Por Matheus Spiller
Doçura, da escritora baiana Emília Nuñez, é um livro-imagem que traz à tona a importância da formação de leitores desde a infância. A leitura em família aparece como um processo de interação entre adultos e crianças que passa de geração em geração. Tudo com muita leveza, em uma história bonita, que nos convida a pensar a leitura como um ato de semear amor.
A história traça um paralelo entre uma mãe que lê para uma criança desde antes do nascimento, ainda no ventre, e uma mulher que trabalha a terra, plantando sementes. A partir daí, a obra mostra o desenvolvimento da criança que tem esse contato permanente com a leitura, e da árvore que, nascida daquelas sementes, regada e cercada de cuidados, cresce e dá frutos. Todo esse caminho se dá com uma delicadeza narrativa comovente que ganha formas através do belo trabalho da ilustradora mineira Anna Cunha.
“É um livro que homenageia as professoras e as mães que leem com as crianças”, conta Emília Nuñez. A autora considera o trabalho das professoras fundamental para o desenvolvimento do gosto pela leitura desde a infância. “Eu acredito que pra formar um país leitor, a gente tem que ter vontade política. Tem que ter política pública, tanto no sentido da distribuição de livros, formar bibliotecas, acervos…As professoras são fantásticas. Eu fico impressionada com o que elas conseguem desenvolver mesmo com tão poucos recursos. Muitas vezes as professoras compram o livro, compram o material pra utilizar. Isso acontece muito e não deveria acontecer. A gente deveria ter o recurso garantido pra que essas pessoas pudessem levar os livros e a literatura para as crianças”, completa.
A maternidade influenciou profundamente a trajetória da escritora pela literatura infantil. Após o nascimento dos filhos, Emília voltou atenções para o segmento. Desde então, foram 23 livros lançados, sempre tendo as crianças como inspiração. “Eu só me tornei escritora porque eu me tornei mãe. Eu sempre gostei de ler, escrever, sempre criei histórias. Só que ser escritora, como profissão, era algo distante. Mas, quando meus filhos nasceram, eu comecei a ler com eles e me apaixonei, mergulhei nesse universo”, conta.
E o mergulho rendeu muito! Doçura foi o vencedor da categoria infantil do prêmio Jabuti de Literatura 2023 – o maior prêmio literário do Brasil. Um reconhecimento de quem entende ao trabalho das autoras. “É uma premiação que não é só da gente, nem só da Tibi, que é a editora…é dos leitores. Eu tenho ido a escolas pra mostrar às crianças que a literatura é algo importante…elas pegam o Jabuti na mão…então é um livro que tem dado muitas alegrias”, comemora Emília. Além do Jabuti, Doçura ganhou o prêmio de Melhor Livro de Imagem e selo de Altamente Recomendável da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, e também levou o Selo Cátedra 10 da Unesco, pela PUC-Rio.
Doçura deixa mesmo na gente um gosto de inspiração. Dá vontade de ler para e com as crianças. Através das páginas de um livro podemos acessar universos inteiros, experimentar sensações novas, emoções que permeiam aventuras por histórias nossas e de outras pessoas, outros mundos. Aprendemos e ensinamos tomando a literatura como ponto de partida. Doçura, de Emília Nuñez e Anna Cunha, chegou para mostrar que, além de tudo isso, um livro pode ser um ingrediente afetuoso a dar mais sabor à vida.
Cena: A pedido da nossa reportagem, Emília Nuñez indicou autores(as) que merecem uma atenção especial:
Ana Fátima
Flávia Bomfim
Renata Fernandes
Deko Lipe
Marcos Cajé
Alessandro Marimpietri
Ricardo Ishmael