Hoje, 14 de março, é celebrado o Dia Mundial do Rim, data que marca uma luta em diversos países para promover uma boa saúde renal a todos. Os rins são essenciais para a manutenção da vida, tão importantes quanto o coração. Enquanto esse músculo bombeia o sangue para todo o corpo, são os rins que fazem a filtragem das substâncias tóxicas e líquidos em excesso que precisam ser eliminados do sangue, saindo do organismo pela urina. O rim também participa da produção de hormônios e substâncias que influenciam na saúde dos ossos, no transporte de oxigênio no corpo e regulam a pressão arterial. Sem rim, não há vida.
Segundo estimativa da Organização Internacional World Kidney Day, 10% da população mundial (850 milhões de pessoas) tem algum comprometimento da função renal, que se não for tratado, pode evoluir para a dependência de um tratamento de diálise ou um transplante. No Brasil, esse número seria, no mínimo, de 22 milhões de pessoas. O número de pacientes em diálise no país já é de cerca de 150 mil pessoas, segundo o censo realizado pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN). Muitas não chegam a descobrir a doença a tempo de preveni-la e o transplante não está disponível para todos. Isso acontece porque a doença renal é silenciosa e vai progredindo aos poucos, sem que o indivíduo perceba. Normalmente, quando aparecem sintomas, a pessoa já está com uma doença em estágio bastante avançado.
Mesmo com tanta importância, inúmeras pessoas não têm consciência do quão importante é acompanhar o funcionamento renal. Muito diferente da glicose ou do colesterol, que já são bem conhecidos e usualmente monitorados, a medição de creatinina, um marcador do funcionamento dos rins, ainda é frequentemente negligenciada.
“Quando essa substância está em excesso no sangue, significa que os rins não estão fazendo sua filtragem adequadamente. Este marcador sinaliza para o médico que há necessidade de investigar o motivo dessa disfunção. Muitas vezes essa causa pode ser tratada, revertendo a doença renal ou pelo menos adiada, às vezes por muitos anos, evitando situações mais críticas, quando somente a diálise ou o transplante vão permitir que o paciente sobreviva sem rins funcionantes”, explica a diretora médica da Fresenius Medical Care, Ana Beatriz Barra.
Apesar dos avanços, a doença renal crônica é uma condição de saúde grave e a expectativa de vida tende a ser menor do que a da população em geral. Estes pacientes têm maior predisposição às complicações cardiovasculares, como derrames ou infarto, e, também, infecções. Isso ocorre tanto pela falência dos rins em si, quanto por outras doenças associadas, especialmente o diabetes e a hipertensão arterial – duas causas mais comuns da doença renal avançada.
“Nossa luta é para conscientizar médicos generalistas ou mesmo especialistas, como por exemplo os ginecologistas, que acompanham mais frequentemente a saúde das pessoas, para que estejam atentos à função renal de seus pacientes e solicitem ao menos exames anuais de urina simples e de dosagem da creatinina no sangue”, reforça a médica.
Contribuição dos hábitos saudáveis para a saúde renal
Uma boa alimentação, com pouco sal, açúcar, gorduras, álcool e tabaco influenciam a saúde renal. Fazer exercícios físicos e ingerir bastante líquidos também são importantes. Quando a doença renal é descoberta em fase inicial, é possível evitar que se tenha falência total dos rins com acompanhamento regular, dieta e medicamentos.
“Somente uma pequena parcela das pessoas tem conhecimento dessa disfunção e, como consequência, a maioria dos indivíduos que necessita da diálise inicia esse tratamento emergencialmente e sem um acompanhamento prévio, explica a Dra. Ana Beatriz. “Estamos numa constante luta para conscientizar os pacientes e também os outros médicos e os governos sobre a importância da saúde renal. É preciso entender que a mesma vigilância proposta ao coração deve se estender aos rins. Ambos necessitam da integridade do sistema vascular, que é afetado pelo envelhecimento, obesidade, sedentarismo e as doenças crônicas relacionadas com a idade e ao estilo de vida, como diabetes e hipertensão arterial. Os rins são tufos de vasos sanguíneos altamente organizados e especializados, por isso sofrem com os mesmos problemas que fazem mal ao coração, ao cérebro e à retina”, complementa a médica.
Perigos de se automedicar
De acordo com Ana Beatriz, outro ponto muito importante é que as pessoas não devem tomar medicamentos, especialmente anti-inflamatórios, antibióticos, suplementos e anabolizantes, sem o devido acompanhamento médico. Alguns medicamentos, isoladamente ou combinados, podem trazer graves prejuízos aos rins.
“Mesmo os fitoterápicos podem ser muito perigosos. É recomendado que os médicos procurem conhecer a saúde renal dos pacientes para ajustar a dose de remédios quando necessário, ou até mesmo evitar a prescrição de algumas classes de medicações, dependendo da realidade de saúde de cada paciente”, alerta.
