Especialista em educação parental afirma que o diagnóstico precoce dos transtornos é mais libertador do que assustador para crianças e cuidadores
Muitas famílias, por falta de informação, dificuldades ou até mesmo por resistência ao diagnóstico, deixam de identificar precocemente os transtornos do neurodesenvolvimento em crianças e adolescentes.
De acordo com o Manual Estatístico de Saúde Mental, o DSM-5, esses transtornos são alterações neurológicas que podem interferir na aquisição, retenção ou aplicação de habilidades e conhecimentos. Eles podem afetar atenção, memória, percepção, linguagem, solução de problemas e interação social. Dependendo da gravidade, podem ser manejados com intervenções comportamentais e educacionais ou necessitar de suporte mais intensivo.
Andreia Rossi, orientadora parental e especialista em Transtorno Opositor Desafiador (TOD), destaca que o tempo é um fator essencial para o diagnóstico preciso de alguns transtornos. “Para algumas condições, como autismo e atraso global do desenvolvimento, é possível identificar sinais nos primeiros anos de vida. No entanto, outros transtornos exigem que a criança apresente respostas a determinadas situações para que se inicie uma investigação”, explica.
Ela enfatiza que o diagnóstico de transtornos como o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) exige uma idade mínima para avaliação confiável. “Como diagnosticar uma criança com TDAH aos dois anos? Não dá. Aos quatro anos, também é cedo”, reforça Andreia.
A fase da pré-alfabetização é um período-chave para observação, pois permite que as respostas da criança sejam analisadas de forma mais eficaz. Antes disso, qualquer suspeita é considerada uma hipótese diagnóstica. “Mesmo que a criança já demonstre dificuldades emocionais, de aprendizado ou relacionamento, o diagnóstico definitivo só pode ser feito quando ela alcança uma idade em que sua resposta pode ser devidamente analisada”, acrescenta.
A demora na identificação dos transtornos pode levar a prejuízos significativos, tanto emocionais quanto acadêmicos. Crianças podem apresentar dificuldades de relacionamento com os pares e a família, além de desafios no ambiente escolar.
Segundo Andreia Rossi, sempre que uma criança foge do padrão esperado para sua idade e apresenta prejuízos evidentes, é essencial buscar avaliação especializada. “Se uma criança muito pequena é encaminhada para terapia, estimulação ou desenvolvimento de habilidades emocionais e sociais, sua resposta é analisada. Se com intervenção precoce ela supera os desafios, provavelmente não há um transtorno envolvido. Mas se os prejuízos persistem, a investigação precisa continuar”, esclarece.
A especialista reforça que tanto a intervenção quanto a investigação precoce são fundamentais para abrir janelas de oportunidade no desenvolvimento infantil. “Se essa janela de aprendizado é perdida, a criança continua capaz de aprender, mas o processo se torna mais sofrido e traumático. A intervenção precoce reduz o estresse da criança e aumenta suas chances de um desenvolvimento mais saudável”, afirma.
Ela ressalta que o objetivo não é buscar um padrão de “normalidade”, mas minimizar sofrimentos e prejuízos. “Com diagnóstico e intervenção precoces, é possível reduzir terapias futuras e evitar que o sofrimento da criança cresça como uma bola de neve. Não se trata de ‘coisa de criança que vai passar’. Quando a intervenção não acontece, surgem problemas de autoestima, estigmatização, dificuldades acadêmicas e relações sociais prejudicadas”, alerta Andreia.
Por fim, a especialista lembra que a criança não tem capacidade de se autorregular sozinha e depende de recursos adequados para seu desenvolvimento. “Elas não possuem um cérebro sofisticado o suficiente para se modelar sozinho. O acompanhamento correto pode facilitar a neuroplasticidade e proporcionar um desenvolvimento mais equilibrado”, conclui.
Sobre a especialista:
Andreia Rossi é psicopedagoga e orientadora parental, especializada em Transtorno Opositivo Desafiador e em relações entre pais e filhos. Sua especialização se deu pelo fato de sua filha adolescente, receber o laudo de TOD aos 8 anos. Hoje, ela é fonte de informação nas redes sociais, além de ministrar cursos e palestras. Pode contribuir para pautas sobre transtornos do neurodesenvolvimento e temas familiares.
Instagram: @tod_tecontotudo