Os itapuãzeiros se derramam aqui de amores por este pedaço bonito de mundo
A vida me deu um presente – Por Amadeu Alves, nascido, criado, apaixonado por Itapuã, cantor, compositor, arranjador e diretor musical
Num 31 de maio cheguei ao mundo nessa aldeia repleta de sons, pássaros, árvores, dunas, fontes, frutas, lagoas, e com um mar imenso, com suas ondas, pedras, cores, peixes, jangadas, canoas, saveiros. Nesse dia soprava uma brisa suave, trazendo melodias dos cantos das sereias, dos rituais indígenas, das vozes das lavadeiras, dos pescadores, dos ternos, ranchos e bailes pastoris. Da Marujada, dos Benditos, das rezas, dos sambas de palmas, dos batuques de terreiros.
Assim envolto nessa atmosfera mágica, no mais íntimo aconchego dos braços maternais, ouvindo a divina voz que me ninou nas primeiras horas dessa existência, ficou guardada, em segredo, no baú dos meus tesouros, a luz que me orienta e me faz pulsar sempre em busca da beleza, traduzindo a poesia que a vida vem me oferecendo.
Assim, crescendo nesse recanto dessa cidade, minha aldeia natal, Itapuã, em meio ao povo, com suas festas e tradições, seus mitos, suas lendas, aprendi a ama-la e colocar minhas aptidões, meu talento e inteligência a serviço de um movimento em busca da integração individual e coletiva, interagindo e reconhecendo o valor dos parceiros de jornada, nascidos ou integrados nesse lugar como fonte e potencial de crescimento.
E seguem apaixonados por Itapuã os artistas que cuidam de muitas maneiras deste lugar especial no mundo, gente como Pedrão Abib, Joaquim Carvalho, Seu Régi de Itapuã, Dona Salvadora, Lu Santana, Fabrício Rios, As Morenas de Itapuã, As Ganhadeiras de Itapuã, Anarkas, Adson, Bell Freitas, Letícia Coutinho, Rogério Bambeia, Edvaldo Borges, Fábio Shiva e Lê Menestrel.
Itapuã, Por Pedrão Abib, paulista totalmente itapuãzeiro, cantor, compositor, professor, pesquisador e sambista
Em Itapuã todo mundo estufa o peito pra dizer com orgulho: “Sou Itapuãzeiro” ! Essa frase, ouvida em cada botequim, cada barraca de praia, na orla ou nas entranhas do bairro, nas praças, nas colônias de pesca ou nos diversos movimentos culturais presentes na comunidade, diz muito sobre a identidade e sobre o sentimento de pertencimento das pessoas que nasceram aqui, ou que escolheram Itapuã para viver, como é o meu caso.
Nascido em Mogi das Cruzes-SP, uma bela cidade aos pés da Serra do Itapeti, quando me mudei para a Bahia em 1993, Itapuã foi o primeiro lugar que procurei pra morar. Essa decisão tem a ver, claro, com o encantamento que as músicas de Dorival e Vinícius produziram em mim, desde a tenra idade, mas também por alguma magia que não se explica, que paira sobre esse lugar e que todos sentem, quando chegam por aqui. A gente até brinca que tem um portal imaginário, mais ou menos defronte à estátua da Sereia, no cruzamento da orla com a Av. Dorival Caymmi, que faz com que todos que passam por esse portal, experimentam uma sensação de paz interior, de contemplação e de profunda ligação com a ancestralidade do lugar.
Terra sagrada do povo Tupinambá, Itapuã guarda muitas histórias que a memória oral da comunidade faz questão de preservar com muito respeito e cuidado, a exemplo da Lenda do Abaeté, assim como as histórias do povo negro que aqui chegou, fundando o Quilombo Buraco do Tatu, responsável por uma brava resistência no período da escravidão.
Essa mescla das ancestralidades indígena e negra, faz de Itapuã um lugar muito especial, com uma espiritualidade e ritualidade muito profundas, guardada na memória das ganhadeiras de Itapuã, das lavadeiras do Abaeté, dos pescadores, do povo de santo representado por dezenas de terreiros de religiões de matriz africana, dos blocos afro, dos afoxés e ternos de reis, das rodas de samba, do Bando Anunciador da Festa de Itapuã, das baianas de acarajé, dos capoeiristas, dos ambulantes, feirantes, e todo o povo do lugar que tem um gosto especial pela festa e pela celebração.
Quem experimenta essa sensação de vivenciar todas essas coisas, fica absolutamente tocado e busca cada vez mais se aproximar de Itapuã, se envolver com essa atmosfera festiva e profunda, aprender com os mais velhos e mais velhas, entrar numa roda de samba e soltar seu corpo e sua voz ao som dos atabaques, pandeiros, cavaquinhos e violões. Esse foi o meu caso, e com muito orgulho estufo o peito pra dizer também: “Sou Itapuãnzeiro” ! O mestre Vinícius de Morais disse uma vez que quem mora em Itapuã, fica imprestável pra morar em qualquer outro lugar do mundo. Acho que ele tinha razão. !
E agora algumas das canções compostas para Itapuã:
“Tarde em Itapuã” – Vinícius de Moraes e Toquinho
“Itapuã” – Caetano Veloso
“Rua da Aurora” – Luciano Salvador Bahia (que passou as férias na infância em Itapuã)
“Itapuana” – Arnaldo Antunes
“História de Itapuã” – Seu Regi de Itapuã
“História do Vento” – Joaquim Carvalho
Morenas de Itapuã em “Chorinho pra Sorrir” – Amadeu Alves e Fabrício Rios
“Por onde Cira Anda?” – Amadeu Alves
“Itapuã pelo Mundo a Fora” – Val Paredão com As Morenas de Itapuã