O universo da publicação são os moradores de rua de Salvador, suas aflições, histórias e sonhos
O projeto Aurora da Rua acaba de lançar a centésima edição de sua revista, que circula há 17 anos circula propagando a realidade dos moradores de rua de Salvador, ampliando o alcance das suas demandas, e constituindo-se em importante fonte de renda e instrumento de reinserção social dos próprios moradores. A revista, que é membro da International Network of Street Papers (rede internacional que reúne publicações congêneres de cerca de 40 países), tem periodicidade bimestral e é vendida nos mais diversos locais: praças, ruas, faculdades, igrejas e escolas. Há ainda um ponto fixo na Estação Rodoviária de Salvador.
“Por cem vezes, nos reunimos para definir pautas que desbravassem o vasto universo das ruas. Por cem vezes, buscamos as histórias, os rostos, os triunfos, as dores – a vida multiangular de quem está à margem. Por cem vezes, compilamos formas, cores, palavras e fotografias, para encontrar a melhor maneira de expressar o invisível aos olhos apáticos da sociedade. Por cem vezes, criamos um produto autêntico que não apenas oferece geração de renda e dignidade para quem vende, mas também expande o olhar daqueles que compram”, depõe a jornalista Iris Queiroz, atual editora da publicação.
Ao longo de sua trajetória, a revista exibe um material jornalístico que é produzido a partir do olhar dos próprios moradores de rua. Por meio de oficinas de texto e de arte, eles participam da elaboração de cada edição: definem pautas e enquadramento de matérias, expõem opiniões, experiências e revelam seus dons artísticos e literários. Além disso, a publicação ultrapassa a simples função de informar para ser transformadora de uma realidade desumana. Os próprios moradores de rua são também os vendedores da revista, treinados e capacitados para as vendas, não só com noções comerciais, mas sobretudo éticas e de relacionamento humano.
História – Antes de ser revista, o projeto Aurora da Rua nasceu como jornal em março de 2007. A preocupação com a imagem estereotipada do povo da rua veiculada na mídia foi uma das alavancas para o peregrino Henrique e demais integrantes da Comunidade da Trindade, localizada em Águas de Meninos, na Cidade Baixa, pensassem em elaborar um veículo que revelasse o outro lado da história: a beleza, a criatividade, o companheirismo e a perseverança que brotam das ruas.
A publicação nasceu e permanece até hoje lastreada por uma dimensão profética, que convoca o leitor a desenvolver uma nova perspectiva do olhar sobre a pessoa em situação de vulnerabilidade, operando, portanto, como um agente de transformação social.