Queridinho nas academias e acessível na mesa das famílias, o ovo é um dos alimentos mais consumidos do mundo. Mas será que ele é tão bom quanto parece? Ou será que os rumores de que ele faz mal à saúde têm algum fundamento? Vamos desvendar a verdade.
De manhã, no café com pão, ou à noite, em uma refeição rápida e prática, o ovo está presente na rotina de muitas pessoas. Versátil e nutritivo, ele ganhou status de superalimento nos últimos anos, mas também já enfrentou uma longa trajetória de desconfiança. No centro das discussões, o colesterol sempre foi o grande motivo de debate. Mas será que essa má fama ainda se sustenta diante do que sabemos hoje? E será que todos os ovos são iguais? O nutrólogo Dr. Ronan Araujo explica.
Os tipos de ovo: de granja ao orgânico
Antes de falarmos sobre os benefícios e controvérsias do ovo, é importante entender as diferenças entre os tipos mais comuns:
- Ovo de granja ou convencional:
É produzido de forma industrial, com galinhas mantidas em gaiolas, alimentadas com ração e criadas em ambientes fechados. São os mais baratos e amplamente disponíveis.
- Ovo caipira:
As galinhas vivem soltas, ao ar livre, em espaços limitados, com uma alimentação que combina ração vegetal e pastagens. A cor da casca do ovo varia conforme a plumagem da galinha, mas isso não interfere no valor nutricional.
- Ovo orgânico:
Também produzido por galinhas criadas soltas, mas que se alimentam exclusivamente de produtos orgânicos, sem a presença de agrotóxicos ou hormônios. É uma opção mais sustentável, mas também mais cara.
O ovo e o colesterol: uma fama injusta?
Nos anos 1970, o ovo foi acusado de elevar o risco de doenças cardiovasculares, já que um único ovo contém cerca de 185 mg de colesterol — mais da metade do limite diário recomendado na época, de 300 mg. Essa associação direta foi desmentida nas últimas décadas.
“Hoje sabemos que o colesterol alimentar tem um impacto muito menor nos níveis de colesterol no sangue do que se pensava. A maior parte do colesterol presente no organismo é produzido pelo próprio fígado, e o que realmente afeta os níveis de colesterol ruim (LDL) são as gorduras saturadas e trans — não o colesterol ingerido.”. comenta o médico.
Quase 80% do colesterol que o organismo utiliza é endógeno, ou seja, produzido por ele mesmo. Os estudos mostram que o acúmulo de colesterol ruim nas artérias está mais relacionado ao consumo de gorduras saturadas do que ao colesterol exógeno.
Vários estudos reforçam essa visão. Um deles, publicado no periódico Heart, acompanhou meio milhão de chineses por nove anos e constatou que quem consumia um ovo por dia tinha um menor risco de ataque cardíaco e AVC. Outra revisão científica global, liderada pela USP, também confirmou que o consumo regular de ovos (um a cinco por semana) não aumentava o risco cardiovascular.
Um alimento completo e acessível
Seja para o atleta que busca proteínas de alta qualidade ou para quem procura uma alternativa acessível a carnes, o ovo é uma escolha nutritiva. Ele é rico em:
Proteínas de alto valor biológico:
A albumina é a principal proteína do ovo, essencial para a recuperação muscular e o metabolismo.
Vitaminas e minerais essenciais:
Fornece fósforo, zinco e selênio, com propriedades antioxidantes e benefícios para o sistema imunológico.
Gorduras boas:
Contém ácidos graxos como o ômega-9, que ajudam a proteger o coração.
Colina:
Um nutriente fundamental para o cérebro, contribuindo para a memória e cognição.
Luteína e zeaxantina:
Antioxidantes que protegem os olhos contra doenças degenerativas, como a catarata.
Além disso, a vitamina D presente no ovo auxilia na saúde óssea e imunidade, e a riboflavina (vitamina B2) contribui para a oferta de energia.
Como escolher e consumir com segurança
Embora o ovo seja extremamente versátil, é importante consumi-lo de forma saudável. Preparações cozidas ou poché são preferíveis às fritas, que adicionam gorduras desnecessárias. E se você está na dúvida se aquele ovo esquecido na geladeira ainda está bom, há um truque simples: coloque-o em um copo com água. Se ele afundar, está fresco. Se flutuar, jogue fora.
O ovo, definitivamente, não merece a má fama do passado. Para a maioria das pessoas, ele é um alimento seguro, nutritivo e acessível. Acusar o ovo de ser o culpado por problemas cardiovasculares é ignorar décadas de avanços científicos que mostram que sua contribuição para uma dieta equilibrada é valiosa.
“Como em tudo na nutrição, o segredo está no equilíbrio. Consumir um ou dois ovos por dia, como parte de uma alimentação variada, pode trazer inúmeros benefícios para a saúde, sem o risco que um dia foi atribuído a ele. Então, da próxima vez que você pensar no ovo, veja-o como ele é: um dos alimentos mais completos que temos.”. Conclui o Dr. Ronan Araújo.