Convivendo com a doença renal há mais de três décadas
Edvan Vieira Mendes da Costa, 40 anos, é dançarino profissional e convive com a doença renal desde os seus 9 anos, quando uma inflamação bacteriana de garganta mal curada gerou uma doença nos seus rins, chamada de glomerulonefrite. Mas a perda total da função dos rins ocorreu apenas em 2021, quando a Covid quase tirou a sua vida e gerou a necessidade permanente de fazer hemodiálise. Nesses casos, de uma evolução inevitável para a falência renal, o enfrentamento da nova condição de saúde com positividade é o fator mais importante para se ter uma vida ativa e feliz.
“Eu falo para as pessoas que diálise não é o fim. É a oportunidade de continuar vivo. Eu continuo dançando e dou aula até tarde da noite. Aliás, a dança foi uma atividade que busquei porque era liberada pra mim, que não podia fazer muito esforço. Mas, hoje em dia, sempre alerto que os rins são frágeis e as pessoas precisam cuidar bem deles”, diz Edvan, que já dançou com Xuxa, Anitta, Naldo, Latino, entre outros artistas.
Todas as pessoas devem procurar saber como está a sua saúde renal, e o exame da creatinina no sangue e um exame simples de urina são suficientes para isso. São exames disponíveis tanto na rede de saúde pública quanto na privada. Porém, alguns grupos de pacientes devem estar mais atentos e acompanhar a função renal com mais frequência.
“São os pacientes com diabetes, hipertensão arterial, idosos, obesos, cardíacos e pessoas com doença renal crônica na família. As pessoas que possuem algum risco precisam estar atentas e seguir todas as recomendações médicas. Só assim poderemos prevenir ao máximo o número de pacientes com doenças renais avançadas e a necessidade de diálise ou transplante”, comenta a nefrologista.
Hoje, há remédios bastante eficazes para tratar pacientes em risco e, no Brasil, alguns desses medicamentos estão disponíveis, inclusive, na farmácia popular. “Precisamos que médicos façam diagnósticos precoces e a população reconheça a necessidade de levar muito a sério o tratamento de doenças crônicas mesmo quando assintomáticas, incluindo a urgência em se modificar os hábitos de vida”, diz.
Outras doenças – A doença renal crônica, em geral, se apresenta como uma diminuição lenta e progressiva das funções dos rins, que pode levar de meses a anos, e também pode ser provocada por doenças mais raras e específicas dos rins, como as glomerulopatias, os cistos hereditários e as doenças congênitas. Nesses casos, podem ser reconhecidas até intraútero ou aparecer desde o nascimento. Doenças de vias urinárias que obstruem os rins, como cálculos e hipertrofia de próstata, quando não tratadas eficazmente, também podem lesar gravemente os rins.
Sintomas – Alguns sinais podem indicar a presença de um problema renal. São eles: urinar muito ou pouco; urina escura, com espuma ou com sangue; inchaço nos olhos, tornozelos e pés, principalmente pela manhã; fraqueza; perda do apetite; falta de ar; aumento da pressão arterial; náuseas e vômitos. Mas esses sinais podem ser também causados por outras doenças e quem é capaz de dar o diagnóstico é o médico ao fazer os exames específicos, descobrindo, inclusive, em que fase a doença está.
“O importante é que as pessoas não procurem saber como estão seus rins apenas quando surgirem sintomas. Exames simples podem evitar grandes transtornos de saúde, perda da qualidade de vida e, por fim, morte precoce”, finaliza a médica.
Hemodiafiltração de Alto Volume
Em 2023, a Fresenius Medical Care participou de um estudo clínico inovador que demonstrou que a taxa de mortalidade entre pacientes com falência renal pode ser significativamente reduzida por meio da utilização da tecnologia de hemodiafiltração de alto volume. Conduzido pelo consórcio CONVINCE e liderado pelo University Medical Center Utrecht, este foi um estudo internacional randomizado e controlado, meticulosamente projetado e executado, que traz um marco crucial na comparação da hemodiafiltração de alto volume (HV HDF) com a hemodiálise de alto fluxo convencional, pois demonstrou inequivocamente a superioridade da HV HDF em relação ao aumento da sobrevida dos pacientes.
Os resultados do estudo revelaram que os pacientes tratados com hemodiafiltração de alto volume experimentaram uma redução notável de 23% nas taxas de mortalidade em comparação com aqueles tratados com a hemodiálise de alto fluxo, a terapia dialítica mais comumente usada. Embora as técnicas dialíticas tenham melhorado com o tempo, a hemodiálise convencional, terapia de substituição da função renal mais utilizada no mundo, emprega principalmente a difusão para remover pequenas moléculas e fluidos do sangue. Em contraste, a hemodiafiltração online de alto volume incorpora técnicas de difusão e convecção para eliminar moléculas maiores e gerência com eficácia a reposição de fluidos removidos por este alto volume de ultrafiltração.