Terceiro disco de canções autorais do grupo traz 12 faixas inspiradas nos mitos populares brasileiros
Já está nas plataformas de streaming, o material do terceiro álbum, “Assombrio: Inventário de Encantados”, do grupo Nhambuzim. Com 11 canções, entre elas 10 de autoria do grupo, o novo disco faz um resgate dos mitos populares presentes no imaginário ancestral brasileiro. São histórias cantadas sobre curupiras, lobisomens, caboclos d´água, matintas-pereiras e sacis, num resgate da cultura popular e de sua oralidade.
“’Assombrio’ é um bestiário musical brasileiro. Queremos homenagear as tradições orais e musicais do Brasil profundo, e também os guardiões míticos da nossa natureza”, afirma Xavier Bartaburu, compositor, pianista e diretor musical do grupo.
De acordo com o cantor e compositor Edson Penha, as canções são fruto não só de pesquisa sobre o folclore brasileiro, mas carregam também histórias ouvidas nos encontros de família e por contadores ao longo da vida: “além do conhecimento literário e acadêmico, tem o empírico, que são as lembranças de tios, de parentes, de histórias que eu escutava na escola quando era criança, que são desse Brasil antigo.”
Inspirados pelo historiador e folclorista potiguar Luís da Câmara Cascudo, os integrantes do Nhambuzim buscaram em seus relatos a fonte para as músicas que tratam dos mitos brasileiros mais conhecidos, mas também de outros menos populares, como quibungo e capelobo.
Xavier salienta a importância de lançar um trabalho que recupere a memória da brasilidade: “Queremos fazer frente à multiplicação de criaturas provenientes de um imaginário importado que não nos pertence – com gnomos, duendes, vampiros e seres do Halloween – e que vem ganhando atenção cada vez maior na nossa sociedade. Está na hora de lembrarmos que o saci existe”.
É por isso que, além das músicas, “Assombrio” traz também relatos orais sobre os encantados colhidos em diversos pontos do país pelos integrantes do grupo – uma indígena Sateré-Mawé do Amazonas, um contador de histórias do Vale do Paraíba, um pajé Guajajara do Maranhão. “São um valioso registro do quanto esses mitos continuam vivos no imaginário rural brasileiro”, afirma Xavier.
“Em cada música procurei inventar, contar uma história diferente, optando por usar linguagens mais antigas, como se fosse um caboclo da época, contador. Trazer o tempo para o relato, para a construção de ideias”, explica Edson. “A gente tenta resgatar esses seres para que eles não morram, não desapareçam e não sejam superados pela urbanidade”, diz.
Para contar essas histórias, o Nhambuzim mergulhou também no universo musical tradicional brasileiro, dando sequência ao trabalho que já vinha realizando em seus outros dois álbuns: “Rosário: canções inspiradas no sertão de Guimarães Rosa” (2008) e o infantil “Bichos de Cá” (2014). Em “Assombrio”, catiras, milongas, marabaixos, sambas de roda e toadas de boi ganham novas releituras com a instrumentação do grupo, que propõe uma mistura entre a tradição e a contemporaneidade.
O grupo Nhambuzim é formado por Aninha Ferrini (voz), Edson Penha (voz), Itamar Pereira (baixo), Joel Teixeira (voz, viola e violão), Rafael Mota (percussão) e Xavier Bartaburu (piano e direção musical).
Sobre o grupo Nhambuzim
Criado na cidade de São Paulo há mais de 20 anos, o grupo Nhambuzim se dedica a mergulhar nas tradições culturais do povo brasileiro e inseri-las num contexto contemporâneo. São dois discos lançados: “Rosário: canções inspiradas no sertão de Guimarães Rosa” (2008) e o infantil “Bichos de Cá” (2014). Este último já soma mais de 1 milhão de streams no Spotify.
O nome do grupo é inspirado no nhambu, ave que, segundo uma lenda indígena, foi criada pela filha da Cobra Grande para separar o dia da noite. No interior do Brasil, o nhambu canta no fim da tarde, avisando que o dia acabou, que é hora de largar o trabalho, hora de festa, hora de cantoria. O nome dado a este momento de festa inspirou o nome do grupo.
Faixas “Assombrio: Inventário de Encantados”
- Como chama? (depoimento de Claudenice Sateré Mawé)
- Zanga (Xavier Bartaburu/Edson Penha) – Curupira
- Faca na Canoa (Xavier Bartaburu/Edson Penha) – Caboclo d´Água
- Na Curva de um Rio de Lá (Xavier Bartaburu/Edson Penha) – Mãe d´Água
- Avoengo (Xavier Bartaburu/Edson Penha) – Quibungo
- Cruz e Prego (Joel Teixeira/Edson Penha) – Capelobo
- Sete (Xavier Bartaburu/Edson Penha) – Lobisomem
- Amavio (Xavier Bartaburu/Edson Penha) – Matita-pereira
- Saci (Guinga/Paulo César Pinheiro) – Saci
- Dé e Bartira (Xavier Bartaburu/Edson Penha) – Boto
- Estrela Guarani (Xavier Bartaburu/Jean Garfunkel) – Negrinho do Pastoreio
- Caim (Xavier Bartaburu/Edson Penha)