Arquitetura e Formação Superior – Parte Final
O acesso à educação no Brasil colônia era luxo para poucos. As ordens religiosas tinham suas escolas, mas os jesuítas assumiram praticamente todo o sistema, pois eram pagos pela Coroa portuguesa para ministrar as chamadas aulas públicas, voltadas ao ensino do povo. Enquanto os filhos da elite estudavam nos colégios administrados pela Companhia de Jesus, os outros, a maioria, estudavam nas aulas públicas, que se destinavam, exclusivamente, a ensinar a ler, escrever e contar. Mas não se podem contar como parte dessa maioria a população escrava, os colonos pobres e as mulheres. As meninas aprendiam a ler, escrever e contar em casa, quando tinham sorte, ensinadas por suas mães ou por preceptores.

Nos colégios jesuítas, os alunos recebiam uma formação completa, baseada em Gramática, Filosofia, Humanidades e Artes, o que os tornava aptos a continuar seus estudos na Europa, principalmente em Coimbra e em Paris, ou nas aulas de engenharia militar. Após a expulsão dos jesuítas, em 1759, foi criada a Direção Geral, que deveria se encarregar de toda a estrutura educacional, bem como da modernização da educação da elite colonial, tornando-a mais integrada aos projetos da Coroa portuguesa. Na Bahia, o governador D. Rodrigo José de Menezes estabeleceu um Colégio de Educação da Mocidade, que funcionou de 1784 a 1788. Ele mesmo escolheu os professores, e visitava regularmente o Colégio, indo sempre aos exames finais. Com o seu retorno a Portugal, não houve continuidade do funcionamento da instituição (NUNES, 2003). No final do século XVIII, entre 1798 e 1799, havia na capitania da Bahia 25 escolas de primeiras letras, as chamadas Aulas Régias. Para o ensino mais avançado, existiam as Aulas Maiores de Retórica, Filosofia Racional e Língua Grega, que correspondiam ao ensino secundário. Entretanto, muitos jovens não concluíam os estudos porque eram recrutados ao serviço militar, a partir dos doze anos. Não havia continuidade, nem fiscalização do ensino (NUNES, 2003).
Nessa realidade, as aulas para formação dos engenheiros militares foram um ponto fora da curva, pois possibilitaram a jovens, nem sempre de famílias abastadas, uma formação equiparada às das universidades. A Aula Militar da Bahia começou de maneira informal a partir de 1696, mas já em 1700, por Ordem Régia, o militar Antônio Roiz Ribeiro se apresentou para ministrar aulas em Salvador. Grandes profissionais portugueses estiveram na Bahia, atuando como lentes, até a primeira metade do século XVIII e a partir de 1761, brasileiros assumiram as Aulas da Bahia.

As Aulas funcionavam como um curso, teórico e prático, ministrado pelo engenheiro militar responsável pela capitania. Os alunos eram chamados de partidistas, bolsistas que recebiam uma ajuda de custo, e tornavam-se ajudantes desse engenheiro, ou de um engenheiro assistente. O número de partidistas variava de 3 a 12. O tempo de estudo também podia variar, não sendo menor que 3 anos. Tudo funcionava segundo o modelo das Aulas de Lisboa (BUENO, 2003). O que acontecia era uma especialização a depender das necessidades regionais. Aprendia-se um pouco de tudo, mas o cerne da instrução desses jovens era o estudo dos tratados de arquitetura militar, organizados em apostilas com lições teóricas e práticas. O conteúdo programático geral abrangia conhecimentos de Aritmética, Geometria, Trigonometria, fortificação, ataque e defesa das praças, modos de desenhar e artilharia. Admitiam-se de 3 a 12 partidistas, para cursar as aulas, que podiam durar 3, 5 ou 6 anos. Não havia, necessariamente, sala de aula; muitas vezes toda a formação profissional dos partidistas era realizada em canteiros de obras.
