A professora de liderança humanizada da Human SA, Renata Livramento, explica que mesmo as pesquisas revelando que no Brasil os colaboradores estão 9% mais insatisfeitos do que a média global, a estratégia adotada na China está equivocada
Recentemente, o fundador e presidente da rede de varejo Pang Dong Lai, Yu Donglai, lançou uma política inovadora na empresa de licença por infelicidade. Os funcionários podem tirar um dia de folga quando estiverem estressados ou se sentindo desanimados, sem precisar da aprovação da liderança. Na visão da especialista em saúde corporativa e bem-estar e professora da Human SA, Renata Livramento, a ação da empresa chinesa é equivocada em termos de bem-estar e saúde mental dos colaboradores.
“Se tem algo de positivo na licença por infelicidade é o fato de admitir que momentos difíceis fazem parte da vida. Porém, em vez de a empresa estar cuidando ativamente para que as pessoas tenham mais bem-estar e felicidade no trabalho e repensar a sua organização do trabalho, as suas políticas, avaliar e capacitar suas lideranças para estarem aptos a cuidar da saúde mental de seus times, e em vez de agir preventivamente, a empresa simplesmente tira a responsabilidade de campo, ficando inteiramente por conta do indivíduo. Claro que essa é uma discussão mais ampla, pois considerando a cultura das empresas chinesas, talvez seja um avanço para eles. Mas está muito longe do ideal, traz intrinsecamente uma visão equivocada de que se retirarmos o que nos gera infelicidade seremos, então, felizes. A ciência da felicidade nos mostra que não é bem assim”, explica Livramento.
Para a especialista, a implementação de benefícios voltados para o bem-estar não apenas melhora a saúde física, mental e emocional dos funcionários, mas também influencia positivamente vários aspectos da organização. Como, por exemplo, a diminuição de absenteísmo, aumento de engajamento no trabalho, fortalecimento da cultura organizacional, aumento da produtividade e maior lucratividade para a companhia.
Colaboradores no Brasil
Um estudo realizado pela Pluxee, em parceria com a The Happiness Index, revelou que os trabalhadores brasileiros estão 9% mais insatisfeitos com o trabalho do que a média global. A pesquisa, que avaliou o nível de felicidade e engajamento de colaboradores em mais de 100 países, ouviu mais de 23 mil profissionais entre fevereiro e março de 2024. De acordo com o levantamento, a média de felicidade no trabalho entre os brasileiros é de 7,2, enquanto a média global é 7,8. O estudo analisou dois principais aspectos: a felicidade, que engloba as condições de trabalho e oportunidades de crescimento, e o engajamento, que mede a conexão dos funcionários com suas funções e empresas. No quesito felicidade, o Brasil está 4% abaixo da média global, e, em termos de engajamento, a diferença aumenta para 10%.
Na contramão dos dados e pensando na felicidade dos colaboradores, a Swile Brasil, empresa de cartão de benefícios corporativos, decidiu mudar a sede de local para a região da Avenida Paulista, em São Paulo, onde 61% dos funcionários conseguirão chegar em menos de uma hora, devido à proximidade com transportes públicos.
“Sem dúvida, mudar a empresa para um local melhor é um fator que pode contribuir para a melhoria do bem-estar dos colaboradores. Entretanto, isto é um dos vários aspectos que contribuem para a saúde mental no trabalho. Não podemos considerar que esta ação sozinha irá ser determinante para uma melhoria na saúde ou na felicidade desses colaboradores”, ressalta a professora da Human SA.