Por Isa Lopes – correspondente portuguesa

São poucas as palavras para expressar a força motriz de um movimento  como os Filhos de Gandhy.

Para alguém como eu a viver pela primeira vez o Carnaval da Bahia, sentir a magnificência deste movimento de Afoxé, foi de sobremaneira avassalador; em organização, dedicação, orgulho.

Um mar de homens vestidos de branco, com turbantes e contas azuis e brancas começou a inundar a cidade. Vinham de todo o lado; altos, baixos, gordos, magros, negros, brancos, velhos, novos, crianças, todos envergavam a mesma roupa, as mesmas contas, o mesmo turbante.

Todos personalizaram, de algum modo, com orgulho as vestes e contas que utilizavam, e desfilavam pelas ruas com sentido de pertença, com a paz e tranquilidade que rege o movimento que faz este ano 75 anos.

No trio eléctrico, seguiam Caetano Veloso (homenageado neste ano) e Gilberto Gil.

Nas ruas,  o cortejo pela Paz, de forma estonteantemente organizada. Todos sabiam o seu lugar e foram-no ocupando sem pressas, com uma alegria única.

O grupo de instrumentos de precursão, começa a tocar; somos inundados por um som vibrante e forte. Tudo treme…sim tudo treme, o chão treme, o nosso corpo treme, e os cânticos ecoam pelas vozes fortes masculinas, fazendo-nos arrepiar de emoção.

 A felicidade espelha-se nos milhares de homens que dão corpo ao desfile…são pertença da ancestralidade deste movimento com raízes no candomblé afro, e sentem claramente orgulho nisso.

Famílias inteiras, aparecem trajadas a rigor…Avós, pais e filhos pequenos, envergando a água de cheiro de alfazema que vão espregindo para os transeuntes.

O cortejo ganha forma com a ajuda dos Cordeiros da Paz, homens humildes, que seguram cordas ao longo do cortejo, por forma a segurar a multidão que ladeia este manto branco da paz. Também eles sentem orgulho em pertencer ao cortejo…são eles que seguram o mar de gente que tenta entrar…

Com corpos e expressões batidas pela vida, arriscam num sorriso tímido o prazer de fazer parte deste movimento. Não estão engalanados. Envergam uma camiseta com um número, são literalmente cordeiros, que se sacrificam em função de um movimento belo e único no mundo.

Que a paz esteja conosco, agora e sempre!