Em geral, os engenheiros militares exerciam a função de arruadores e medidores oficiais da Câmara, participando da marcação das novas fundações e dos novos alinhamentos de ruas, largos, praças e edifícios. Esta gama de atividades assumidas pelos engenheiros militares reflete a importância das Aulas numa sociedade escravocrata, cujos senhores abastados não tinham uma preocupação com a instrução de seus filhos, muito menos das outras camadas, seja no ambiente urbano, seja no mundo rural.
O soteropolitano José Antônio Caldas nasceu no ano de 1725 e é considerado um dos maiores engenheiros militares do Brasil. Recebeu uma formação erudita no Colégio de Jesus, que funcionava no Terreiro de Jesus, em Salvador. Em 1745 sentou praça de soldado da Infantaria. Foi aluno do coronel português Manoel Cardoso de Saldanha, que aqui chegou em 1749, destacou-se como professor e como profissional, sendo-lhe atribuído, inclusive, o projeto da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia (OLIVEIRA, 2003). Cardoso de Saldanha foi o grande incentivador de Caldas, que, ainda como partidista das aulas, com ele participou de várias missões, e o indicou ao rei, D. José I, quando ainda era partidista e Cabo de Esquadra, para a tarefa de elaborar levantamentos e desenvolver projetos em São Tomé e outras ilhas do arquipélago.

As Aulas funcionavam como um curso, teórico e prático, ministrado pelo engenheiro militar responsável pela capitania. Os alunos eram chamados de partidistas, bolsistas que recebiam uma ajuda de custo, e tornavam-se ajudantes desse engenheiro, ou de um engenheiro assistente. O número de partidistas variava de 3 a 12. O tempo de estudo também podia variar, não sendo menor que 3 anos. Tudo funcionava segundo o modelo das Aulas de Lisboa (BUENO, 2003). O que acontecia era uma especialização a depender das necessidades regionais. Aprendia-se um pouco de tudo, mas o cerne da instrução desses jovens era o estudo dos tratados de arquitetura militar, organizados em apostilas com lições teóricas e práticas. O conteúdo programático geral abrangia conhecimentos de Aritmética, Geometria, Trigonometria, fortificação, ataque e defesa das praças, modos de desenhar e artilharia. Admitiam-se de 3 a 12 partidistas, para cursar as aulas, que podiam durar 3, 5 ou 6 anos. Não havia, necessariamente, sala de aula; muitas vezes toda a formação profissional dos partidistas era realizada em canteiros de obras.
Em geral, os engenheiros militares exerciam a função de arruadores e medidores oficiais da Câmara, participando da marcação das novas fundações e dos novos alinhamentos de ruas, largos, praças e edifícios. Esta gama de atividades assumidas pelos engenheiros militares reflete a importância das Aulas numa sociedade escravocrata, cujos senhores abastados não tinham uma preocupação com a instrução de seus filhos, muito menos das outras camadas, seja no ambiente urbano, seja no mundo rural.
O soteropolitano José Antônio Caldas nasceu no ano de 1725 e é considerado um dos maiores engenheiros militares do Brasil. Recebeu uma formação erudita no Colégio de Jesus, que funcionava no Terreiro de Jesus, em Salvador. Em 1745 sentou praça de soldado da Infantaria. Foi aluno do coronel português Manoel Cardoso de Saldanha, que aqui chegou em 1749, destacou-se como professor e como profissional, sendo-lhe atribuído, inclusive, o projeto da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia (OLIVEIRA, 2003). Cardoso de Saldanha foi o grande incentivador de Caldas, que, ainda como partidista das aulas, com ele participou de várias missões, e o indicou ao rei, D. José I, quando ainda era partidista e Cabo de Esquadra, para a tarefa de elaborar levantamentos e desenvolver projetos em São Tomé e outras ilhas do arquipélago.
Frontispício de Salvador elaborado por José Antônio Caldas em 1758.
