes, a prioridade deve ser para a ingestão de frutas mais fibrosas como maçã, pêra, limão e frutas vermelhas, laranja, abacate, kiwi, ameixa, devido ao seu menor índice glicêmico e à absorção lenta de carboidratos.
Quem se alimenta de carne vermelha também pode desenvolver a doença.
Estudo publicado em agosto de 2024 na revista The Lancet Diabetes & Endocrinology, aponta que a ingestão regular de carnes vermelhas e processadas pode estar associada a um risco elevado de diabetes tipo 2. No entanto, Luisa Nunes indica que pesquisas como essa são ainda um “sinal amarelo”. “Existe sim essa preocupação, mas ainda não há uma resposta clara para esse fator. O consumo em excesso pode levar a um aumento de peso e de gordura abdominal, aumentando risco de desenvolver resistência à insulina. Mudanças na dieta podem ter um impacto positivo em termos de prevenção, com a substituição por outros tipos de proteínas mais magras em algumas refeições”.
Quem tem diabetes tem que passar longe dos carboidratos.
Não só podem como devem incluí-los na dieta. No entanto, o grande ‘pulo do gato’ está na escolha deles. “Os carboidratos fornecem nutrientes importantes para o organismo, fazendo uma liberação gradual de açúcar no sangue. Para que um portador de diabetes tenha os melhores resultados, é importante que ele opte por opções saudáveis, como grãos integrais, frutas, legumes, leguminosas, farinha integral, entre outros. De toda forma, é necessário o acompanhamento médico para saber as quantidades ideais para cada caso”.
Só desenvolve diabetes quem é portador de obesidade ou está acima do peso.
Segundo a especialista, pessoas magras também podem se tornar diabéticas. “Essa associação ocorre porque a diabetes tipo 2 tem ligação com a obesidade ou o excesso de peso. No entanto, vale ressaltar que os fatores genéticos e estilo de vida também podem desencadear a doença”.
A diabetes é uma doença que acomete somente pessoas acima de 60 anos.
Embora a idade avançada seja um fator de risco, a condição pode afetar indivíduos de todas as idades. “Estilo de vida, alimentação inadequada e predisposição genética podem contribuir para o desenvolvimento da diabetes em pessoas mais jovens”, aponta Luisa Macedo Nunes. De acordo com dados do Atlas da Federação Internacional de Diabetes, no Brasil mais de 92 mil crianças e adolescentes têm diabetes tipo 1.
Um diabético pode consumir produtos diet e light.
A nutricionista da Atma Soma ressalta a importância da compreensão sobre esses dois tipos de alimentos. “Os produtos diet são livres de açúcar, mas é preciso conferir no rótulo as quantidades de gordura, sódio, frutose, amido, lactose, entre outros componentes, que podem interferir na glicemia e também pelo alto consumo de adoçantes que pode afetar a flora intestinal. Já os itens light são direcionados a pessoas que buscam uma alimentação saudável, com reduções de determinados nutrientes ou calorias”.
Um paciente portador de diabetes terá problemas em outros órgãos, decorrente da doença.
“Se a diabetes for bem controlada com alimentação, exercício físico, bem-estar e medicação adequada, não haverá prejuízos para o coração, rim e olhos”, reforça a nutricionista.
Bebida alcoólica, mesmo consumida com moderação, prejudica pessoas com diabetes.
Segundo a especialista, é preciso ter cautela, mas é possível. “Se o consumo for exagerado, pode haver um aumento de riscos de hipoglicemia e hiperglicemia. Além disso, as quantidades variam de pessoa a pessoa, por isso a importância de uma orientação nutricional e médica”.
Existem chás milagrosos para curar a diabetes.
Não existem estudos científicos que comprovem a cura da doença por meio da ingestão desse tipo de bebida. Chás, café e canela possuem propriedades nutricionais que podem auxiliar no controle da glicemia e reduzir fatores de risco, mas não há estudos que comprovem totalmente sua eficácia.
Investigação do diabetes: como e quem deve olhar para isso com atenção?
A detecção precoce do diabetes é crucial para evitar complicações graves e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Segundo Luisa Macedo Nunes, é fundamental que certos grupos de risco estejam atentos aos sinais e considerem fazer exames regularmente. “Pessoas com mais de 45 anos, ou mesmo mais jovens que apresentem sobrepeso, histórico familiar de diabetes tipo 2, hipertensão, sedentarismo, ou alterações nos níveis de colesterol e triglicérides, devem procurar uma investigação detalhada para verificar se são portadoras da doença”, recomenda a especialista.
De acordo com ela, o diagnóstico pode ser simples e feito através de exames de rotina, como a glicemia em jejum, que mede a quantidade de glicose no sangue, e o teste de tolerância à glicose, que analisa como o corpo reage ao açúcar ao longo do tempo. Outro exame essencial é a hemoglobina glicada, que indica os níveis médios de glicose no sangue nos últimos três meses. “Esses exames são ferramentas básicas e extremamente úteis para detectar o diabetes em seu estágio inicial, antes que ele progrida e cause complicações graves nos órgãos”, afirma Luisa.
A especialista também destaca que a importância da investigação vai além dos sintomas, já que o diabetes pode se desenvolver de forma silenciosa. “Muitas vezes, as pessoas convivem com a doença sem saber, pois os sinais iniciais nem sempre são claros ou específicos”, explica. A falta de sintomas evidentes, como sede constante, fome exagerada e aumento da frequência urinária, faz com que a condição passe despercebida, e quando diagnosticada tardiamente, o risco de complicações aumenta.
Portanto, a recomendação é de que os grupos de risco não esperem pelo aparecimento de sintomas para realizar esses exames e discutam os resultados com seus médicos para uma orientação personalizada. “Investigar de forma preventiva é uma maneira de garantir mais saúde e qualidade de vida, e isso inclui tanto uma avaliação médica quanto um acompanhamento nutricional adequado para ajustar a dieta, quando necessário”, conclui Luisa.