Por Ana Paula Carneiro
Não é só literatura infantil. É gente pequena escrevendo coisas grandiosas. Com essa frase dita por uma pessoa do público numa mesa que mediei na Flipelô 2022, inicio esse texto em homenagem ao Dia Nacional do Livro Infantil, mas eu vou escrever muito pouco, e muito mais mediar esse espaço para a escrita que se faz presente na voz de uma criança escritora, o nosso Yalle Tárique.
“Ele imaginava que era rei, soldado, herói, pirata e domador”
“Era o que queria ser, porque era um sonhador”
Dori Caymmi / Paulo Cesar Pinheiro
No Dia Nacional do Livro Infantil homenageamos a literatura que se faz no aqui e agora, quando falamos de escritor de literatura infantil, e sobre desconstrução de velhos paradigmas. Portanto, deixemos a infância do século XXI falar por si mesma. Yalle Tárique, escritor infantil, começou a escrever aos sete anos como forma de abrandar as angústias vividas no primeiro momento da pandemia. Após o seu primeiro livro, “Diário de uma Quarentena”, participou de vários concursos literários e recebeu premiação nacional. Hoje já tem seu segundo livro publicado “Bucambe – o Pequeno Herói” e participa de vários eventos literários. Mas não vamos correr o risco de falar por uma infância que não é a nossa. Demos espaço para que o menino flua com as suas próprias palavras e que você leitor possa se deliciar e conhecer ele.
“Ele acreditava em dragão, bruxa, saci, cavalo voador”
“Via o que queria ver porque era um sonhador”
Dori Caymmi / Paulo Cesar Pinheiro
Yalle Tárique – Eu acho que a primeira mudança que eu senti após escrever meu primeiro livro foi o gosto pela leitura e escrita. Passei a ler mais. Uma sede de ampliar meu repertório literário e consequentemente também passei a ter mais vontade de escrever, até porque foi através disso que eu consegui me aproximar mais da leitura em si. Eu já lia antes, porém de forma despropositada e depois da publicação do “Diário de uma Quarentena” fui me percebendo melhor e com isso tive a necessidade de ter acesso a mais conteúdos literários.
Então a partir daí a leitura começou a fazer parte do meu dia a dia, como um alimento diário e hoje eu sinto que eu e a leitura estamos mais próximos, firmes e fortes como grandes amigos. Além de fortalecer minha capacidade de senso crítico, minhas mudanças maiores foram me abrir para universos jamais imagináveis e principalmente ter contato com pessoas e obras que nunca nem imaginei existirem.
“Ele viajava e era trem, submarino, avião, vapor”
“Ia aonde queria ir porque era um sonhador”
“Dori Caymmi / Paulo Cesar Pinheiro
Yalle Tárique – A literatura agrega muitos valores. A partir da descoberta deste universo, e com o acesso às obras literárias, pude me reconhecer melhor, ter o senso crítico e muitas vezes, dependendo da obra que estou lendo, perceber que tem personalidades de personagens que me identifico, com pautas e valores com os quais sou criado. Além de ampliar mais meu horizonte, eu me transporto para diversos lugares que desejo ir, e tem também perceber que há muitas coisas que que eu nunca gostaria de ser, ou atitudes de personagens que eu nunca gostaria de ter, ou isso não se parece comigo. Mas respeito o ponto de vista e tento compreender a que público se quer alcançar também.
Então, através da mediação com o livro eu posso me inteirar e dialogar com outras perspectivas, olhar ao redor e perceber que os universos são diversos e o mundo é muito maior, e que apesar de cada história ter um protagonista, existem outros personagens. Então não é sobre mim, mas sobre nós, e os livros e a literatura me despertaram muito para essa forma de pensar e viver coletivamente.
Yalle Tárique – Os meus autores prediletos são J. K. Rowling, pois são fã de carteirinha de toda saga de Harry Potter. E eu me tornei um consumidor das obras de Carolina Maria de Jesus. Depois de ler “Quarto de Despejo”, e seu livro diário de uma favelada, me senti muito orgulhoso do meu livro “Diário de uma Quarentena”. Waly Salomão! Também amei o poema dele “Câmara de Ecos”, além de me identificar com sua forma de se apresentar.
Tem os clássicos né? Castro Alves, Machado de Assis, José de Alencar, Cecilia Meireles, dentre outros. Sou fã de Aline França, escritora da terra dos meus bisavôs, a cidade de Teodoro Sampaio, aqui na Bahia. Conceição Evaristo, Djamila Ribeiro e muitas outras e outros que não lembro agora. Além dos meus escritores e amigos, Tia Ana, uma grande mediadora cultural que me inspira, Márcia Mendes, Marcos Cajé, Emília Nunes, Ricardo Ismael. Minhas amigas; Luiza Meireles e Marcela Rosa. E Clara da Casinha de Livros. Amo seu projeto e o alcance literário que ele tem. E a minha maior inspiração é minha bisavó Maria Salomé.
Yalle Tárique – Desejo transmitir que existem várias formas de ver o mundo e várias realidades, assim como a diversidade de obras. Desejo incentivar um mundo onde haja mais respeito e inclusão e que assim, como na literatura, tudo seja possível. Podemos tornar nossos sonhos realidade também. Desejo mais do que nunca incentivar o gosto pela leitura como um direito, e não um dever, como sempre digo em minhas falas.
Todos os meus planos são para que eu possa viver conforme meus próprios desejos, sem cobranças e que tudo que se apresente e eu possa realizar de forma respeitosa e com responsabilidade, não com peso, mas com cuidado. E que eu possa escrever mais livros, compor mais músicas, ser médico, ser ator, ser advogado, sei lá ! Os planos são futuros, mas as metas com foco e determinação são diárias, então meu plano é que tudo que eu me proponha a fazer que seja verdadeiro e prazeroso. O que eu serei eu já sou Yalle Tárique.