Caldas for engenheiro, professor, escritor, estatístico e medidor das obras urbanas da cidade. Como professor da Aula de Artilharia e Arquitetura Militar da Bahia a partir de 1761, Caldas adotou a metodologia empregada por seu mestre, Cardoso de Saldanha, a qual consistia em organizar os tratados de arquitetura em apostilas, com atividades práticas e teóricas assim distribuídas: os estudos teóricos em três dias por semana; e outros três para o treinamento e aprendizado do desenho (OLIVEIRA, 2003). Para acompanhar o curso, o partidista deveria ter conhecimento prévio de Aritmética e Geometria. O curso completo implicava um grande número de conhecimentos: Aritmética, Álgebra, Geometria Elementar, Trigonometria, Geometria Prática, Longimetria, Altimetria, Planimetria, Stereometria, Geodésia e Pantometria; além das obras de cantaria e alvenaria. O professor ainda ministrava aulas de Geografia, de elaboração de cartas geográficas, topográficas e iconográficas e o projeto de fortificações e obras civis. Em média, o curso da Bahia durava 6 anos.
Os partidistas começavam copiando as estampas dos tratados desses autores a fim de desenvolver as técnicas de representação gráfica adequadas a cada tipo de desenho, como, também, a compreensão da teoria. Chegaram até os nossos dias 46 preciosas pranchas, organizadas em dois cadernos de desenho, elaboradas por 5 alunos de José Antônio Caldas, entre 1778 e 1779. Esses preciosos exemplares nos indicam um programa disciplinar que era cumprido, contendo: Geometria, Trigonometria, teoria das ordens clássicas aplicadas à arquitetura civil e militar e elementos de fortificação. Os partidistas Ignácio Jozé, Joaquim Vieira da Silva, Manuel Antônio Ribeiro, Antônio Mendes e João de Sousa, indicam, em seus estudos, a sólida bagagem teórica que receberam, o que demonstra a sintonia dos estudos baianos com aqueles empregados na Aula Militar da Ribeira, em Lisboa.

e estudos da ordem dórica (AHU, 1006-BA)
Os cadernos de desenho foram enviados ao rei de Portugal, D. José I, para dar conta das atividades desenvolvidas pelos partidistas da Bahia e o nível de comprometimento do professor. Os alunos copiavam, também, gravuras pertencentes aos grandes tratados franceses e holandeses e, claro, aqueles elaborados pelos portugueses, com a técnica a nanquim. Aprendiam, também, a fazer aguadas e tintas. O professor Caldas mantinha-se em contato com outros engenheiros e investia na manutenção de uma pequena, mas atualizada biblioteca. Ele faleceu em Salvador em 1782 e foi enterrado no cemitério da Ordem Terceira do Carmo como Cavalheiro professo da Ordem de Cristo (OLIVEIRA, 2003). Deixou grandes discípulos, que se tornaram mestres da Escola de Artilharia e Arquitetura Militar da Bahia . A sucessão de jovens engenheiros militares baianos é apresentada por Beatriz Bueno (2003): José Ramos de Souza, 1767; João de Souza de Castro, 1777; Antônio Mendes, 1778; Manuel Antonio Ribeiro, 1779; Ignácio Jozé, 1779; Joaquim Vieira da Silva,1779; José Francisco de Souza e José Gonçalves Galeão, 1784; Manoel Rodrigues Teixeira, 1786 e José da Silva Leal, 1795.
REFERÊNCIAS
BUENO, B. P. S. Desenho e Desígnio: o Brasil dos engenheiros militares (1500-1822). 2001. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2003.
NUNES, A. d’A. A educação na Bahia durante os governos de D. Maria I e de D. João, seu filho (1777-1821). Salvador: EDUFBA, 2003.
OLIVEIRA, M. M. de. As fortificações portuguesas de Salvador quando cabeça do Brasil. Salvador: Fundação Gregório de Mattos, 2004.